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França e Reino Unido buscam maior cooperação após tragédia no Canal da Mancha

Essa é a pior tragédia desde 2018 - Juan Medina/Reuters
Essa é a pior tragédia desde 2018 Imagem: Juan Medina/Reuters

25/11/2021 18h58

França e Reino Unido expressaram nesta quinta-feira (25) sua vontade de cooperar contra as máfias que atuam no tráfico de migrantes, um dia após a morte de 27 pessoas no naufrágio da embarcação na qual tentavam atravessar o Canal da Mancha.

Essa é a pior tragédia desde 2018, quando as travessias migratórias do Canal da Mancha dispararam como consequência dos controles reforçados no porto francês de Calais (norte) e do túnel subaquático, que até então eram majoritariamente utilizados pelos mirantes para chegar à Inglaterra.

Nesta quinta-feira, a França convidou "os ministros encarregados da imigração belga, alemã, holandesa e britânica, assim como a Comissão Europeia, para uma reunião" no domingo em Calais para "reforçar a cooperação policial, judicial e humanitária e lutar melhor" contra as máfias que traficam migrantes.

Pouco antes, durante uma viagem à Croácia, o presidente francês Emmanuel Macron pediu "uma cooperação europeia maior neste âmbito".

Por sua vez, a ministra britânica do Interior, Priti Patel, também pediu hoje "um esforço internacional coordenado" para enfrentar os grupos criminosos que organizam travessias ilegais no Canal da Mancha.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, pediu ao presidente francês, Emmanuel Macron, que aceite de volta os migrantes que chegam da França à Inglaterra.

"Proponho que implementemos um acordo bilateral de readmissão para possibilitar o retorno de todos os migrantes ilegais que cruzam a Mancha", disse o britânico em mensagem divulgada no Twitter.

Anteriormente, em uma conversa telefônica na quarta-feira à noite, Johnson e Macron concordaram em "intensificar os esforços e manter toda as opções sobre a mesa" para enfrentar os grupos de traficantes que organizam travessias ilegais, informou um porta-voz de Downing Street.

Uma vontade comum que gera ceticismo para alguns observadores, já que as relações entre Paris e Londres estão bastante tensas.

Um exemplo das tensões foi o comunicado divulgado pelo Palácio do Eliseu, que afirma que Macron espera que o Reino Unido "coopere plenamente e se abstenha de instrumentalizar uma situação tão dramática com fins políticos".

Após uma reunião de crise na quarta-feira, Johnson acusou as autoridades francesas de não fazer o suficiente para impedir as travessias, apesar de terem recebido mais de 60 milhões de euros (67 milhões de dólares) de contribuição britânica para reforçar a vigilância de suas costas.

Enquanto isso, os migrantes seguem tentando chegar ao Reino Unido a partir da França. "É desmoralizante, tenho medo, mas vou continuar", confessou à AFP, no porto de Calais, Emmanuel D'Mulbah, que é da Libéria. "É o meu sonho", acrescentou.

Os fatos da tragédia

O acidente ocorreu a bordo de um "long boat", uma frágil embarcação inflável, que vem sendo cada vez mais utilizada pelos traficantes desde o último verão. O barco havia saído de Dunquerque (norte), segundo fonte próxima ao caso.

As vítimas incluem 17 homens, sete mulheres e três jovens, segundo a promotoria de Lille (norte). Uma fonte policial informou que entre as vítimas fatais também havia um adolescente e três crianças.

Os dois sobreviventes, um iraquiano e um somali, estavam em uma situação de "hipotermia severa" na quarta-feira, mas "um pouco melhor hoje", disse o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, nesta quinta-feira.

Cerca de 200 pessoas, principalmente ativistas e alguns exilados, reuniram-se em Calais para homenagear as vítimas.

Ainda não se sabe todos os detalhes do desastre, mas Mohamed, um sírio de 22 anos, relatou à AFP que foi um dos últimos a ter visto as vítimas. "Há três dias, eles ainda estavam comigo em Calais", recordou.

"Eram curdos iraquianos, iranianos e afegãos. Vivíamos em campos, na rua, inclusive dormíamos na estação ferroviária de Calais. Há três dias o grupo nos disse 'vamos para a Inglaterra' e foi embora", contou, rodeado de vários compatriotas que acenavam em confirmação.

Os restos do barco serão examinados para esclarecer as causas do naufrágio.

Segundo Darmanin, após a prisão de quatro pessoas, também foi detido na noite de quarta-feira um quinto suspeito de tráfico de pessoas, que havia "comprado botes na Alemanha".

A França abriu uma investigação por "ajuda à entrada em quadrilha organizada", "homicídio e lesões involuntárias" e "associação ilícita".

As tentativas de travessia a bordo de pequenas embarcações duplicaram nos últimos três meses, alertou recentemente o prefeito marítimo do Canal da Mancha, Philippe Dutrieux.

Até 20 de novembro, 31.500 migrantes haviam tentado a travessia desde o início do ano, e 7.800 deles foram resgatados. A tendência não diminuiu, apesar das baixas temperaturas do inverno.

Antes deste naufrágio, o balanço desde janeiro era de três mortos e quatro desaparecidos, depois de seis mortos e três desaparecidos em 2020.