Topo

Russia se beneficiaria com a morte do ex-espião russo Skripal, dizem analistas

Imagem de vídeo mostra momento em que Sergei Skripal é detido por agentes do serviço secreto em um local não identificado - RTR via Reuters
Imagem de vídeo mostra momento em que Sergei Skripal é detido por agentes do serviço secreto em um local não identificado Imagem: RTR via Reuters

Londres

07/03/2018 17h14

Muitos analistas veem a mão de Moscou na tentativa de assassinato no Reino Unido do ex-espião russo Serguei Skripal e de sua filha, Yulia, ambos hospitalizados em estado grave, após terem sido intoxicados com um agente nervoso.

"Atacar um espião que foi trocado, assim como um membro de sua família, é algo novo", constatou em declarações à AFP Bruce Jones, especialista em Rússia do centro militar britânico de estudos Jane's Defence.

Segundo Jones, as vantagens para Moscou seriam várias: "é a hora de uma punição, uma advertência para os que pensam em trair, e uma maneira de desestabilizar o Reino Unido, muito hostil à Rússia".

Para os críticos do Kremlin e do presidente Vladimir Putin, os motivos estão claros.

"O veneno é o método favorito do FSB", os Serviços Secretos russos, considerou Yuri Felshtinsky, historiador, próximo a Alexander Litvinenko, o ex-agente secreto russo envenenado com polônio em 2006 em Londres, um assassinato "provavelmente" aprovado por Putin, segundo as conclusões de uma investigação oficial britânica.

Os fatos, ocorridos no domingo na cidade inglesa de Salisbury (sudoeste), onde Skripal vivia, constituíram "uma tentativa de assassinato mediante administração de um agente nervoso", disse à imprensa em Londres nesta quarta-feira o comandante da polícia contraterrorista britânica, Mark Rowley.

"No contexto da eleição presidencial russa, leva a marca de um assassinato de Putin. É um aviso ao FSB de que todo traidor será perseguido e assassinado", considerou em declarações reproduzidas pela agência britânica Press Association.

"É também uma advertência a todos os opositores políticos que planejam seriamente desafiar o presidente", sustentou Felshtinsky.

Bill Browder é um gestor de fundos de investimento britânico que promoveu uma lei americana para impor sanções aos russos culpados de violações dos direitos humanos, em resposta à morte de um funcionário seu em uma prisão moscovita em circunstâncias pouco claras.

"Putin faz tudo pelo efeito de demonstração. Precisa aterrorizar todo mundo e não tem que matar todo mundo, basta matar algumas poucas pessoas e deixar muito claro que acontecerá algo terrível se entrarem no caminho" do presidente, explicou Browder à AFP.

Reino Unido vulnerável

Entretanto, para Browder, a questão não está relacionada com as eleições de 18 de março porque Putin "está seguro de sua popularidade".

Bruce Jones considera que o motivo pelo qual o Reino Unido foi escolhido para o ataque é que "está em uma posição vulnerável, alguns duvidam da liderança de Theresa May, o país entra em uma fase crucial do Brexit com um governo fraco".

De acordo com Browder, a razão é a falta de reação britânica ao assassinato de Litvinenko em Londres, em 2006. Dez anos depois, "quando um juiz do Supremo Tribunal (britânico) determinou que se tratava um ataque organizado da Rússia, o governo não fez nada. Esta falta de ação foi um convite a Putin para matar neste país".

Alguns analistas russos também veem a mão do Kremlin. Pavel Felguengauer, analista do jornal "Novaya Gazeta", disse não ter "dúvidas de que quem fez estava seguindo as ordens de Moscou porque ninguém mais poderia estar interessado".

"Entra nas tradições do FSB. Sempre pensaram, e continuam pensando, que devem punir os traidores para manter a disciplina nas fileiras dos serviços de segurança".

Um aventureiro

Outros, no entanto, colocam em dúvida a teoria do envolvimento russo, como Mikhail Liubimov, ex-agente secreto e escritor russo.

"Toda essa história das acusações contra Moscou é uma comédia", declarou Liubimov.

"Quem é Skripal? A quem ele importa? Já foi objeto de um intercâmbio, ou seja, foi anistiado. Se quisessem matá-lo, teriam o matado aqui, mas eles o libertaram", argumentou.

Alexander Golts, um analista militar russo entrevistado pela AFP, acredita que "tampouco devem esquecer que pessoas como Skripal têm um espírito aventureiro, ninguém sabe em que aventura pode ter se metido na Grã-Bretanha".