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Investigação preliminar de Israel não consegue determinar quem atirou em jornalista palestina

11.mai.22 - A jornalista veterena Shireen Abu Akleh, do Al-Jazeera, foi morta a tiros enquanto cobria um ataque do exército israelense em Jenin, na cidade bíblica de Belém, na Cisjordânia - -/AFP
11.mai.22 - A jornalista veterena Shireen Abu Akleh, do Al-Jazeera, foi morta a tiros enquanto cobria um ataque do exército israelense em Jenin, na cidade bíblica de Belém, na Cisjordânia Imagem: -/AFP

13/05/2022 12h38

O Exército israelense declarou nesta sexta-feira (13) que, após uma investigação preliminar, não foi capaz de determinar quem atirou na jornalista palestina Shireen Abu Akleh, morta no exercício da profissão durante uma operação militar de Israel na Cisjordânia.

"A conclusão do relatório preliminar é que não é possível determinar a origem do tiro que atingiu e matou a jornalista", disse o Exército em um comunicado, levantando a possibilidade de que o tiro possa ter vindo de combatentes palestinos, ou de um soldado israelense.

"A investigação mostra duas possibilidades sobre a origem do tiro que a matou", afirma o texto.

A primeira delas é que o tiro partiu dos "disparos maciços de palestinos armados [contra soldados israelenses], dentro das centenas de balas que foram disparadas de diferentes lugares".

"A outra opção é que, durante o tiroteio, um dos soldados tenha disparado várias balas de um veículo (...) contra um terrorista que tinha seu veículo como alvo", acrescenta o texto.

Mais cedo, o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, sugeriu que, "provavelmente", Shireen faleceu em consequência dos disparos de combatentes palestinos. Algumas horas mais tarde, seu ministro da Defesa, Benny Gantz, declarou que o Exército "não tem certeza de como foi assassinada".

"Pode ter sido um palestino que atirou nela (...) O disparo também pode ter vindo do nosso lado, estamos investigando", desconversou.

"Precisamos das provas forenses" dos palestinos, incluindo a bala que matou a jornalista, para fazer uma investigação "completa", acrescentou o ministro.

De acordo com uma fonte de segurança, Israel pediu a bala aos palestinos para que "se possa fazer uma investigação científica para rastrear a origem do disparo" e ofereceu a funcionários palestinos e americanos "estarem presentes" durante a análise.

Até o momento, israelenses e palestinos continuam a trocar acusações pela morte da famosa jornalista, de 51 anos, que trabalhava para a rede Al-Jazeera.

A jornalista palestina cristã, que também tinha nacionalidade americana, foi baleada na cabeça, quando cobria uma operação israelense no campo de refugiados palestinos de Jenin, no norte da Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967. Ela usava um colete à prova de balas com a palavra "PRESS" ("Imprensa") nas costas e um capacete.

Novos confrontos explodiram no mesmo campo de refugiados, no qual a jornalista foi morta. Segundo o Ministério palestino da Saúde, 13 palestinos foram baleados em uma nova operação do Exército israelense.

Explosão de violência

Em paralelo, a violência irrompeu nesta sexta-feira em um hospital de Jerusalém, quando o caixão da jornalista deixava o estabelecimento, com a polícia israelense dispersando uma multidão que agitava bandeiras palestinas, segundo jornalistas da AFP no local.

Imagens transmitidas pela televisão local mostraram o caixão da repórter quase caindo no chão, enquanto a polícia israelense dispersava a multidão, em meio a um mar de bandeiras palestinas.

As forças israelenses entraram no Hospital São José em Jerusalém Oriental, setor palestino da cidade ocupado e anexado por Israel.

"Se não pararem com os cânticos nacionalistas, teremos que dispersá-los usando a força e impediremos que o funeral aconteça", declarou um policial israelense em um megafone para a multidão, de acordo com um vídeo divulgado pela polícia.

Segundo as forças israelenses, "centenas de pessoas" se reuniram no hospital, e pedras foram jogadas contra os agentes, "forçados a usar meios de dispersão".

"Forças especiais israelenses brutais estão atacando o cortejo fúnebre de Shireen Abu Akleh saindo do Hospital São José", denunciou no Twitter Hanane Achraoui, ex-líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

O caixão de Shireen Abu Akleh acabou, finalmente, sendo transportado para a Cidade Velha, onde uma missa em sua homenagem foi celebrada em uma igreja, nesta sexta-feira. As ruas próximas foram tomadas por milhares de palestinos que compareceram para dar seu último adeus à jornalista. O enterro será mais tarde, perto de seus pais, em um cemitério próximo à Cidade Velha.

A morte desta repórter, um ícone do jornalismo palestino, provocou uma onda de comoção nos Territórios Palestinos, no mundo árabe - onde suas reportagens são acompanhadas há mais de duas décadas -, na Europa e nos Estados Unidos.