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"Marcha dos vovôs" desafia Maduro em protesto contra crise de saúde

Homem com bengala participa da "Marcha dos Vovôs" contra o presidente Nicolás Maduro, em Caracas, na Venezuela - Francisco Bruzco/Xinhua
Homem com bengala participa da "Marcha dos Vovôs" contra o presidente Nicolás Maduro, em Caracas, na Venezuela Imagem: Francisco Bruzco/Xinhua

Em Caracas

12/05/2017 18h31

A passos lentos, com bengalas ou em cadeiras de rodas, 2.000 aposentados venezuelanos desafiaram nesta sexta-feira (12) as barreiras e o gás de pimenta da polícia em Caracas para exigir ao presidente Nicolás Maduro remédios e um "país melhor" para seus netos.

Convocada pela oposição, a "marcha dos avós", no leste de Caracas e outras cidades do país, tocou em um ponto sensível, a crise na saúde, um dia depois de a ministra Antonieta Caporale ser destituída ao divulgar preocupantes cifras oficiais sobre a piora nesta área.

"Não queremos ditadura, mas uma velhice digna, remédios, comida e liberdade", disse à AFP Lourdes Parra, de 77 anos, que levava uma bandeira venezuelana e um cartaz escrito: "está vovó está enojada e continua de pé por seu país".

A marcha foi bloqueada em uma estratégica avenida da cidade por oficiais com escudos, o que originou um confronto. Um idoso com gorro de Papai Noel gritava: "somos avós, nos deixem passar. Respeitem, caralho!".

12.mai.2017 - Homem participa de protesto de aposentados contra o governo de Nicolás Maduro, em Caracas - Ariana Cubillos/AP - Ariana Cubillos/AP
Homem participa da "Marcha dos Vovôs" em Caracas
Imagem: Ariana Cubillos/AP


Exaltados, alguns homens e mulheres mais velhos lançaram golpes e insultos. "Vai bater em seus pais? Somos um monte de velhos!", gritavam alguns aos policiais, que jogaram gás pimenta para fazer a multidão recuar.

Mas o governo realizava uma concentração de idosos no centro de Caracas, liderada por dirigentes do governo, gritando em apoio a Maduro e ao falecido presidente Hugo Chávez.

"Com Chávez e Maduro, os avós estão seguros", diziam em frente ao palácio presidencial de Miraflores.

O governo reivindica ter outorgado seis milhões de pensões, mas a oposição afirma que foram tomadas pela inflação, que segundo o FMI fecharia este ano em 720%.

Segundo pesquisas privadas, sete em cada 10 venezuelanos rechaçam a gestão de Maduro.

12.mai.2017 - Homem e mulher participam da "Marcha dos Vovôs" com cartaz que diz "Não a mude, obedeça-a", sobre a Constituição, em Caracas, na Venezuela - Christian Veron/Reuters - Christian Veron/Reuters
Homem e mulher participam da "Marcha dos Vovôs" com cartaz que diz "Não a mude, obedeça-a", sobre a Constituição, em Caracas
Imagem: Christian Veron/Reuters

 

"Não tenho remédios"

Os aposentados insistiram em marchar até a sede da Defensoria Pública, mas os protestos opositores, que desde 1º de abril deixam 38 mortos, não conseguiram chegar ao coração da capital, onde está o palácio de Miraflores e as sedes dos poderes públicos.

"Isso é horrível, não têm compaixão nem com os velhinhos", declarou à AFP Sandra Franchi, de 65 anos, que limpava o rosto com um pano para retirar o resto do gás de pimenta.

Com caixas de remédio vazias, Carlos Rivas, de 67 anos, estava na linha de frente da marcha: "não tenho remédios e a aposentadoria não dá para nada", disse à AFP.

Segundo a Federação Médica Venezuelana, os hospitais estão funcionando com apenas 3% dos medicamentos e insumos necessários. A Federação Farmacêutica sustenta que a escassez de medicamentos chega a 85%.

O relatório que provocou a queda da ministra da Saúde revelou esta semana que a mortalidade infantil aumentou 30,12% e a materna 65%, enquanto retornam doenças como a malária.

12.mai.2017 - Mulher segura cartaz escrito "Maduro Assassino" na "Marcha dos Vovôs", em Caracas, na Venezuela - Ariana Cubillos/AP - Ariana Cubillos/AP
Mulher segura cartaz escrito "Maduro Assassino" na "Marcha dos Vovôs", em Caracas
Imagem: Ariana Cubillos/AP

"Um país livre"

Na cadeira de rodas, José Dacre, de 64 anos, disse ter ido ao protesto porque tem a obrigação de "deixar para as crianças um país livre".

Em confrontos cada vez mais duros, os policiais costumam lançar bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água nos jovens manifestantes, encapuzados e com escudos de madeira e metal, que respondem com pedras, coquetéis molotov, bombas de tinta e até de fezes.

Desde que começaram os protestos para exigir a saída de Maduro - eleito até 2019 -, os distúrbios já deixam centenas de feridos e presos, dos quais uma centena foi enviada para a penitenciária por ordem de tribunais militares.

As manifestações exigem eleições gerais e rechaçam uma Assembleia Nacional Constituinte convocada por Maduro em 1º de maio.

Maduro acusa a oposição de declarar uma "insurgência armada" para lhe dar um "golpe de Estado" e disse que para "alcançar a paz" e "derrotar os violentos" impulsiona uma Constituinte "popular", que a oposição considera uma "fraude" para evadir as eleições e se agarrar ao poder.

"Nada, nem ninguém vai nos deter, conseguiremos neutralizar esta emboscada. A Venezuela exige o fim dos protestos violentos, o chamado ao golpe de Estado", advertiu o presidente socialista.

O governo acusa os Estados Unidos e a Organização dos Estados Americanos (OEA) de "apoiar" os "atos de vandalismo da oposição".

A oposição mantém sua agenda de protestos e convocou para sábado caravanas de automóveis, bicicletas, motocicletas e até cavalos em todo o país, e para domingo uma manifestação pelo Dia das Mães.