Topo

Investigação sobre assassinato de presidente haitiano avança, apesar de incertezas

O presidente do Haiti, Jovenel Moise, em foto de 2017 - 13.mar.2017 - Hector Retamal/AFP
O presidente do Haiti, Jovenel Moise, em foto de 2017 Imagem: 13.mar.2017 - Hector Retamal/AFP

AFP

15/07/2021 23h23

O assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moise, por mercenários armados em 7 de julho foi planejado na vizinha República Dominicana, de acordo com o chefe da polícia haitiana, que também anunciou a detenção do chefe dos guarda-costas e outros três membros da equipe de segurança do presidente morto.

Os avanços anunciados na quarta-feira à noite pelo diretor-geral da polícia do Haiti, Léon Charles, só respondem parcialmente às numerosas perguntas que continuam surgindo sobre os autores do ataque contra Moise, um presidente amplamente criticado por seus traços autoritários em um momento de forte crise social e econômica no país.

O pequeno país caribenho está à beira do caos.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou nesta quinta-feira que o envio de tropas americanas ao Haiti não está "na agenda" por enquanto.

Também nesta quinta, investigadores da polícia federal americana (FBI), que tem ajudado a investigação, foram vistos saindo da residência de Moise levando um computador, de acordo com um fotógrafo da AFP presente no local.

A aparente facilidade com a qual os agressores conseguiram assassinar o chefe de Estado haitiano de 53 anos no meio da noite, enquanto seus guarda-costas saíram ilesos, segue despertando suspeitas sobre um plano interno. Moise foi atingido por uma dúzia de balas, com aparente falta de reação dos agentes encarregados de zelar por sua segurança.

- Foto viralizada -Como parte da investigação liderada pela polícia do Haiti, o chefe de segurança de Moise, Dimitri Hérard, e outros três agentes foram detidos e 24 oficiais estão sendo investigados, detalhou Charles.

No entanto, Hérard, convocado na quarta-feira pelo Ministério Público de Porto Príncipe para depor, não se apresentou. O comissário de divisão Jean Laguel Civil, outro responsável pela segurança do presidente, também não compareceu.

A investigação também parecia avançar no aspecto internacional do caso, que envolve diversos países, em particular Estados Unidos e Colômbia.

A polícia haitiana anunciou a prisão de mais de 21 pessoas, incluindo 18 colombianos e 3 haitianos (dois deles também tinham nacionalidade americana). Outros três colombianos morreram.

Em uma foto que viralizou nas redes sociais, é possível ver dois dos suspeitos detidos e o ex-senador Joel John Joseph, alvo de uma ordem de captura, participando de uma reunião lado a lado.

De acordo com Charles, as pessoas na foto estavam planejando na República Dominicana o assassinato de Moise.

"Estavam reunidos em um hotel de Santo Domingo. Ao redor da mesa estão os autores intelectuais, um grupo de recrutamento técnico e um grupo de arrecadação de fundos", afirmou à imprensa.

"Algumas das pessoas na foto já foram detidas. É o caso do doutor Christian Emmanuel Sanon e de James Solages. Este último coordenou o ataque com a empresa de segurança venezuelana CTU, com sede em Miami", completou.

Na foto também está o presidente da empresa, Antonio Emmanuel Intriago Valera, que entrou diversas vezes no Haiti para planejar o assassinato. Também está na foto o diretor da empresa Worldwide Capital Lending Group, Walter Verintemilla, disse Charles.

"Estamos no processo de investigar esta empresa que teria arrecadado fundos para financiar a execução do ato criminoso", explicou Charles.

"Havia um grupo de quatro mercenários que já estavam no país. Os outros entraram em 6 de junho. Passaram pela República Dominicana".

- Viúva agradecida -"São ex-soldados das forças especiais da Colômbia. São especialistas, criminosos. Esta é uma operação bem planejada", afirmou o chefe da polícia.

Nesta quinta-feira, o Pentágono confirmou que alguns destes colombianos tinham se beneficiado de sessões de treinamento oferecidas pelo exército americano, enquanto estavam alistados nas forças colombianas.

Os mercenários colombianos detidos pela morte de Moise afirmaram ter sido contratados para capturar o presidente e entregá-lo à agência de combate às drogas dos Estados Unidos (DEA), afirmou a polícia colombiana, que não descarta a possibilidade dos ex-soldados terem sido enganados.

O plano, na versão dos mercenários, era "organizar a detenção do presidente e colocá-lo à disposição, segundo eles, da DEA", afirmou nesta quinta-feira o general Jorge Vargas, chefe da polícia colombiana.

A viúva do presidente assassinado, que ficou ferida no ataque e transferida para um hospital na Flórida, agradeceu as pessoas que prestaram socorro.

Martine Moise tuitou duas fotos dela na cama de um hospital.

"Obrigado à equipe de anjos da guarda que ajudaram neste momento terrível", escreveu em inglês.