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Explosões em Beirute: novo balanço traz 113 mortos e dezenas de desaparecidos

05/08/2020 12h19

Pelo menos 113 pessoas morreram na explosão devastadora no porto de Beirute e dezenas ainda estão desaparecidas, segundo um novo balanço divulgado hoje pelo ministro da Saúde do Líbano, Hamad Hassan.

Cerca de 4.000 pessoas ficaram feridas na explosão de terça-feira.

"Sem dúvida ainda há (vítimas) sob os escombros e recebemos dezenas de ligações por desaparecidos", disse à imprensa, após uma reunião do governo.

Relatos de terror

"Parecia um tsunami, ou Hiroshima. Foi um verdadeiro inferno. Algo me atingiu na cabeça, e todos os objetos começaram a voar ao meu redor", contou à AFP Elie Zakaria, morador do bairro de Mar Mikhail, famoso por seus bares noturnos e que se encontra voltado para o porto. "É um massacre. Fui para a varanda e vi gente gritando, ensanguentada. Estava tudo destruído", relatou.

A potência das explosões foi tão intensa que os sensores do USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos, em inglês) as registraram como um terremoto de 3,3 pontos na escala Richter. A onda de choque dessas deflagrações foi sentida até na ilha do Chipre, a mais de 200 quilômetros de distância.

No epicentro da tragédia, o panorama é apocalíptico: lixeiras parecem latas de conserva retorcidas, e carros estão incinerados pelas ruas. Com a ajuda de policiais, os socorristas passaram a noite em busca de sobreviventes e mortos sob os escombros.

Corpos no chão

"É uma catástrofe. Existem corpos no chão. Ambulâncias estão pegando os corpos", disse à AFP um soldado próximo ao porto. Um homem chorava enquanto perguntava a um militar pelo paradeiro do filho, que estava no porto no momento das explosões.

Várias horas após a tragédia, helicópteros seguiam despejando água do mar para tentar conter as chamas.

As forças de segurança isolaram a região portuária. O acesso está autorizado apenas para os serviços de Defesa Civil, as ambulâncias e os bombeiros.

Fotos publicadas nas redes sociais mostram danos no interior do terminal do aeroporto de Beirute, situado a nove quilômetros de distância do local das explosões.

"Foi como uma bomba atômica. Já vi de tudo [na vida], mas nada igual a isso", declarou à AFP Makruhie Yerganian, um professor aposentado que vive há mais de 60 anos na região portuária.

atendimento médico explosão beirute -  IBRAHIM AMRO / AFP -  IBRAHIM AMRO / AFP
Imagem: IBRAHIM AMRO / AFP

O que aconteceu?

Por volta das 18h locais de ontem (12h, horário de Brasília), uma primeira explosão foi ouvida em Beirute, seguida de outra muito mais potente. Os edifícios tremeram, e os vidros das janelas quebraram em um raio de vários quilômetros.

Nas ruas de Beirute, soldados evacuavam moradores atordoados, muitos ensanguentados, com camisas atadas ao redor da cabeça para conter os ferimentos.

O primeiro-ministro Hassan Diab decretou dia de luto nacional para esta quarta-feira. Ontem, ele afirmou que as explosões foram causadas pela detonação de 2.750 toneladas de nitrato de amônia.

A substância é um sal branco e inodoro, usado na composição de certos tipos de fertilizantes na forma de grãos, altamente solúveis em água. Também é usado na fabricação de explosivos e já causou vários acidentes industriais.

Antes, o diretor da Segurança Geral, Abbas Ibrahim, havia dito que as explosões poderiam ter sido causadas por "materiais altamente explosivos confiscados há anos", mas acrescentou que uma investigação determinará a "natureza exata do incidente".

"É inadmissível que um carregamento de nitrato de amônia, estimado em 2.750 toneladas, esteja há seis anos em um armazém, sem medidas preventivas. Isso é inaceitável e não podemos permanecer em silêncio sobre o tema", declarou o primeiro-ministro durante a reunião do Conselho Superior de Defesa.

Diab prometeu que os responsáveis deverão "prestar contas" e pediu ajuda aos "países amigos" do Líbano.

A tragédia desta terça-feira se soma à já difícil situação do Líbano, que atravessa a pior crise econômica em décadas, marcada por uma depreciação cambial sem precedentes, hiperinflação e demissões em massa que alimentam a agitação social há vários meses. Os hospitais da capital, que já lidam com a pandemia do coronavírus, estão saturados.

Apoio do exterior

No Twitter, o presidente Emmanuel Macron anunciou o envio de um destacamento de segurança civil e de "várias toneladas de material sanitário" a Beirute, assim como a chegada de médicos "o quanto antes".

Canadá, Reino Unido e Estados Unidos também se declararam dispostos a ajudar o povo libanês.

Apesar de estar tecnicamente em guerra com o Líbano, Israel ofereceu "ajuda humanitária e médica ao governo libanês", em meio a novas tensões entre os dois Estados vizinhos.