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China rejeita pedido da OMS para novas investigações sobre origem da covid no país

3.fev.2021 - Membros da OMS que investigam as origens do novo coronavírus chegam ao Instituto de Virologia de Wuhan, na China - Hector Retamal/AFP
3.fev.2021 - Membros da OMS que investigam as origens do novo coronavírus chegam ao Instituto de Virologia de Wuhan, na China Imagem: Hector Retamal/AFP

Da AFP

13/08/2021 08h25Atualizada em 13/08/2021 09h03

A China rejeitou hoje os apelos da Organização Mundial da Saúde (OMS) para realizar novas investigações em seu território sobre as origens da covid-19, alegando que apoia uma abordagem "científica", e não "política", para estabelecer como o vírus surgiu.

Os primeiros pacientes com coronavírus foram identificados no final de 2019, na cidade chinesa de Wuhan (centro). Desde então, o vírus se espalhou por todo planeta e deixou mais de quatro milhões de mortes em seu rastro, com graves consequências para as economias mundiais.

Os cientistas ainda lutam para rastrear sua origem. Transmissão de um animal? Vazamento de um laboratório chinês? Pequim se opõe fortemente à última hipótese, já que não quer parecer responsável pela pandemia.

Uma equipe de especialistas internacionais enviada pela OMS visitou Wuhan em janeiro de 2021 para um estudo de "primeira fase" sobre a origem do vírus.

A visita resultou em um relatório conjunto, redigido em colaboração com especialistas chineses, no qual se concluiu que o vírus provavelmente havia passado dos morcegos para os humanos por meio de um animal intermediário. E os especialistas consideraram "extremamente improvável" que o vírus tivesse saído de um laboratório.

Washington defendeu, porém, essa segunda hipótese, em um contexto de rivalidade política com Pequim. Agora, essa possibilidade foi relançada pela OMS, que na quinta-feira (12) pediu a todos os países, principalmente a China, que publicassem "todos os dados sobre o vírus".

"Para poder examinar a hipótese do laboratório, é importante ter acesso a todos os dados brutos", enfatizou a OMS, para quem "o acesso aos dados não deve ser, de forma alguma, uma questão política".

"Vida privada"

Pequim respondeu hoje, reiterando que o relatório elaborado pela OMS em Wuhan era suficiente, pois já havia descartado a teoria de um vazamento de laboratório. Insistiu em que os pedidos de dados adicionais têm motivos políticos ocultos.

"Nós nos opomos à politização na busca pelas origens" do vírus "e ao abandono do relatório conjunto China-OMS", declarou o vice-ministro chinês das Relações Exteriores, Ma Zhaoxu, em entrevista coletiva.

"As conclusões e as recomendações do relatório conjunto foram reconhecidas pela comunidade internacional e pela comunidade científica", frisou o vice-ministro.

"Pesquisas futuras devem e podem ser feitas apenas com base neste relatório. Não se trata de começar do zero", acrescentou.

Quanto aos dados brutos solicitados pela OMS, em particular sobre os primeiros pacientes em Wuhan, a China voltou a evocar o sigilo médico.

"Queremos apenas proteger a privacidade dos pacientes", afirmou Liang Wannian, chefe da delegação de cientistas chineses que contribuíram para o relatório China-OMS.

"Sem o consentimento deles, nenhum especialista estrangeiro tem o direito de fotografar, ou de copiar, os dados originais", acrescentou.

Declarações impactantes

A hipótese de um vazamento de laboratório foi rejeitada por vários especialistas. Voltou a ganhar atenção nos últimos meses, porém, devido a novas e impactantes declarações de Peter Embarek, o chefe dinamarquês da delegação de especialistas internacionais que visitou Wuhan em janeiro de 2021.

Em um documentário transmitido na quinta-feira pela televisão pública dinamarquesa TV2, o cientista foi, pela primeira vez, muito crítico em relação a Pequim.

"Até 48 horas antes do final da missão, ainda não estávamos de acordo em mencionar a 'tese de laboratório' no relatório", disse Embarek.

Como resultado dessas trocas, a delegação da OMS finalmente conseguiu permissão para visitar dois laboratórios onde são feitas pesquisas com morcegos, relatou.

"Pudemos falar e fazer as perguntas que queríamos fazer, mas não tivemos oportunidade de consultar qualquer documentação", lamentou Peter Embarek.

"Um funcionário (de um laboratório) infectado durante a coleta de amostras faz parte de uma das hipóteses prováveis. É onde o vírus passa direto dos morcegos para os humanos", acrescentou.

Ele afirmou também que nenhum dos morcegos vive em estado selvagem na região de Wuhan.

E, segundo Embarek, as únicas pessoas que provavelmente chegaram perto de morcegos suspeitos de abrigar o vírus que causou o Sars-Cov-2 são funcionários de laboratórios da cidade.