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Merkel sobre queda do Muro de Berlim: "Realmente não compreendi o que estava acontecendo"

A chanceler alemã Angela Merkel, em Berlim - Hannibal Hanschke - 10.jul.19/Reuters
A chanceler alemã Angela Merkel, em Berlim Imagem: Hannibal Hanschke - 10.jul.19/Reuters

Em Berlim

04/11/2019 10h41

A noite da queda do Muro de Berlim, 9 de novembro de 1989, Angela Merkel, a atual chanceler da Alemanha, estava, como todas as quintas-feiras à noite, em uma sauna de Berlim Oriental e sonhava em comer ostras no Ocidente.

Merkel, chefe de governo há 14 anos, desfrutava na ocasião de uma das atividades prediletas dos alemães no inverno.

"Nas quintas-feiras, sempre ia à sauna com uma amiga", contou há alguns anos.

Na época, Angela Merkel, que nasceu em Hamburgo mas cresceu na Alemanha Oriental, era física na Academia de Ciências de Berlim Oriental. Com 35 anos e divorciada de seu primeiro marido Ulrich Merkel, ela morava em um apartamento de dois quartos no bairro de Prenzlauer Berg.

Antes de comparecer à sauna naquela noite, ligou para a mãe, que morava a 80 km de Berlim. Ela acabara de ouvir que os alemães do Leste estavam livres para viajar.

O Muro estava começando a cair, mas nas primeiras horas, muito confusas, ninguém acreditava completamente.

"Realmente não compreendi o que estava acontecendo", admitiu a líder conservadora.

Uma brincadeira começou a circular entre a família. Se o Muro caísse um dia, Angela Merkel levaria a mãe para comer ostras no Kempinski, um hotel luxuoso de Berlim Ocidental.

Por telefone, ela advertiu a mãe: "Mamãe, tenha cuidado, hoje está acontecendo algum coisa". Depois de desligar o telefone, seguiu para a sauna.

E enquanto Angela Merkel aproveitava o banho a vapor, a história acelerava. O primeiro ponto de passagem entre Leste e Oeste, próximo do apartamento da futura chanceler, foi aberto.

As pessoas abriam garrafas de bebida para celebrar o fim de um mundo que estava dividido desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Ao voltar para casa, Merkel observou as pessoas caminhando em direção ao ponto de passagem.

"Nunca vou esquecer. Deviam ser 22h30, 23h, talvez um pouco mais tarde", disse.

"Estava sozinha, mas segui a multidão [...] e de repente estávamos do lado ocidental de Berlim", conta.

A então anônima Angela Merkel bebeu sua primeira lata de cerveja da Alemanha Ocidental em um apartamento no qual não conhecia os moradores.

Mas naquela noite histórica, Merkel pensava no despertador que tocaria cedo no dia seguinte e retornou para casa, para não chegar atrasada no trabalho.

Pouco depois, Angela Merkel abandonou para sempre a física e iniciou a carreira política. Em 1990 foi eleita deputada pela União Democrata Cristã (CDU), então liderada pelo chanceler da Reunificação, Helmut Kohl. Em janeiro de 1991 assumiu o primeiro cargo ministerial.

Mas ela não conseguiu cumprir o sonho. "Nunca fui comer ostras no Kempinski com minhã mãe", disse.