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Como Putin partiu de origem modesta para liderar uma potência mundial por duas décadas

7.mai.2018 - Vladimir Putin toma posse para seu quarto mandato como presidente da Rússia - Sergei Guneyev, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP
7.mai.2018 - Vladimir Putin toma posse para seu quarto mandato como presidente da Rússia Imagem: Sergei Guneyev, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

Em Moscou

07/05/2018 12h03

Vladimir Putin, ex-agente da KGB que se tornou um dos líderes mundiais, impõe sua autoridade há 18 anos em Moscou, ignorando a oposição, em meio a uma tensão inédita com o Ocidente desde o fim da Guerra Fria.

Putin, 65 anos, prestou juramento nesta segunda-feira (7) com a mão sobre a Constituição para iniciar seu quarto mandato presidencial, conquistado após a vitória na eleição de 18 de março em que obteve mais 76% dos votos. Putin permanecerá no poder até 2024, quando completará 72 anos.

O presidente russo chegou à presidência em 2000, uma década após o fim da União Soviética (URSS). Sucedeu a Boris Yeltsin, de quem herdou um país instável, com economia hesitante e que havia perdido o papel grande potência mundial.

Muitos russos consideram que, graças a Putin, o país recuperou sua grandeza, resultado em parte da arrecadação com combustíveis. Mas os críticos acusam-no de provocar um retrocesso nos direitos humanos e nas liberdades.

No cenário internacional, teve de lidar com quatro presidentes dos Estados Unidos e provocou um novo embate entre Moscou e Ocidente, ao tomar a Crimeia da Ucrânia e, depois, iniciar uma intervenção crucial na Síria para apoiar o regime de Bashar al-Assad.

"Ninguém queria falar conosco, ninguém queria nos ouvir. Nos escutem agora", afirmou aos ocidentais durante um discurso em março.

"Paciente e obstinado"

Putin tenta restaurar a influência da Rússia no mundo, abalada após o fim da União Soviética e os anos caóticos de Boris Yeltsin.

E como ele faz isso? Com uma luta paciente e obstinada, à procura de qualquer sintoma de fragilidade do adversário, explicou o próprio Putin em 2013.

A técnica teve sucesso na Síria, onde a intervenção militar da Rússia desde 2015 em apoio ao regime de Damasco provocou uma mudança no rumo da guerra e permitiu a Bashar al-Assad continuar no poder.

Um ano antes, Putin havia adotado o figurino de restaurador da "grande Rússia" ao anexar a península ucraniana da Crimeia, após sua ocupação pelas tropas russas e um referendo considerado ilegal pela comunidade internacional.

Com esta operação, ele melhorou sua imagem em casa, mas provocou a pior crise desde o fim da Guerra Fria entre os russos e os países ocidentais.

Grande fã de esportes, o presidente russo tentou fazer de seu país uma potência esportiva, o que também gerou uma crise internacional.

A Rússia organizou em 2014 os Jogos Olímpicos de Inverno mais caros da história, na cidade de Sochi e, em 2018, o país receberá o maior evento esportivo do mundo: a Copa do Mundo de futebol.

Mas os sonhos do Kremlin foram ofuscados pelas acusações de um sistema de doping institucional no relatório McLaren en 2016. Moscou nega as acusações com veemência, mas a equipe de atletismo do país foi impedida de disputar os Jogos Olímpicos Rio-2016. Além disso, a Rússia foi excluída dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, no último mês de fevereiro.

Origem modesta

Nascido em 7 de outubro de 1952, em uma família operária que vivia no quarto de um apartamento comunitário de Leningrado (hoje São Petersburgo), nada indicava que Putin acabaria ocupando por tanto tempo o posto mais alto do poder russo.

Formado em Direito, entrou na KGB e atuou como agente de Inteligência exterior. De 1985 a 1990, foi enviado para Dresden, na Alemanha Oriental, um posto modesto.

Depois da queda da URSS, o agente da KGB se reciclou como assessor de Relações Exteriores do novo prefeito liberal de São Petersburgo e, depois disso, iniciou uma ascensão meteórica.

Em 1996, foi requisitado para trabalhar no Kremlin. Em 1998, foi eleito diretor do FSB - que substituiu a KGB como a agência de inteligência do país - e, um ano depois, foi nomeado primeiro-ministro pelo então presidente Boris Yeltsin, que buscava um sucessor capaz de garantir sua segurança após a aposentadoria.

Alguns membros do círculo de Yeltsin acreditavam que poderiam manipulá-lo facilmente, mas Putin já estava decidido a restabelecer a autoridade do Estado, formando um "poder vertical" que dependeria unicamente dele.

Iniciada em outubro de 1999, a guerra da Chechênia estabeleceu o início de sua popularidade na Rússia. Quando Yeltsin renunciou no fim do mesmo ano, Putin já havia imposto seu nome como o novo homem forte do país.

Após ser eleito em 2000, Putin acelerou sua influência no poder, apoiando-se nas "estruturas de força" (serviços secretos, polícia, Exército) e em seus familiares de São Petersburgo.

Putin rapidamente expulsou do jogo político os "oligarcas", empresários que fizeram fortuna se aproveitando das privatizações obscuras dos anos 1990, e prendeu os rebeldes, como o diretor do grupo petroleiro Yukos, Mikhail Khodorkovski, solto em 2013 após dez anos de prisão.

O Kremlin também enquadrou as redes de televisão, que passaram a estar a serviço de Vladimir Putin.

Em 2008, ao se ver limitado a dois mandatos consecutivos pela Constituição, Putin confiou o Kremlin por quatro anos a seu primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, enquanto assumiu o posto de premiê.

Quando, no final de 2011, anunciou sua intenção de voltar à Presidência para um novo mandato, de seis anos, provocou uma onda inédita de protestos.

Uma mobilização que foi perdendo força após sua reeleição em 2012, marcada pela adoção de leis que a oposição chamou de liberticida, assim como pela crescente repressão de qualquer forma de protesto.

Gostos simples

Extremamente discreto em sua vida privada, Vladimir Putin, pai de duas filhas e divorciado desde 2013, gosta de passar a imagem de homem de gostos simples, que leva "uma vida comum", amante "dos romances históricos e da música clássica".

O presidente russo costuma estimular o culto à personalidade, porém, chamando a atenção da mídia, seja por um evento de demonstração de judô, por montar a cavalo sem camisa, ou por apagar um incêndio no comando de um avião Bombardier.