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Mais duas pessoas expostas à agente nervoso são internadas em estado crítico no Reino Unido

O hospital de Salisbury, onde o casal envenenado está internado em estado crítico - Geoff Caddick/AFP
O hospital de Salisbury, onde o casal envenenado está internado em estado crítico Imagem: Geoff Caddick/AFP

Amesbury (Reino Unido)

04/07/2018 11h12

Duas pessoas foram internadas em estado crítico no hospital de Salisbury, após serem expostas ao agente nervoso Novichok em Amesbury, a poucos quilômetros de onde o ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha teriam sido vítimas de uma tentativa de envenenamento com o mesmo agente.

As duas pessoas, um homem e uma mulher, ambos com cerca de 40 anos, foram encontrados inconscientes no sábado 30 de junho. O casal está agora no Hospital do Distrito de Salisbury, que tratou Skripal e sua filha até que os dois recebessem alta.

Os dois pacientes "se encontram em estado crítico", afirmou a polícia.

Em um primeiro momento, as autoridades acreditaram que ambos haviam sido vítimas de uma overdose por heroína, ou por crack, mas após quatro dias a polícia informou que estavam sendo realizados exames adicionais "para estabelecer a natureza da substância que afetou estes pacientes".

Do mesmo modo, os Skripal foram encontrados inconscientes em um banco na rua, perto de um centro comercial, e os primeiros depoimentos mencionaram a possibilidade de que fossem viciados.

Polícia antiterrorista participa de investigação

Um vizinho de 29 anos, Sam Hobson, disse à AFP que era amigo das vítimas e as identificou como Charlie Rowley e Dawn Sturges.

O gabinete da primeira-ministra Theresa May informou que trata o incidente "com a maior seriedade", mas pediu que "deixem a polícia trabalhar".

A força antiterrorista da polícia britânica juntou-se à investigação.

"Dado os recentes acontecimentos em Salisbury (sul), oficiais da rede antiterrorista trabalham em conjunto com colegas da polícia de Wiltshire em relação ao incidente de Amesbury", indicou a polícia em um comunicado.

Simultaneamente, a polícia do condado divulgou uma declaração na qual afirmava que "neste momento ainda não está claro se um crime foi cometido".

"Estamos abertos no que diz respeito às circunstâncias do incidente", indicou a polícia.

Nenhum risco para a população

Vários cordões de segurança foram estabelecidos para isolar as áreas onde as vítimas podem ter passado, e o contingente da polícia está reforçado em Amesbury e Salisbury.

As autoridades fecharam ao público o parque Queen Elizabeth Gardens de Salisbury, de acordo com a rádio local Spire, e a polícia reforçou a presença diante da igreja batista de Amesbury, informou o jornal "The Guardian", porque as autoridades acreditam que as vítimas compareceram a um culto antes de serem encontradas inconscientes.

A agência estatal Public Health  England (PHE) avaliou que o caso "não representa um risco significativo de saúde para o público em geral".

Uma constatação que será, no entanto, "continuamente reavaliada, em função das informações obtidas", afirmou um porta-voz do PHE, citado pela agência Press Association.

Robert Yuill, vereador do condado de Wiltshire, disse à AFP que "a reação é menos intensa" do que no atentado contra os Skripal.

"Não se pode comparar", afirmou.

Natalie Smyth, 27, que mora na mesma zona de Amesbury das vítimas, declarou à AFP que, no sábado, viu "caminhões de bombeiros, ambulâncias, a rua fechada", além de agentes com trajes de proteção contra ameaças bioquímicas.

"Disseram que era um incidente químico e depois que tinha relação com drogas. É muito estranho, este é um lugar muito tranquilo", disse.

O caso Skripal

No dia 4 de março, Serguei e Yulia Skripal foram encontrados inconscientes e levados para um hospital de Salisbury em estado crítico depois de beber uma cerveja em um pub e almoçar em um restaurante italiano. As autoridades concluíram que a dupla foi vítima de uma tentativa de assassinato com um agente nervoso.

Os dois foram tratados durante semanas, recuperaram-se e receberam alta médica.

Londres acusou Moscou de estar por trás do caso Skripal, um ex-coronel do serviço secreto militar russo condenado por traição por repassar segredos para Londres e que se mudou para a Inglaterra após uma troca de espiões.

O Kremlin negou qualquer envolvimento, mas o governo da primeira-ministra britânica, Theresa May, denunciou que o ataque foi cometido com um agente nervoso da variedade "novichok", que é fabricado em laboratórios militares russos, e havia apenas duas opções: que Moscou teria usado, ou perdido, o controle da substância.

O incidente provocou uma crise diplomática entre os dois países e uma onda de expulsões cruzadas de diplomatas por parte do Reino Unido e países aliados, de um lado, e da Rússia, do outro.