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EUA teme onda de despejos se o Congresso não aprovar novos auxílios

13/08/2020 19h38

Nova York, 13 Ago 2020 (AFP) - A pandemia castigou as finanças de milhões de famílias americanas que enfrentam dificuldades para pagar seus aluguéis, levantando preocupações sobre uma grande onda de despejos caso o Congresso não chegue rapidamente a um acordo sobre novos auxílios.

A crise imobiliária "já parece um tsunami", afirma Bambie Hayes-Brown, da coalizão de associações Georgia Advancing Communities Together.

Essas organizações, que tentam ajudar as famílias com problemas de moradia na Geórgia, no sul do país, gastaram rapidamente os auxílios recebidos desde o início da pandemia. "Ficamos cheios de pedidos" de auxílio, disse Hayes-Brown.

Em Nova York, Mariatou Diallo não paga o aluguel desde março, quando perdeu o emprego no setor de saúde. "Estou muito preocupada porque tenho um filho de 8 anos e, se me expulsarem, não tenho ideia do que vou fazer", disse ela à AFP.

Segundo os dados do escritório do Censo, cerca de 30% dos americanos afirmam ter pouca ou nenhuma confiança em sua capacidade de pagar o aluguel no mês seguinte. Até 40 milhões de pessoas podem ser despejadas nos próximos meses, calcula o centro de reflexão Aspen Institute.

- Fim das moratórias -Em alguns casos, os inquilinos deixaram de pagar seus aluguéis há meses, mas as moratórias sobre as expulsões decretadas em vários estados estão sendo levantadas pouco a pouco.

O auxílio de US$ 600 por semana concedido pelo governo federal às pessoas que perderam sua renda terminou em 31 de julho.

"Sem os 600 dólares, ninguém consegue pagar o aluguel", afirma Yudy Ramirez, que perdeu seu trabalho como faxineira em um hotel de Manhattan em março. Aos 46 anos, ela deve dois meses de aluguel, não sabe quando voltará a trabalhar e está prestes a perder seu plano de saúde.

Na segunda-feira, Ramirez participou com cerca de 50 manifestantes, incluindo Mariatou Diallo, de um protesto para exigir o cancelamento da cobrança de aluguéis não pagos no tribunal de assuntos imobiliários do Bronx.

A ameaça é ainda mais forte nesses bairros populares onde vivem principalmente as minorias e onde a COVID-19 causou as maiores perdas de empregos.

Em Nova York, os despejos estão proibidos até 1º de outubro, mas os proprietários agora podem entrar com ações de despejo nos tribunais.

Os inquilinos nova-iorquinos têm, no entanto, o direito de suspender o pagamento de seu aluguel se houver algum problema na moradia. Ramirez planeja entrar com uma ação judicial contra o dono do apartamento onde mora por consertos na porta da frente e no banheiro.

- "Uma catástrofe épica" -Esse mesmo direito, porém, não existe no estado da Geórgia, lembra Erin Willoughby, diretora do centro de recursos jurídicos imobiliários do Clayton Housing Legal Resource Center. Se os inquilinos não responderem dentro de uma semana a uma carta exigindo o pagamento do aluguel, o processo de remoção começa imediatamente, lamenta Willoughby.

No Arkansas, o último estado do país a condenar criminalmente inquilinos que não pagam o aluguel, eles têm poucos direitos. Na melhor das hipóteses, podem evitar que o despejo apareça em seus antecedentes judiciais, disse John Pollock, coordenador da Coalizão Nacional pelo Direito a um Advogado.

Para ele, o país enfrenta uma "catástrofe épica" se os líderes políticos não chegarem a um acordo. Os republicanos e a oposição democrata no Congresso não conseguiram chegar a um projeto de auxílio comum.

Os democratas propõem dedicar US$ 100 bilhões aos aluguéis não pagos e estender o auxílio de US$ 600 semanais aos desempregados, propostas que os republicanos consideram generosas demais.

O presidente americano, Donald Trump, assinou na semana passada um decreto para ajudar os inquilinos e os proprietários afetados pela pandemia.

No entanto, para o coordenador da Coalizão Nacional pelo Direito a um Advogado, John Pollock, o decreto de Trump "não serve para nada", já que não fornece imediatamente propostas nem recursos concretos.

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