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Apoiadores de Evo Morales se entrincheiram em zona cocalera da Bolívia

Apoiadores do ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, fazem manifestação em Cochabamba - Mitra Taj/Reuters
Apoiadores do ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, fazem manifestação em Cochabamba Imagem: Mitra Taj/Reuters

26/11/2019 20h02

La Paz, 26 Nov 2019 (AFP) — O último reduto opositor ao governo provisório da Bolívia se mantinha nesta terça-feira com um bloqueio de estradas na região cocalera que continua reconhecendo Evo Morales como seu presidente, enquanto o Ministério Público emitia ordens de prisão contra várias importantes figuras do governo anterior.

Os bloqueios viários dirigidos por "um pequeno setor radical" de camponeses cocaleros que têm em seu poder "alguns 250 quilômetros bloqueados", disse Andrónico Rodríguez, de 29 anos, vice-presidente dos sindicatos cocaleros de Chapare e considerado por muitos como sucessor de Morales.

Os cocaleros, que continuam reconhecendo como presidente da Bolívia o "irmão Evo" e pedem a saída da presidente interina, Jeanine Áñez, são "um setor radical que vai nos custar fazer entender que devem suspender" o bloqueio, disse Rodríguez a jornalistas.

Apesar de próximo a Morales, o jovem dirigente se distancia desses grupos e diz que quer "pacificar o país".

Tentando reduzir os conflitos, o ministro do Interior, Arturo Murillo, conseguiu na noite de segunda-feira um acordo com alguns sindicatos de camponeses e operários.

Dois dos oito pontos assinados comprometem o governo a dar garantias às organizações sociais e formar uma comissão para libertar os detidos nos protestos.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, saudou, por meio de seu porta-voz, "os avanços positivos (...) para uma solução pacífica e democrática da crise na Bolívia".

Enquanto o país tenta, desde segunda-feira, voltar à rotina, o trecho da estrada que une Santa Cruz (leste) a Cochabamba (centro) continuava interrompido, segundo a estatal Autoridade Boliviana de Rodovias (ABC, na sigla em espanhol).

"Existem setores radicais que estão danificando a Rede Viária Fundamental que une ocidente ao oriente, (...) impedindo o trânsito de aproximadamente 6.000 caminhões que estão em Santa Cruz", a rica região agrícola no leste do país, protestou o principal dirigente do sindicato de caminhoneiros, Gustavo Rivadeneira.

A maioria dos seis sindicatos de cocaleros do Chapare, onde Morales construiu sua carreira política até chegar ao poder em 2006, pactuou com as autoridades a suspensão dos protestos, mas um setor não reconheceu o acordo e pediu justiça para nove companheiros mortos em uma operação militar-policial na região.

A defensora pública da região, Nadia Cruz, afirmou: "nem esquecimento nem perdão, justiça", enquanto um grupo de pessoas gritava a mesma frase em coro.

Um outro grupo, que apoia governo interino, ocupou temporariamente o escritório central desse órgão público encarregado de proteger os direitos bolivianos, em La Paz, pedindo a demissão de Cruz.

Ordens de detenção

Alinhado à promessa de "impunidade para ninguém" de Áñez, a procuradoria boliviana ordenou a detenção de várias autoridades do governo anterior.

Após a detenção no final de semana de Gerardo García, vice-presidente do Movimento Ao Socialismo (MAS), o partido de Morales, na segunda-feira foi emitida uma "ordem de apreensão" contra o ex-ministro da presidência Juan Ramón Quintana, homem forte do ex-presidente, por sedição e terrorismo.

Quintana disse que a Bolívia viraria "um grande campo de batalha, um Vietnã moderno" se o presidente fosse destituído. Depois que militares e a Polícia retiraram seu apoio ao governo em meio a grandes protestos, Morales renunciou em 10 de novembro e foi asilado no México dois dias depois.

O novo ministro do Interior, Arturo Murillo, pediu a "caçada de Juan Ramón Quintana", que considerou "um animal que está matando gente". Além dele, estão sendo procurados pela justiça a ex-ministra de Culturas Vilma Alanoca por "instigação ao crime" e o irmão do vice-presidente Álvaro García, entre outros.

A chanceler Karen Longaric disse que 20 bolivianos estão "asilados" na embaixada do México e que quatro deles têm ordem de detenção, entre eles Quintana e Alanoca.

Longaric designou nesta terça o novo embaixador nos Estados Unidos, após 11 anos de ausência devido a expulsão dos representantes diplomáticos durante uma forte crisis entre La Paz e Washington.

"#Hoje chanceler @KarenLongaric empossou o novo Embaixador Extraordinário com Representação Plenipotenciária junto ao Governo dos Estados Unidos da América, Walter Oscar Serrate Cuellar".

A nomeação precisa ser aprovada pelo Congresso, controlado pelo partido de Evo Morales, que em 2008 expulsou o embaixador americano Philip Goldberg.

O Congresso, enquanto isso, tenta aprovar o regulamento da nova lei de convocação das eleições para designar o novo tribunal eleitoral que guiará as próximas eleições - ainda sem data - pactuados entre o governo e a oposição para avançar em um processo de pacificação do país.

Nesta terça-feira, dois candidatos anteciparam suas postulações: o ex-presidente Carlos Mesa e o coreano-boliviano Chi Hyung Chung, segundo e terceiro colocados nas eleições (anuladas) de outubro.

O líder civil de direita Luis Fernando Camacho, figura central na queda de Morales, condicionou sua candidatura a uma fórmula única que o apoie.

Um mês de conflitos deixou 33 mortos e centenas de feridos.