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Protesto reúne milhares na Colômbia durante visita da CIDH

Manifestantes protestam em frente a hotel onde representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos estão hospedados - NATHALIA ANGARITA/REUTERS
Manifestantes protestam em frente a hotel onde representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos estão hospedados Imagem: NATHALIA ANGARITA/REUTERS

09/06/2021 22h00

Milhares de pessoas voltaram a protestar contra o presidente Iván Duque nesta quarta-feira na Colômbia, durante uma visita extraordinária da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que avalia a situação no país mais de um mês após o início da crise, que já deixou dezenas de mortos e milhares de feridos.

"Precisamos de oportunidades, de que a educação e a saúde sejam direitos, e não privilégios", disse a estudante Sofía Perico, 15, que protestou com a família em frente ao hotel de Bogotá onde estavam membros da comissão, em visita ao país até amanhã.

As manifestações percorreram ruas das principais cidades colombianas, exigindo o fim da repressão policial e um Estado mais solidário ante os estragos causados pela pandemia, que mergulhou na pobreza 42% dos 50 milhões de habitantes do país.

Em Bogotá, um grupo de indígenas tentou derrubar as estátuas de Cristóvão Colombo e da rainha Isabel "La Católica", localizadas em uma avenida que leva ao aeroporto El Dorado, em uma expressão simbólica que tem ocorrido nos protestos. "Estamos aqui hoje para denunciar esses crimes contra a humanidade cometidos há mais de 500 anos, que continuam a ser cometidos, as formas de governar e reprimir o povo continuam as mesmas", disse à AFP o indígena Édgar Velasco, 36 anos, que protestava junto a monumentos já isolados pelas forças de segurança.

Os protestos começaram no dia 28 de abril contra um aumento nos impostos, algo já arquivado, e se transformou em um movimento de manifestações diárias marcadas por dias mais cheios que outros, bloqueios em estradas e confrontos violentos entre civis e a força pública.

A ONG Human Rights Watch (HRW) denunciou hoje o que chamou de "abusos gravíssimos" cometidos pela polícia colombiana, que acusa de estar supostamente envolvida em 20 homicídios em meio aos protestos antigovernamentais que eclodiram em 28 de abril. Em relatório, a organização especificou que 16 das vítimas foram baleadas por agentes com a intenção de "matar".

O governo "deve tomar medidas urgentes para proteger os direitos humanos e iniciar uma reforma policial profunda para garantir que os policiais respeitem o direito de reunião pacífica e os responsáveis por abusos sejam levados à justiça", disse a HRW em um relatório sobre os excessos que serão apresentados hoje ao presidente Iván Duque. Os ataques "não são incidentes isolados por agentes indisciplinados, mas o resultado de falhas estruturais profundas", acrescentou o relatório.

O diretor para as Américas da ONG, José Miguel Vivanco, assegurou em entrevista coletiva virtual ter recebido "relatos confiáveis" de 34 mortes no contexto das manifestações, das quais 20 aparentemente ocorreram nas mãos da polícia, 16 por balas destinadas a "órgãos vitais". "As autópsias sugerem que os oficiais atiraram para matar", disse Vivanco.

A HRW aplaudiu a iniciativa de Duque de reformar o corpo policial, mas considerou que algumas medidas são "cosméticas", pois não apontam para uma transformação fundamental.