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Para os cristãos palestinos em Belém, Trump é o pesadelo do Natal

Cristãos palestinos se apresentam diante da Igreja da Natividade durante as festividades de Natal em Belém - HAZEM BADER/AFP
Cristãos palestinos se apresentam diante da Igreja da Natividade durante as festividades de Natal em Belém Imagem: HAZEM BADER/AFP

Em Belém, Cisjordânia

23/12/2017 12h41

Para os cristãos palestinos de Belém, o presidente dos EUA, Donald Trump, já estragou o Natal. A cidade onde Jesus nasceu, de acordo com o Novo Testamento, se prepara para as festas neste domingo (24) e segunda-feira (25), quando são esperados muitos fiéis na Praça do Presépio para tirar fotos com a árvore de Natal e participar da missa da meia-noite na histórica igreja da Natividade.

Nos bons anos, a cidade se enchia de fiéis e turistas, mas desta vez há poucos visitantes estrangeiros caminhando pelas ruas, cheias de vendedores com gorros de Papai Noel.

O número de peregrinos em Israel e nos Territórios Palestinos havia aumentado acentuadamente em 2017, até que em 6 de dezembro o presidente Donald Trump anunciou a decisão dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.

Desde então, dezenas de grupos cancelaram suas viagens, de acordo com o arcebispo Pierbattista Pizzaballa, um dos mais altos dignitários católicos romanos no Oriente Médio.

Trump 'matou a alegria'

O anúncio de Trump "criou tensões em torno de Jerusalém e desviou a atenção do Natal", lamentou Pizzaballa. O vice-presidente americano planejava visitar Jerusalém e a igreja da Natividade em Belém, mas modificou seu programa e cancelou sua visita aos Territórios Palestinos. Seu giro pelo Oriente Médio foi finalmente adiado, oficialmente por razões internas dos Estados Unidos.

Mas, de acordo com Jane Zalfou, cristã de Belém de 37 anos, o dano já foi causado: Trump "matou a alegria" do Natal. "O que aconteceu não é algo insignificante. Faz muito tempo que os palestinos esperam o reconhecimento de seus direitos", declarou.

Cerca de 50.000 cristãos vivem na Cisjordânia e em Jerusalém, 2% de uma população majoritariamente muçulmana. Muitos deles vivem em Belém e seus arredores.

Os cristãos americanos que apoiam Israel ignoram totalmente a ocupação dos Territórios Palestinos, segundo Mitri Raheb, pastor de uma igreja luterana em Belém. 

Apesar de ser uma cidade sagrada, Belém é palco frequente do conflito entre israelenses e palestinos. O muro de separação construído por Israel é visível em quase toda a cidade.

"Infelizmente, Trump e aqueles que estão com ele sujeitam os cristãos da Palestina à sua agenda política", diz Mitri Raheb. "É como se apunhalassem pelas costas os palestinos em geral e os cristãos palestinos em particular", acrescenta.

"Quem deu esse direito a Trump? É claro que não fomos nós!", indigna-se Georgette Qassis, uma mulher de 65 anos, vestindo um xale azul com o nome de Jesus. "Que vá para o inferno!", conclui.