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Confira as aspirantes a compor a chapa democrata de Biden à Casa Branca

A senadora democrata Kamala Harris, em Washington - Yuri Gripas/Reuters
A senadora democrata Kamala Harris, em Washington Imagem: Yuri Gripas/Reuters

02/08/2020 11h50

A iminente escolha de Joe Biden pela companheira de chapa para desafiar Donald Trump em 3 de novembro gerou uma especulação sobre os nomes de quem poderá ser a primeira mulher vice-presidente dos Estados Unidos.

Embora alguns estudos mostrem que a decisão terá pouco impacto nas intenções de voto de Biden, que supera o presidente republicano nas pesquisas, outros acreditam que poderá fazer a diferença, mobilizando mais eleitores negros ou do Meio Oeste que votaram em Trump em 2016.

Confira os principais nomes:

Kamala Harris

"Minha mãe costumava me dizer: Kamala, talvez você seja a primeira a conquistar muitas coisas. Assegure-se de não ser a última", gostava de repetir a senadora de 55 anos durante as primárias democratas.

Desde o início de sua carreira, esta filha de imigrantes da Jamaica e da Índia rompeu barreiras. Depois de dois mandatos como promotora de San Francisco (2004-2011), foi eleita duas vezes promotora da Califórnia (2011-2017), tornando-se a primeira mulher, mas também a primeira pessoa negra, a chefiar os serviços jurídicos do estado mais populoso do país.

Em seguida, em janeiro de 2017, foi empossada no Senado em Washington, tornando-se a primeira mulher com raízes no sul da Ásia a chegar à Câmara alta na História dos Estados Unidos, e a segunda mulher negra no Senado americano.

Harris cresceu em Oakland, na Califórnia progressista dos anos 1960, orgulhosa da luta pelos direitos civis de seus pais.

Ela conhece bem o candidato democrata e era próxima do filho dele, Beau Biden, que morreu de câncer em 2015. Mas a também pré-candidata democrata surpreendeu ao atacar duramente Biden no primeiro debate democrata, em 2019, questionando suas posições sobre políticas para acabar com a segregação racial na década de 1970.

Na ocasião, contou emocionada que, quando era menina, viajava em um dos ônibus que levavam estudantes negros a bairros brancos. O intercâmbio a fez disparar nas pesquisas, mas rapidamente recuou, enquanto tentava definir o rumo de sua candidatura.

Depois de abandonar as primárias, em dezembro, declarou apoio a Biden em março. Mas alguns aliados do ex-vice-presidente de Barack Obama não perdoam a senadora por não ter se retratado o suficiente de suas críticas e advertem para uma companheira de chapa "ambiciosa" demais, uma avaliação considerada machista pelos partidários dela.

Susan Rice

Não há dúvidas sobre a experiência de Susan Rice: embaixadora nas Nações Unidas e depois assessora de segurança nacional durante a presidência de Barack Obama, ela estaria pronta desde o primeiro dia para ajudar Biden em questões delicadas de política externa.

Com fama de não ser sempre muito diplomática, esta mulher afro-americana de 55 anos aprendeu a lutar com Rússia e China no Conselho de Segurança da ONU de 2009 a 2013 e, por isso, saberia mostrar a firmeza que o candidato democrata quer encarnar contra adversários estratégicos dos Estados Unidos.

Segundo diplomatas, lixo ("crap") e merda ("bullshit") fazem parte de seu vocabulário habitual. Esta especialista em África, marcada pelo genocídio de 1994 em Ruanda, que presenciou impotente no governo de Bill Clinton, também conhece perfeitamente o funcionamento da Casa Branca.

Biden "tem uma ótima relação com ela, trabalharam juntos durante oito anos muito, muito de perto e isto significa muito para alguém como ele", disse David Barker, professor da American University, em Washington.

Mas Rice, nascida em Washington de pais universitários, e com diplomas de prestígio, nunca passou por uma campanha eleitoral e poderia ser vista como alheia às realidades da 'América profunda'.

Também foi salpicada pela polêmica sobre o ataque em 2012 contra a missão diplomática americana em Beghazi, na Líbia. Isto a obrigou naquele momento a abrir mão de disputar o cargo de secretária de Estado e agora a tornaria um alvo dos trumpistas.

Karen Bass

Pouco conhecida apesar da longa carreira parlamentar, Karen Bass se surpreendeu ao se ver nos últimos dias entre as favoritas a acompanhar Biden.

É precisamente o perfil discreto da legisladora da Califórnia no Congresso que poderia agradar o candidato, que a veria como o braço direito leal que ele foi para Obama.

Aos 66 anos, Bass lidera o grupo de congressistas negros que redigiu um projeto de reforma da polícia com o nome de George Floyd. Após chegar à Câmara baixa em 2011, esta ex-assistente médica foi eleita previamente para a Assembleia da Califórnia desde 2004, da qual se tornou, em 2008, a primeira presidente afro-americana.

Mas suas posições claramente marcadas à esquerda poderiam motivar ataques republicanos. Os eleitores de origem cubana, chave para vencer na Flórida, poderiam ficar muito insatisfeitos com os comentários que fez em 2016 após a morte de Fidel Castro: "O desaparecimento do 'Comandante em Chefe' é uma grande perda para o povo cubano", escreveu na ocasião.

Bass compartilha uma grande tragédia com Biden: a perda dos filhos. O ex-presidente costuma contar como a lembrança da morte de sua filha e da primeira esposa em um acidente de carro em 1972, e depois do filho mais velho deixou um "buraco negro" em seu peito. Bass perdeu a filha e o enteado em um acidente de trânsito em 2006. "Depois de perder meus filhos, posso fazer qualquer coisa", disse em julho à revista The Atlantic, que lhe perguntou sobre a dureza de uma campanha presidencial.

Elizabeth Warren

Impulsionada por simpatizantes entusiasmados, esta senadora progressista de Massachusetts chegou a ser considerada favorita nas primárias democratas, antes de cair nas pesquisas e depois desistir da disputa no começo de março.

Ao invés de declarar apoio a Bernie Sanders, o outro pré-candidato tão à esquerda quanto ela, decidiu apoiar Biden em abril.

Apesar das críticas que sofreu nas primárias, desde então fez uma campanha ativa por seu ex-adversário, um moderado.

Com esta feroz crítica a Wall Street ao seu lado, Biden poderia atrair os eleitores mais à esquerda, mas também os afro-americanos, entre os quais obteve melhores pontuações nas pesquisas em comparação com Kamala Harris.

Mas aos 71 anos, Warren teria dificuldades em representar a próxima geração. E seu programa poderia assustar os moderados e dar argumentos para a campanha de Trump, que descreve Biden como um "fantoche" da "esquerda radical".

Certamente também seria atacada pelas origens nativas americanas que diz ter e levaram Trump a apelidá-la de "Pocahontas". Além disso, se for nomeada, o governador republicano de Massachusetts poderia ocupar seu assento no Senado, custando aos democratas um posto crucial.

Tammy Duckworth

Muito menos conhecida do que suas colegas Harris e Warren, a senadora Tammy Duckworth, ex-militar de origem asiática que perdeu as duas pernas no Iraque, poderia reforçar dois pontos fortes de Biden: sua humanidade e empatia.

Nascida em Bangcoc, esta mulher de 52 anos circula de cadeira de rodas pelos corredores do Congresso, em Washington, onde representa o Illinois, um estado industrial que a elegeu pela primeira vez para a Câmara de Representantes de 2013 a 2017, e depois ao Senado.

Filha de um militar americano e uma tailandesa, alistou-se no Exército e nos Marines, antes de ser ferida no Iraque em 2004, quando o helicóptero que copilotava foi abatido por insurgentes. Amputada das duas pernas, ingressou no governo de Obama no poderoso Departamento de Assuntos dos Veteranos.

Segundo Barker, esta "heroína de guerra", em um pais que adora seus veteranos, pode atrair "uma parte importante do eleitorado".

Michelle Lujan Grisham

A primeira democrata governadora do Novo México, uma das figuras hispânicas mais proeminentes dos Estados Unidos, pode ser a aposta de Biden para ganhar votos da minoria mais importante do país.

Esta advogada de 60 anos representou seu estado no Congresso em Washington de 2013 a 2018, onde foi eleita em 2016 para presidir o grupo da bancada hispânica. Sua experiência executiva não se limita ao governo: de 2004 a 2007, foi secretária de Saúde estadual e muitos especulam que, se não for escolhida a colega de chapa de Biden, poderá chefiar o Departamento de Saúde de um governo democrata.

Descendente de uma família de destacados juristas e políticos do Novo México, tem sido uma dura crítica de Trump. "Precisamos de um líder que seja respeitado, amável, justo e ético", disse recentemente sobre Biden, a quem considera seu mentor.

Nos últimos meses, tem-se especulado também que Biden poderá escolher a governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, ou a legisladora da Flórida Val Demings, ou inclusive a senadora do Wisconsin Tammy Baldwin. Embora também possa tentar o efeito surpresa e revelar um nome inesperado.