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Uzbequistão, o reduto do Islã radical na Ásia central que tem feito ataques pelo mundo

Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Bishkek, Quirguistão

01/11/2017 11h23

País de origem do autor do ataque de Nova York, o Uzbequistão viu surgir, a partir da década de 1990, um movimento islâmico radical que se espalha atualmente, com uzbeques envolvidos em vários ataques em todo mundo.

De acordo com diferentes meios de comunicação americanos, o motorista da caminhonete branca que atropelou ciclistas e transeuntes na terça-feira (31) à tarde em Manhattan, matando oito e ferindo 11, é Sayfullo Saipov, um uzbeque de 29 anos que mora em Nova Jersey.

Ele teria visto de residência permanente, o green card, de acordo com o jornal The New York Times, que afirma que já "estava sob o radar" da Polícia.

O presidente do Uzbequistão, Chavkat Mirzioyev, prometeu nesta quarta-feira (1º) "usar todas as suas forças e recursos para ajudar na investigação sobre este ato terrorista".

Ex-URSS de maioria muçulmana

Ex-república soviética, laica e de maioria muçulmana, o Uzbequistão foi dirigido com mão de ferro pelo autoritário Islam Karimov de 1989 até sua morte, em setembro de 2016. Chavkat Mirzioev, seu ex-primeiro-ministro, assumiu as rédeas do país, defendendo uma ruptura com o autoritarismo de seu antecessor.

O movimento islâmico radical surgiu no país em 1991, o ano de sua independência.

O Movimento Islâmico do Uzbequistão (MIO) surgiu em um vale povoado por 12 milhões de habitantes, o Vale de Ferghana, localizado no leste do país, mas que também abrange parte dos territórios do Quirguistão e do Tadjiquistão.

De 1992 a 1997, o MIO foi acusado de estar por trás de uma série de assassinatos cometidos no Vale de Ferghana. A organização tentou introduzir a lei islâmica na região e chegou a lançar uma ofensiva em 2000 no sul do Uzbequistão.

Severamente reprimido a partir de 1998 por Islam Karimov, o MIO se juntou ao Talibã no Afeganistão, antes de jurar lealdade ao grupo Estado Islâmico (EI) em 2015. Vários líderes do MIO também ocuparam altos cargos na Al-Qaeda.

uzbequistão - Mikhail Metzel/AP - Mikhail Metzel/AP
Imagem: Mikhail Metzel/AP

Combatentes no exterior

O Movimento Islâmico do Uzbequistão participou do ataque sangrento no aeroporto paquistanês de Karachi, que matou 37 pessoas em junho de 2014.

Os islamitas uzbeques se fizeram ouvir principalmente no exterior. Como os demais países da Ásia central - Quirguistão, Tadjiquistão, Turcomenistão e Cazaquistão -, as sombrias perspectivas econômicas e a corrupção levaram muitos jovens ao exílio, principalmente na Rússia.

Entre eles, alguns tentaram se juntar a grupos radicais. Segundo os serviços de segurança russos, entre 2.000 e 4.000 cidadãos da Ásia central se uniram às fileiras das organizações extremistas no Iraque e na Síria, seja do EI, seja da facção síria da Al-Qaeda.

E os cidadãos uzbeques, ou aqueles de origem uzbeque que vivem em países vizinhos, formam um dos maiores contingentes. O governo do Uzbequistão nunca publicou números sobre seus cidadãos que se juntaram aos jihadistas, mas as estimativas de especialistas variam de 500 a mais de 1.500.

Muitos deles se fizeram conhecer nos últimos anos. Abdulkadir Masharipov, o suposto autor do ataque reivindicado pelo EI contra uma boate em Istambul, que matou 39 pessoas na véspera do Ano Novo, é de nacionalidade uzbeque.

Apesar de ter nascido no Quirguistão e de possuir nacionalidade russa, Akbarjon Dkhalilov, o suposto autor do atentado no metrô de São Petersburgo que matou 14 pessoas em abril, era etnicamente uzbeque.

Poucos dias após o ataque em São Petersburgo, um uzbeque, que havia manifestado simpatia pelo EI, foi preso pela Polícia sueca depois de dirigir um caminhão contra uma multidão em uma movimentada rua de pedestres em Estocolmo. Cinco pessoas morreram nesse episódio.