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Biden quer voltar a acordo nuclear iraniano antes de retomar negociações com Teerã

Joe Biden (Reprodução) - Reprodução / Internet
Joe Biden (Reprodução) Imagem: Reprodução / Internet

02/12/2020 20h42

O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, quer levar seu país de volta ao acordo sobre o programa nuclear do Irã antes de se envolver em negociações com Teerã, defendendo a diplomacia para acalmar as tensões bilaterais.

Em entrevista ao "New York Times", o democrata disse que "será difícil", mas, se o Irã voltar a cumprir o acordo nuclear, os EUA voltarão a aderir ao pacto como ponto de partida para negociações posteriores.

"A melhor forma de alcançar certa estabilidade na região" é assumir "o programa nuclear" de Teerã, afirmou Biden em entrevista publicada nesta quarta-feira (2), na qual alertou para a ameaça de uma corrida para produzir a bomba atômica no Oriente Médio.

Em 2018, o presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos do acordo nuclear assinado em 2015 por seu país, China, Rússia, Alemanha, França, Reino Unido e Irã para impedir que a república islâmica desenvolvesse armas nucleares.

O presidente republicano argumentou, na época, que o acordo era insuficiente para evitar comportamentos "desestabilizadores" de Teerã e voltou a impor fortes sanções econômicas ao Irã, para desgosto de seus aliados europeus, que tentam salvar o pacto. Como consequência da decisão de Trump, o Irã parou de cumprir algumas das restrições impostas às suas atividades nucleares.

Se Washington e Teerã respeitarem o acordo, "em coordenação com nossos aliados e parceiros, entraremos em negociações e acordos de acompanhamento para apertar e estender as restrições nucleares impostas ao Irã e para lidar com o programa de mísseis" iraniano, explicou Biden.

Nas novas negociações, em que o futuro presidente deseja incorporar rivais regionais do Irã, como a Arábia Saudita, também serão abordadas as atividades iranianas no Oriente Médio.

Um novo equilíbrio de poder

A estratégia de Biden envolve o levantamento das sanções de Trump em troca de um retorno ao texto de 2015, negociado quando ele era vice-presidente de Barack Obama.

O atual governo, que prometeu multiplicar as sanções até o fim, pediu ao novo governo que "aproveite" sua campanha de "pressão máxima" contra o Irã. A ex-embaixadora dos EUA na ONU Nikki Haley afirmou que o futuro presidente cometerá um "erro grave" caso "se jogue nos braços dos aiatolás".

O mesmo editorialista do New York Times com quem Biden conversou, Thomas Friedman, alertou na semana passada para as consequências de uma simples volta atrás em um Oriente Médio que não é mais o mesmo.

"Israel e os aliados árabes do Golfo não vão querer que os Estados Unidos abram mão de seu equilíbrio de poder favorável" apenas para conter as ambições nucleares de Teerã, sem usá-lo "para fazer o Irã se comprometer a cessar suas exportações desses mísseis" de precisão, que, para eles, são uma ameaça mais iminente, escreveu Friedman.

O assassinato do cientista nuclear iraniano Mohsen Fakhrizadeh, em 27 de novembro, perto de Teerã, que a república islâmica atribui a Israel, foi um lembrete dos obstáculos que o líder democrata pode enfrentar.

Assim como Friedman, Alex Vatanka, do think tank americano Middle East Institute, acredita que "Biden deve tentar não desperdiçar o equilíbrio favorável de forças criado pela campanha de pressão máxima" de Trump. Mas segundo ele, "ninguém no Irã acha que Biden é um frouxo": "Todos estão esperando que ele tire o máximo de proveito da situação", pelo menos para afastar a ameaça nuclear, que considera prioritária.

O acordo de 2015 "está ferido, prejudicado, mas ainda segue", e revivê-lo "não significa sacrificar outras questões, é apenas uma hierarquização de prioridades", argumentou Naysan Rafati, da organização de prevenção de conflitos International Crisis Group.

"O presidente eleito e sua equipe parecem ter chegado à conclusão de que reforçar primeiramente os alicerces desse acordo é uma maneira melhor de abordar as outras questões do que colocar tudo na mesa ao mesmo tempo, sob o risco de não resolver nada", acrescentou.