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La Paz passa fome e moradores recebem comida enviada de avião por parentes

Manifestantes favoráveis a Evo Morales durante funeral de vítimas de protestos em El Alto, na Bolívia - Aizar Raldes/AFP
Manifestantes favoráveis a Evo Morales durante funeral de vítimas de protestos em El Alto, na Bolívia Imagem: Aizar Raldes/AFP

23/11/2019 21h49

Resumo da notícia

  • Protestos causam desabastecimento na capital da Bolívia e fome começa a espalhar-se
  • Moradores da cidade recebem comida enviada de avião por parentes que vivem em Santa Cruz de La Sierra

A balança indica 41 quilos. Para chegar aos 40 quilos permitidos, Freddy tira um frango de seu pacote. Centenas de pessoas dirigem-se diariamente ao aeroporto de Santa Cruz, na Bolívia, para enviar alimentos a parentes em La Paz, isolada das zonas agrícolas por apoiadores do ex-presidente Evo Morales.

No aeroporto da cidade mais populosa do país, a fila se estende até a calçada, onde a temperatura chega perto dos 40°C. Nada disso incomoda Ninoska Ramírez, que empurra um carrinho com dois isopores contendo cinco quilos de carne. Ela espera embarcar o alimento em um dos 15 voos comerciais que conectam Santa Cruz, motor econômico da Bolívia, a La Paz, capital administrativa do país.

"Meus parentes em La Paz dizem que não há carne, e que, quando encontram, está muito cara. Racionando, acredito que irão aguentar uma semana", comenta.

"Agora estão cobrando sete bolivianos (cerca de um dólar) por quilo", diz Freddy. Para enviar 40 quilos de frango, calcula que gastará cerca de 40 dólares.

A 500 metros dali, Felipe Loayza despacha pacotes para familiares. "É carne e hortaliças para três dias", diz, enquanto aviões se sucedem na pista.

A uma distância de uma hora de voo, 1,7 milhão de habitantes em La Paz e El Alto sofrem há pouco mais de uma semana os efeitos do bloqueio das estradas que levam ao coração agrícola da Bolívia, do qual Santa Cruz é a capital informal.

Em La Paz, o acesso à carne de frango é cada vez mais difícil, assim como à carne de vaca e a laticínios, que costumam chegar por via terrestre de Santa Cruz, que produz 70% dos alimentos consumidos na Bolívia. O bloqueio de uma refinaria próxima a La Paz também provocou escassez de gasolina.

'Pacificar o país'

Em uma tentativa de aliviar La Paz, o governo da presidente interina, Jeanine Áñez, anunciou na semana passada que irá enviar àquela cidade um carregamento de toneladas de alimentos.

A Câmara Agrícola do Leste, que cobre o departamento de Santa Cruz, diz que "tentará limitar o dano causado pelos bloqueios" despachando por via aérea cerca de 300 toneladas de alimentos por dia a La Paz.

Os apoiadores de Morales que bloqueiam as estradas exigem a saída da presidente, que tomou as rédeas da Bolívia há 10 dias. Para eles, Morales foi vítima de um golpe de Estado, e os apoiadores criticam o governo interino pelo uso da força para "reprimir os manifestantes". Desde as eleições presidenciais de 20 de outubro, 32 pessoas morreram de forma violenta.

Santa Cruz sempre olhou para La Paz com suspeita, inclusive com desconfiança. Quando Morales reclamou a vitória no primeiro turno, a cidade foi o epicentro do protesto que levou o presidente a renunciar três semanas depois.