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Venezuela vive semana crucial para o confronto entre Guaidó e Maduro

Tanto Juan Guaidó como Nicolás Maduro se consideram os presidentes legítimos da Venezuela - AFP
Tanto Juan Guaidó como Nicolás Maduro se consideram os presidentes legítimos da Venezuela Imagem: AFP

18/02/2019 16h11

A Venezuela entra nesta segunda-feira, sob forte tensão, em uma semana crucial da luta entre o presidente Nicolás Maduro e o opositor Juan Guaidó, que prometeu que fará entrar a todo custo até sábado a ajuda humanitária que o governo bloqueia por considerá-la o começo de uma invasão militar dos Estados Unidos.

Reconhecido como presidente interino por cerca de 50 países, Guaidó está preparando mobilizações em todo o país para acompanhar voluntários que irão à fronteira em caravanas de ônibus em busca de toneladas de remédios e alimentos, armazenados no Brasil, Colômbia e Curaçao.

As remessas de assistência realizadas em aviões militares dos Estados Unidos permanecem nos armazéns da cidade colombiana de Cúcuta, perto da ponte fronteiriça de Tienditas, bloqueada por militares venezuelanos com caminhões e outros obstáculos.

Um segundo centro de armazenamento no Brasil se localiza no estado fronteiriço de Roraima, e nesta terça-feira um avião chegará de Miami a Curaçao com mais ajuda americana, segundo a equipe de Guaidó.

À medida que o sábado se aproxima, Guaidó, chefe da maioria da oposição no Congresso, multiplica suas chamadas para as Forças Armadas, principal apoio de Maduro, para que permitam a passagem da ajuda para o país mergulhado numa terrível crise humanitária.

"O dia 23 de fevereiro terá a oportunidade de salvar a vida de centenas de milhares de venezuelanos", declarou ele na noite de domingo.

No entanto, as Forças Armadas reforçarão a presença nas fronteiras, porque, na opinião de Maduro, a ajuda humanitária não passa de um "show" e o prelúdio de uma ação militar não descartada pelo governo de Donald Trump.

Nesta segunda-feira, cinco anos depois da detenção do líder da oposição Leopoldo López, sob prisão domiciliar, Guaidó agradeceu a ele no Twitter "por ser fundamental para sonhar com uma Venezuela melhor".

"Estamos morrendo"

Guaidó pede que se permita a entrada de ajuda em seu país no dia em que ele completa um mês como autoproclamado presidente interino, depois que o Congresso declarou Maduro "usurpador" por considerar sua reeleição "fraudulenta".

O adversário, de 35 anos, não quis revelar como o cerco imposto por Maduro irá expirar, mas assegura que no sábado haverá uma "avalanche humanitária" e espera que os 600 mil voluntários registrados aumentem para um milhão.

Um dia antes será realizado em Cúcuta um show com artistas internacionais, organizado pelo bilionário britânico Richard Branson para arrecadar 100 milhões de dólares em 60 dias, que se somarão aos 110 milhões já reunidos segundo Guaidó.

Paralelamente, o governo de Nicolás Maduro anunciou nesta segunda-feira um show "pela paz e pela vida" com artistas venezuelanos em 22 e 23 de fevereiro na fronteira da Venezuela com a Colômbia, na ponte Simón Bolívar, que liga San Antonio (Venezuela) e Cúcuta.

"Que a ajuda venha de onde for (...). Estamos morrendo de fome e de falta de remédios", declarou à AFP Rómulo Chinchilla, de 64 anos, em um dos dez acampamentos instalados no domingo por voluntários para oferecer assistência médica.

Nesta segunda-feira, a oposição denunciou que o site de registro de voluntários foi bloqueado pela estatal CANTV, maior provedora de telefonia e internet na Venezuela. A AFP constatou que o site não funciona com esse serviço, mas sim com o de companhias privadas.

Os venezuelanos sofrem com a falta de medicamentos e insumos hospitalares, além de com uma voraz hiperinflação que o FMI projeta em 10.000.000% este ano. Fugindo da crise, cerca de 2,3 milhões (7% da população) emigraram desde 2015, segundo a ONU.

Mas Maduro culpa pela crise as sanções financeiras impostas por Washington, com danos à economia estimados por Caracas em 30 bilhões de dólares.

Para o presidente socialista os carregamentos são "migalhas de comida podre e contaminada".

"Ao mesmo tempo em que o regime fecha a porta à ajuda humanitária, a fecha também para uma saída pacífica à situação política. Esperemos que o bom senso prevaleça entre os que servem de porteiros", opina o analista Benigno Alarcón.

O conflito pela ajuda humanitária sofreu uma escalada em nível internacional. Rússia, China, Turquia, Irã, Cuba e outros aliados de Maduro condenaram a "ingerência" dos Estados Unidos e de outros governos.

No domingo, o governo proibiu a entrada no país de cinco deputados do Grupo do Partido Popular Europeu (PPE) e do sub-secretário geral dessa formação, que pretendiam se reunir com Guaidó e fazer uma nova tentativa de acesso no fim de semana.