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Cuba proíbe manifestação opositora prevista para 15 de novembro

11.jul.2021 - Pessoas gritam frases contra o governo durante um protesto, em meio ao surto da doença do coronavírus, em Havana, Cuba - REUTERS / Alexandre Meneghini
11.jul.2021 - Pessoas gritam frases contra o governo durante um protesto, em meio ao surto da doença do coronavírus, em Havana, Cuba Imagem: REUTERS / Alexandre Meneghini

12/10/2021 16h26

Havana, 12 Out 2021 (AFP) - Cuba proibiu nesta terça-feira (12) uma marcha opositora prevista para 15 de novembro por considerar que os organizadores querem promover uma mudança de regime e alguns deles têm vínculos com Washington, segundo uma nota oficial.

"Os organizadores e seus posicionamentos públicos, assim como os vínculos de alguns com organizações subversivas e agências financiadas pelo governo americano, têm a intenção manifesta de promover uma mudança do sistema político em Cuba", assinala a carta de resposta ao pedido para realizar a marcha, publicada no site oficial Cubadebate.

A manifestação anunciada em Havana, "cujo esquema organizacional é concebido simultaneamente para outros territórios do país, constitui uma provocação e é parte da estratégia de mudança de regime" para Cuba, acrescentaram as autoridades na resposta, que destaca o caráter constitucional e "irrevogável" do sistema socialista cubano.

A mesma resposta foi emitida tanto em Havana como nas outras seis províncias (Holguín, Cienfuegos, Pinar del Río, Las Tunas, Santa Clara e Guantánamo) onde foram feitas solicitações de autorização para uma manifestação "contra a violência" e pela "mudança".

Em Havana, o dramaturgo Yunior García, organizador da manifestação na capital e líder do grupo Archipiélago, lamentou as acusações sobre financiamento dos Estados Unidos.

"Sempre, qualquer coisa que o cubano faça, vão dizer que são os mandos de alguém em Washington, como se nós cubanos não pensássemos, não tivéssemos cérebro", afirmou.

"Qualquer cubano sensato quer mudanças para o bem, qualquer cubano sensato quer que em Cuba haja mais democracia, que haja mais progresso, que haja mais liberdade, em todos os sentidos", acrescentou.

Saily González, organizadora da manifestação na província de Santa Clara (centro), disse que a acusação de financiamento de parte dos Estados Unidos "logicamente que é mentira, não há e nunca vai haver provas", disse, denunciando ameaças e cortes de internet a vários ativistas.

"É importante que se saiba que em Cuba o govenro não permite que sua sociedade civil se manifeste", acrescentou González em um vídeo difundido no Facebook.

O governo cubano, que nega a existência de presos políticos em Cuba, considera ilegal a oposição que acusa de ser financiada por Washington.

O porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, criticou a proibição da passeata e pediu ao governo cubano que respeite os direitos fundamentais. "É a liberdade de expressão, é a liberdade de se reunir pacificamente que o governo cubano negou ao seu povo", disse Price em Washington.

"Pedimos ao governo de Havana que respeite as liberdades e os direitos fundamentais do povo cubano". Ele negou que as demandas tenham a ver com Washington, e afirmou que as mesmas se devem a "desejos insatisfeitos do povo cubano de liberdade, dignidade e prosperidade".

Inicialmente, o Archipiélago havia convocado a marcha para 20 de novembro, mas, na última sexta-feira (8), anunciou o adiantamento da marcha cívica para o dia 15, depois que o governo decidiu decretar a primeira data como "Dia Nacional da Defesa".

"Não podíamos ser irresponsáveis, nós não queremos violência, não queremos que os cubanos se enfrentem e não podíamos lançar os manifestantes para o embate com um Exército nas ruas, que poderia reagir de forma violenta", indicou García.

O "mais sensato era antecipar a marcha" para o dia 15, quando está prevista a reabertura de Cuba para o turismo internacional. Os visitantes poderão andar pelas ruas e os cubanos podem, então, exercer os seus direitos, acrescentou.

Perguntado sobre qual seria o próximo passo, depois da proibição das autoridades, García assinalou que haverá uma consulta com os integrantes do Archipiélago para decidir o que fazer.

Nos dias 11 e 12 de julho deste ano, Cuba foi sacudida por uma onda de protestos inéditos em dezenas de cidades da ilha, que terminou com o saldo de um morto, dezenas de feridos e centenas de detidos.