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Jovens indianos lutam para conseguir oxigênio e usam até apps para entregas

Pacientes dividem cama na enfermaria de hospital em Nova Delhi, na Índia - REUTERS/Danish Siddiqui
Pacientes dividem cama na enfermaria de hospital em Nova Delhi, na Índia Imagem: REUTERS/Danish Siddiqui

04/05/2021 11h36Atualizada em 04/05/2021 11h47

Mumbai, 4 Mai 2021 (AFP) - Depois de estudar para as provas, a estudante Swadha Prasad começa seu verdadeiro trabalho: encontrar oxigênio, remédios e leitos hospitalares para pacientes com covid-19, em meio a uma segunda onda brutal de infecções na Índia.

Enquanto o governo luta para controlar a pandemia, os jovens indianos se esforçam, criando aplicativos para buscar ajuda, entregar suprimentos essenciais e usar as redes sociais para levar recursos às pessoas que precisam.

Prasad trabalha com dezenas de voluntários com entre 14 e 19 anos, como parte da organização juvenil UNCUT, construindo um banco de dados online de informações sobre recursos médicos disponíveis em todo o país.

Trabalham 24 horas por dia, sete dias por semana. Os adolescentes passam o tempo atentos a seus telefones enquanto verificam a disponibilidade de suprimentos, atualizam informações em tempo real e atendem ligações de familiares preocupados.

"Alguns de nós trabalham à noite porque as ligações não param", diz Prasad, de 17 anos, que trabalha 14 horas por dia, do meio-dia à madrugada.

Muitas vezes, a jornada é longa e exaustiva, afirma a estudante de Mumbai, mas "se posso ajudar a salvar uma vida, nenhuma parte de mim vai dizer não".

E vidas foram salvas, assegura, como o caso em que a equipe conseguiu obter oxigênio no meio da noite para um jovem paciente de 19 anos, que esperava há duas horas agonizando.

"Não se trata apenas de fornecer recursos... às vezes as pessoas precisam saber que não estão sozinhas", declara.

'O homem do oxigênio'

Com dois terços de seus 1,3 bilhão de habitantes com menos de 35 anos, a Índia é um país predominantemente jovem, mas sua juventude nunca foi convidada a enfrentar responsabilidades desse calibre.

À medida que a pandemia se agravou —com crematórios sem espaço e pacientes morrendo nos estacionamentos dos hospitais—, muitos jovens se ofereceram como voluntários.

Na periferia de Mumbai, Shanawaz Shaikh forneceu oxigênio a milhares de pessoas.

Popularmente conhecido como o "homem do oxigênio", o homem de 32 anos vendeu seu amado carro em junho do ano passado para financiar a iniciativa depois que a prima grávida de um amigo morreu em um triciclo motorizado enquanto tentava ser internada em um hospital.

"Ela morreu porque não conseguiu oxigênio a tempo", conta à AFP.

Ele nunca imaginou que um ano depois continuaria atendendo a tantos pedidos. "No ano passado recebíamos cerca de 40 ligações por dia, este ano são mais de 500", estima.

A equipe de 20 voluntários de Shaikh também enfrenta uma enorme falta de oxigênio, agravada por especuladores.

"É um teste de fé", afirma, contando como às vezes viaja dezenas de quilômetros para fornecer oxigênio a pacientes desesperados.

"Mas quando consigo ajudar alguém, tenho vontade de chorar", conclui.

Voluntários sobrecarregados

As grandes cidades têm suportado, mas as limitações tecnológicas estão surgindo à medida que o vírus se espalha por pequenas cidades e vilarejos, explica o engenheiro da computação Umang Galaiya à AFP.

Os pedidos de leitos e suprimentos hospitalares abundam no Twitter, muitos deles não confirmados.

Galaiya construiu um aplicativo para tornar mais fácil para os usuários encontrarem o que procuram e, o mais importante, para limitar sua pesquisa apenas a recursos verificados.

Mas, mesmo assim, é improvável que seu aplicativo ajude pessoas fora das grandes cidades, diz o jovem empresário de 25 anos.

A pandemia não pode ser controlada sem o governo, acrescenta, apontando medidas simples que podem ajudar a salvar muitas vidas. Como a criação de um aplicativo com a atualização dos leitos disponíveis em tempo real, pra evitar o esforço de milhares de pacientes de ir de hospital em hospital em busca de uma vaga.

Os esforços dos jovens são insustentáveis, diz ele, ressaltando que os voluntários sobrecarregados podem perder o fôlego e pegar o vírus eles próprios.

O trauma de enfrentar a doença e a morte diariamente começa a cobrar seu preço.

"Trabalhamos muito, mas não podemos salvar a todos", afirma Prasad, cuja voz falha quando ela se lembra dos esforços para salvar uma mulher de 80 anos que morreu.

Embora façam pausas e organizem sessões de zoom para tentar descomprimir, o estresse não é totalmente dissipado.

"Meus pais estão preocupados, Mas quando seus amigos precisam de ajuda, eles me pedem", garante.