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Lentidão dos correios gera especulações sobre complô eleitoral nos EUA

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em entrevista coletiva na Casa Branca - Brendan Smialowski/AFP
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em entrevista coletiva na Casa Branca Imagem: Brendan Smialowski/AFP

16/08/2020 17h29

O Serviço Postal dos Estados Unidos (USPS) é conhecido por fazer entregas em qualquer condição climática, mas enfrenta atualmente uma nova adversidade: o presidente Donald Trump.

Para a eleição de 3 de novembro, na qual são esperados milhões de votos por correspondência devido ao coronavírus, Trump se opõe a dar mais dinheiro para a agência com problemas de liquidez, apesar das mudanças internas terem provocado atrasos generalizados na entrega de cartas e pacotes.

"Precisam do dinheiro para que as agências dos correios funcionem, de modo que possam transportar milhões e milhões de cédulas eleitorais", disse Trump a Fox News na quinta-feira. "Mas se não recebem... isso significa que não se pode ter uma votação universal pelo correio".

Uma votação por correio generalizada seria uma "catástrofe", acrescentou no sábado, uma afirmação criticada pelos especialistas e as principais figuras democratas.

A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer e outros pediram neste domingo que o diretor-geral do Correio, Louis DeJoy, designado recentemente por Trump, compareça em 24 de agosto a uma "audiência urgente perante uma comissão da câmara dos deputados.

DeJoy, um doador de campanha de Trump, "tem atuado como um cúmplice na campanha do presidente para trapacear nas eleições, ao lançar mudanças operacionais radicais que prejudicam os padrões de entrega" do correio. Alguns democratas pediram que a Câmara dos Representantes abrevie o recesso de verão para tomar medidas e proteger o serviço postal.

"Esta é uma crise para a democracia norte-americana", disse o senador Bernie Sanders, ex-adversário do candidato democrata Joe Biden, ao canal ABC. Os democratas esperam usar o assunto para mobilizar os eleitores amanhã, quando o partido iniciar sua convenção - em um formato virtual inédito - para nomear oficialmente Joe Biden como candidato a Casa Branca.

Biden denunciou que Trump "não quer eleições", e a senadora Kamala Harris, que aceitou a indicação do partido para concorrer como vice, tuitou: "Não podemos permitir que Donald Trump destrua o serviço postal dos Estados Unidos."

No entanto o chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, disse que os democratas poderiam obter mais fundos postais se desbloquearem o acordo para um pacote econômico.

"Se meus amigos democratas estão todos chateados com isso, retornem a Washington para alcançar um pacote de estímulo que inclua a ajuda para pequenas empresas", disse ele à CNN.

Trump tem criticado o serviço postal, insistindo que é mal administrado, mas seus últimos embates acontecem no momento em que as pesquisas de intenção de voto mostram seu adversário na liderança.

Uma pesquisa da NBC News-Wall Street Journal publicada neste domingo mostra que o ex-vice-presidente tem vantagem de nove pontos sobre Trump.

Enquanto isso, no Congresso..

As discussões no Congresso seguem paralisadas sobre um novo projeto de lei que acompanharia o estímulo de 2,2 trilhões de dólares aprovado em março devido à pandemia.

O presidente reconheceu em abril que a votação por correio "não funciona bem para os republicanos". E em repetidas oportunidades insinua uma ameaça de fraude.

Os especialistas discordam. Um estudo realizado neste ano pelo Centro Brennan para a Justiça da Universidade de Nova York destacou que é "mais provável que um norte-americano seja atingido por um raio do que cometer uma fraude no voto por correio".

Em uma entrevista, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Postais, Mark Dimondstein, atribuiu o lento funcionamento dos correios às medidas implementadas por Louis DeJoy, um arrecadador de fundos republicano que se comprometeu a reformar o correio.

Dimondstein disse que recentemente foi reduzido o pagamento de horas extras. Isso, combinado com os quase 40.000 trabalhadores obrigados a fazer quarentena desde março pela pandemia, tem gerado atrasos.

À medida que aumentam as preocupaçõs sobre a capacidade do USPS para administrar o aumento esperado dos votos pelo correio, os estados buscam garantir a participação de seus residentes.

A Pensilvânia pediu nesta semana a sua Corte Suprema que adie a data limite para aceitar as cédulas por correio.