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Flórida: no centro da pandemia e da batalha pela reabertura das escolas

Moradores da Flórida (EUA) fazem fila para entrar em restaurante em Miami Beach, na Ocean Drive - Chandan Khanna/AFP
Moradores da Flórida (EUA) fazem fila para entrar em restaurante em Miami Beach, na Ocean Drive Imagem: Chandan Khanna/AFP

Da AFP, em Washington

17/07/2020 09h54

A Flórida é o novo epicentro da pandemia de coronavírus nos Estados Unidos e se apresenta como um campo de batalha crucial na disputa política do país pela reabertura de escolas no outono boreal (primavera no Brasil).

Enquanto cidades como Houston, Los Angeles e Nova York planejam iniciar o ano escolar virtualmente, ou de forma restrita, o governador da Flórida, Ron DeSantis, insiste em que as escolas reabram totalmente em agosto.

A demanda do governador republicano reflete a do presidente Donald Trump, que enfrenta uma dura batalha de reeleição em novembro e pressiona para que as escolas reabram, como um sinal de um retorno à normalidade no país.

Trump, que aparece atrás do democrata Joe Biden nas pesquisas de intenção de voto para a eleição em novembro, ameaçou cortar fundos federais para as escolas que se negarem a abrir as portas.

De acordo com uma pesquisa do Yahoo News/YouGov divulgada na quinta-feira, 63% dos americanos disseram que Trump não deveria pressionar as escolas a reabrirem, enquanto 25% concordaram com sua iniciativa.

Para 95% dos democratas e 58% dos republicanos entrevistados, a reabertura das escolas deve ser deixada para trás em relação aos imperativos de saúde pública.

Trump e DeSantis exercem muita pressão em uma disputa que os mantêm em conflito com sindicatos de professores, médicos especialistas e com vários pais que hesitam em enviar seus filhos de volta à sala de aula por razões de segurança.

As autoridades estaduais e locais têm a última palavra quando se trata de seus distritos escolares.

O distrito escolar de Houston, que conta com mais de 200.000 estudantes, planeja começar o ano letivo virtualmente em 8 de setembro, e as aulas presenciais, em 19 de outubro. Este calendário está "sujeito a mudanças, segundo as condições da COVID-19".

Já o distrito escolar de Los Angeles, com 700.000 estudantes, anunciou que as aulas serão apenas on-line até novo aviso.

Na cidade de Nova York, que conta com o maior sistema de escolas públicas do país, com 1,1 milhão de estudantes, o prefeito Bill de Blasio disse que a presença em sala de aula será limitada a um, ou três, dias por semana.

Outras grandes cidades, como Chicago e Washington, mantêm a incerteza e ainda não anunciaram planos para o próximo semestre.

"Risco baixo"

O governador DeSantis observa que o risco de crianças contraírem a covid-19 é baixo.

"Estou realmente impressionado com o quanto as pessoas com menos de 18 anos têm baixo risco nisso", afirmou.

"Felizmente, nossos alunos correm pouco perigo", insistiu.

Apenas cerca de 5% dos casos identificados de COVID-19 são crianças, e 90% deles não desenvolvem sintomas, ou têm apenas sintomas leves.

O esforço de DeSantis para reabrir as escolas ocorre no momento em que a Flórida surge como o epicentro do surto de coronavírus nos Estados Unidos.

Esse estado do sul dos EUA registrou um recorde de 156 mortes por COVID-19 na quinta-feira e quase 14.000 novas infecções.

O número total de casos de coronavírus no estado agora ultrapassa 315.000, com 4.782 óbitos, conforme informações do Departamento de Saúde local.

No momento, a Flórida registra mais casos do novo coronavírus em 24 horas do que qualquer outro estado do território.

Na sequência, vêm Califórnia e Texas, com aproximadamente 10.000 novos casos por dia cada um.

Mesmo diante desse quadro, DeSantis não seguiu o exemplo da Califórnia e do Texas, com a imposição de novos fechamentos, ou a obrigatoriedade do uso de máscara em espaços fechados.

Os casos de covid-19 aumentaram nos Estados Unidos, particularmente nos estados que foram os primeiros a "reabrir" e a suspender as restrições adotadas para conter a propagação da pandemia.

O total de infecções passou de 3,5 milhões, com 138.201 mortes registradas, aponta a Universidade Johns Hopkins, o que coloca os EUA como o país mais atingido no mundo pelo vírus até agora.

Em um relatório divulgado na quarta-feira, as Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina disseram que os distritos escolares "deveriam pesar os riscos de saúde relativos à reabertura com os riscos educacionais de não proporcionar instrução presencial no outono (boreal) de 2020".

"Dada a importância da interação pessoal para o aprendizado e o desenvolvimento, os distritos deveriam priorizar a reabertura com ênfase em oferecer instrução presencial em tempo integral nos graus K-5 [do jardim de infância ao 5o ano] e para os estudantes com necessidades especiais", completa o texto.