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Wuhan, epicentro do coronavírus, é isolada para conter disseminação

22.jan.2020 - Funcionário de cassino em Macau mede temperatura de uma mulher antes de sua entrada no prédio - Anthony Wallace/AFP
22.jan.2020 - Funcionário de cassino em Macau mede temperatura de uma mulher antes de sua entrada no prédio Imagem: Anthony Wallace/AFP

Pequim

22/01/2020 15h15

Uma cidade interditada e temerosa. A metrópole de Wuhan, situada na China central, com 11 milhões de habitantes, é considerada o local de origem do novo coronavírus - que já provocou 17 mortes no país - e se isola do mundo com o objetivo de conter uma epidemia.

A grande maioria dos 440 casos de contaminação deste novo vírus, que pertence a mesma família da Sars, foram registrados nessa cidade construída às margens do rio Yangtsé.

A epidemia foi detectada pela primeira vez no último mês, em um mercado de frutos do mar localizado na cidade. Desde então, 17 pessoas morreram e os cientistas temem uma possível mutação e propagação desenfreada do vírus.

Após terem ignorado a doença por semanas, nós últimos dias, os habitantes de Wuhan começaram a usar máscaras de proteção, como contaram por telefone vários moradores do local à AFP.

"O medo realmente aumentou desde a última segunda-feira (21), quando informaram que o contágio acontece de forma direta entre pessoas", relata Melissa Santos, uma estudante dominicana que vive em Wuhan há pouco mais de dois anos.

Em um primeiro momento, as autoridades afirmaram que o vírus parecia ser transmitido apenas de animais para o ser humano e que não havia contaminação entre humanos.

Charly Bonnassie, um estudante francês que embarcou em um trem vindo de Wuhan, contou que "100% dos passageiros e dos funcionários" usavam máscaras.

"Não há mais máscaras disponíveis nas farmácias, todas sumiram", disse Vincent Lemarié, um professor de francês que leciona na Universidade de Hubei, a província de Wuhan.

Raposas, crocodilos e lobos

As autoridades se preocupam pelo risco de contaminação a poucos dias de um grande feriado local, quando milhões de chineses viajarão.

"Caso não seja necessário, aconselhamos que não venham a Wuhan", informou o prefeito da cidade, Zu Xianwang, em comunicado veiculado na televisão.

Em uma entrevista coletiva em Pequim, o vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde da China, Li Bin, sugeriu que os moradores não saíssem da cidade.

Detectores de febre foram instalados nas estações de embarque e no aeroporto. Nas estradas, a temperatura corporal é medida pelos postos de controle, e para sair da cidade o transporte não pode ser feito de carro.

A polícia também controla a presença de animais selvagens e aves nos veículos que entram e saem da cidade.

No mercado onde surgiu a epidemia eram vendidos animais selvagens, comentou hoje o diretor do Centro Nacional de Controle e Prevenção de Doenças, Gao Fu. Ele não informou, no entanto, se esses animais seriam a origem da infecção.

O local de comércio, principalmente voltado para a pesca, mantém uma seleção variada de mercadorias, como lobos e civetas, segundo informações divulgadas pela mídia chinesa.

Circula nas redes sociais chinesas uma lista de preços contendo vários animais e produtos variados, como raposas, crocodilos, lobos, salamandras gigantes, cobras, ratos, pavões e porco-espinho, podendo chegar a 112 tipos de animais.

"Recém-cortados, congelados e entregues em sua casa", podia-se ler no cartaz.

Sem festividades

Para evitar qualquer concentração de pessoas, as autoridades anularam as comemorações previstas para o feriado, no qual é comemorado o Ano Novo chinês, marcado para o próximo 25 de janeiro.

O famoso templo budista Guiyuan, que no último ano reuniu um público de 700 mil pessoas para a ocasião, teve que cancelar o evento.

Cerca de 30 mil pessoas já tinham reservado os seus ingressos e outros 200 mil foram distribuídos de forma gratuita.

As autoridades também proibiram qualquer espetáculo e fecharam o museu.

O prefeito, criticado por ter organizado no último final de semana um banquete no qual recebeu 40 mil famílias, teve que explicar que desconhecia o tamanho da epidemia.

"As pessoas estão um pouco preocupadas", diz Melissa Santos.

"Um amigo que tinha me convidado para passar o Ano Novo com ele em outra cidade da província de Hubei preferiu cancelar a festa", explica.

"Ele tem medo de se contaminar. Particularmente, eu também prefiro cancelar minha viagem para evitar encontrar com pessoas infectadas no trem", acrescenta.