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China alerta para 'nova Guerra Fria' com os EUA por pandemia do coronavírus

Teste positivo de coronavírus em frente à bandeira dos Estados Unidos (EUA) - Mehmet Emin Menguarslan / Anadolu Agency
Teste positivo de coronavírus em frente à bandeira dos Estados Unidos (EUA) Imagem: Mehmet Emin Menguarslan / Anadolu Agency

Em Pequim (China)

24/05/2020 15h38

A China alertou hoje que suas relações com os Estados Unidos estão "à beira de uma nova Guerra Fria", prejudicadas ainda mais pela pandemia do novo coronavírus, que avança rapidamente na América Latina.

A pandemia, que já causou mais de 342.000 mortes e mais de 5,3 milhões de infectados em todo o mundo, ofuscava hoje a festa do Eid al-Fitr, que marca o fim do Ramadã para os muçulmanos.

A crise da saúde exacerbou as relações já tensas entre a China e os Estados Unidos, e as duas potências continuam a lançar ataques verbais.

Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, disse que Washington se infectou com um "vírus político" que aproveita "todas as oportunidades para atacar e difamar a China".

"Algumas forças políticas nos Estados Unidos estão fazendo as relações entre China e Estados Unidos como reféns e levando nossos dois países à beira de uma nova Guerra Fria", disse o chanceler a repórteres.

Wang também acusou os políticos americanos de "espalhar boatos" para "estigmatizar a China", onde o novo coronavírus surgiu no final do ano passado.

No entanto, o ministro garantiu que o seu país está "aberto" à cooperação internacional para identificar a origem do vírus mortal.

Essa cooperação deve ser "profissional, justa e construtiva" e sem "interferência política", enfatizou.

Nas últimas semanas, o presidente americano, Donald Trump, acusou repetidamente as autoridades chinesas de terem demorado para comunicar dados cruciais sobre a gravidade da doença.

Os Estados Unidos são de longe o país mais atingido pela covid-19, com 1,6 milhão de casos e 97.000 mortes. No entanto, o estado de Nova York, foco da epidemia, registrou 84 mortes nas últimas 24 horas, o número mais baixo desde 24 de março, anunciou o governador Andrew Cuomo.

Trump, que quer flexibilizar o confinamento e reativar a economia, fez um gesto ontem para marcar um retorno à normalidade e foi jogar golfe em seu clube na Virgínia, perto de Washington, pela primeira vez desde 8 de março.

Futebol, turistas e missas

Na Europa, os países avançam cautelosamente no desconfinamento. O continente, que ultrapassou dois milhões de infectados, continua sendo o mais enlutado por esta pandemia, com mais de 173.500 mortes.

O governo espanhol anunciou o retorno da Liga de Futebol em 8 de junho e, a partir de julho, turistas estrangeiros poderão viajar para o país. A Itália também abrirá suas fronteiras aos turistas estrangeiros em 3 de junho.

A abertura de fronteiras é crucial para a Espanha, o segundo destino turístico do mundo, onde o setor representa 12% do PIB. Madri e Barcelona poderão reabrir bares, museus e hotéis a partir de amanhã.

"A parte mais difícil já passou (...) a grande onda da pandemia foi superada", assegurou o chefe do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez.

Na França, outro país gravemente atingido pela covid-19, as igrejas reabriram suas portas neste domingo.

Depois da Grécia e da França, o governo italiano autorizou seus cidadãos no sábado a ir às praias, mas apenas passear ou tomar banho, sem poder tomar sol na areia.

O epicentro

Enquanto a Europa se recupera, os tremores desse terremoto sanitário continuam a abalar os países da América Latina. A região, que se tornou o "novo epicentro" da covid-19, segundo a OMS, está no auge da pandemia.

Em toda a América Latina morreram mais de 39.000 pessoas e foram registrados 715.500 casos, segundo a contagem da AFP feita hoje.

O Brasil, com mais de 347.000 casos e 22.000 mortes, é de longe o mais punido da região e já ultrapassou a Rússia como o segundo país com o maior número de infecções, atrás apenas dos Estados Unidos.

O presidente Jair Bolsonaro protagonizou uma nova polêmica quando um vídeo de seu gabinete foi revelado e no qual a pandemia mal é mencionada.

Cheio de obscenidades, insultos, reclamações e declarações potencialmente incriminatórias, o vídeo causou indignação no gigante sul-americano, onde muitos questionam a gestão do governo da crise.

Nesse contexto, os EUA se preparam para anunciar a proibição das viagens vindas do Brasil, disse hoje um assessor de Trump, como já o fez com a China, Europa e Reino Unido.

O México, o segundo país da região com maior número de mortes, registrou até este sábado 65.856 casos confirmados e 7.179 óbitos.

Na Argentina, a aceleração das infecções, que em Buenos Aires aumentou cinco vezes nas últimas duas semanas, levou o presidente Alberto Fernández a estender o isolamento social obrigatório até 7 de junho.

Na Bolívia, o departamento amazônico de Beni, na fronteira com o Brasil, foi declarado em "desastre de saúde" após um aumento exponencial das infecções e mortes.

No Peru, o segundo país da região em infecções (115.754) e o terceiro em mortes (3.300), o governo estendeu o confinamento obrigatório até 30 de junho, embora tenha autorizado a retomada de alguns serviços em domicílio.

No Chile, que contabiliza 65.393 casos e 673 mortos, multiplicam-se os protestos em comunidades pobres de Santiago contra a pouca ou nenhuma ajuda do governo, a falta de comida e o desemprego.

A Costa Rica, que não adotou confinamento obrigatório, luta para manter sua "frágil conquista" de poucos contágios com "disciplina", disse o presidente Carlos Alvarado à AFP.

Por sua vez, o Equador anunciou que retomará os voos comerciais locais e internacionais a partir do dia 1º de junho, suspensos desde março.

Fim do Ramadã

Os muçulmanos comemoram neste domingo o fim do mês de jejum do Ramadã, marcado em muitos países por restrições.

No Paquistão, desconsiderando as recomendações de distanciamento físico, os muçulmanos correram aos mercados para fazer compras antes do Eid al-Fitr, uma das festas mais importantes do calendário muçulmano.

"Por mais de dois meses, meus filhos ficaram confinados em casa", disse Ishrat Jahan à AFP em um mercado de Rawalpindi.

"Esta festa é para as crianças e se elas não podem comemorar com roupas novas, não faz sentido trabalhar tanto o ano todo", acrescentou.

Vários países como Egito, Iraque, Turquia e Síria proibiram orações coletivas por medo da propagação do coronavírus.

Lar dos locais mais sagrados do Islã, a Arábia Saudita impôs um toque de recolher de cinco dias desde sábado.

O Irã, com o maior número de mortes pela pandemia no Oriente Médio, pediu a seus cidadãos que evitem viajar durante o Eid, que deve ocorrer na segunda-feira neste país predominantemente xiita, assim como para a comunidade xiita do Iraque.