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Médico que tratou primeiro caso de covid-19 nos EUA teme segunda onda

28.abr.2020 - Estátua da "Fearless Girl", em Nova York (EUA), usa máscara para se "proteger" do novo coronavírus - Rob Kim/Getty Images
28.abr.2020 - Estátua da 'Fearless Girl', em Nova York (EUA), usa máscara para se 'proteger' do novo coronavírus Imagem: Rob Kim/Getty Images

05/05/2020 00h15

Washington, 5 Mai 2020 (AFP) - O médico que tratou o primeiro paciente em recuperação de covid-19 nos Estados Unidos disse nesta segunda-feira (4) que teme um segundo surto da doença quando as medidas de contenção são levantadas.

George Díaz tratou o caso número um do novo coronavírus no país, diagnosticado em janeiro no estado de Washington e tratado com remdesivir, um remédio que a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos autorizou na sexta-feira para uso emergencial.

Para este infectologista, é encorajador ter esse antiviral, mas ele enfatizou que o isolamento para evitar o contágio ainda é o tratamento "mais eficaz" contra a COVID-19 por enquanto.

E ele não escondeu sua preocupação com a pandemia diante da diminuição das restrições para conter o vírus, que colocou o planeta na pior recessão desde a Grande Depressão, quase um século atrás.

"O que me preocupa é que, quando a economia começar a reabrir, veremos um segundo surto que talvez seja tão grande quanto o primeiro, e o primeiro foi muito difícil para nós e para todos", disse Díaz para a imprensa durante uma videoconferência organizada pelo Departamento de Estado.

"E mais do que tudo, estou preocupado por não saber se teremos os recursos para lidar com um segundo surto", acrescentou.

Quase 250.000 pessoas morreram com o novo coronavírus em todo o mundo desde seu surgimento na China no final do ano passado.

Mais de 68.000 morreram nos Estados Unidos, o país mais afetado, que nas últimas seis semanas registrou 30 milhões de desempregados.

Pode-se voltar ao trabalho confiante de que já existe uma terapia para a COVID-19?

"Felizmente, parece que temos um agente em nosso arsenal contra a COVID-19, mas precisamos usá-lo com muita cautela. Isso não deve ser usado como muleta para as pessoas dizerem: 'Agora eu posso fazer o que eu quiser, porque temos um tratamento'", enfatizou Diaz, que contribuiu com os estudos do laboratório Gilead para testar a eficácia do remdesivir no tratamento do coronavírus.

"As diretrizes que orientam o distanciamento social devem ser seguidas, porque esse é o tratamento mais eficaz que temos para a COVID-19 no momento", declarou.

- Recuperado -Como infectologista no Providence Medical Center, em Everett, norte de Seattle, Díaz estava responsável pelo tratamento de um homem de 35 anos diagnosticado com o novo coronavírus em 20 de janeiro, depois de retornar de Wuhan, a cidade chinesa onde a pandemia surgiu.

Díaz disse que o paciente chegou ao pronto-socorro com febre, tosse, fadiga e diarreia.

Em poucos dias, ele desenvolveu pneumonia e, em consulta com a agência federal, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), decidiu tratá-lo com remdesivir.

O medicamento havia sido desenvolvido para tratar o vírus Ebola, uma febre hemorrágica contra a qual não teve muito sucesso.

Até então, não havia sido usado para COVID-19, mas era benéfico para esse paciente, que recebeu alta em 3 de fevereiro.

"Desde então, está muito bem e não há sequelas aparentes da infecção", disse Diaz, observando que a droga, que até agora só se mostrou eficaz em pessoas com pneumonia grave, reduziu o tempo de recuperação.

"Espero que, após uma análise mais aprofundada, especialmente em relação à (redução da) mortalidade, a FDA possa autorizar este medicamento para uso geral", afirmou.

Entre os efeitos colaterais, ele mencionou náusea e, em menor grau, alterações nos rins e no fígado, mas observou que o tratamento só precisava ser interrompido por razões renais em idosos.

"Esperamos ter a vacina dentro de um ano", disse o médico.

"Enquanto isso, é importante encontrar alguma terapia e parece que o remdesivir funciona contra o vírus", concluiu.