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Performance faz homenagem aos 111 mortos no Massacre do Carandiru

Daniel Mello - Repórter da Agência Brasil

01/11/2016 10h15

O artista plástico Nuno Ramos faz hoje (1) uma homenagem aos 111 mortos do Massacre do Carandiru, ocorrido em 2012. Várias personalidades conhecidas nacionalmente foram convidadas para ler durante 24 horas, das 16h de hoje até as 16h de amanhã (2), os nomes das vítimas do episódio. A performance será transmitida ao vivo pela internet e por inserções na TV Cultura. As leituras podem ser acompanhadas a partir da página no Facebook. Entre os participantes estão o ator e diretor teatral Zé Celso Martinez Corrêa, o músico Paulo Miklos, a cartunista Laerte, a atriz Bárbara Paz, o jornalista e apresentador Marcelo Tas, o escritor Ferréz, o médico Caio Rosenthal e a cantora Rita Cadillac. "Eu não quis que tivesse uma coisa muito para um lado ideológico só. Eu quis que tivesse uma coisa cívica", explicou o artista sobre a seleção das pessoas que farão a leitura em um apartamento no centro da capital paulista, com a vista panorâmica da cidade. "Eu queria que São Paulo estivesse lá no fundo, como uma testemunha silenciosa", explicou. A proposta surgiu, segundo Ramos, a partir dos convites recorrentes para que ele remontasse a  instalação 111, apresentada pela primeira vez no mesmo ano do massacre. A obra, exposta no Instituto Estadual de Artes Visuais de Porto Alegre,  representou as vítimas com paralelepípedos cobertos de asfalto e com cada um dos nomes em um clichê de linotipia de chumbo. "Sempre que acontece alguma efeméride da invasão, as pessoas pensam em remontar a minha instalação 111. Mas nunca dá, porque é uma instalação muito grande", explica o artista. Insepultos Neste ano, além do 24º aniversário do massacre, Ramos acredita que seja especialmente simbólica a decisão judicial que anulou as condenações dos policiais acusados de participar do episódio. "São 24 anos sem que tenha se chegado a nenhum estágio definitivo de retribuição jurídica ao que aconteceu", disse em referência a sentença proferida em 27 de setembro. "É como se eles [os detentos mortos] ficassem quase insepultos até que alguma coisa se decida", acrescenta sobre as impressões em relação a situação. O artista reconhece que há dificuldades em atribuir, acima de qualquer dúvida, a culpa a cada um dos policiais que invadiram o presídio naquele dia. Porém, ele acredita que não houve um desfecho condizente com a gravidade dos fatos. "Eu penso que do principal a gente não pode fugir: 111 pessoas foram metralhadas, sem que houvesse qualquer [resistência]. Nenhum policial se feriu. Uma coisa totalmente doida." "É um episódio profundamente trágico, triste. A gente fazer durar, soprar o nome deles ao vento por tanto tempo, por 24 horas. É uma forma de fazer durar um pouquinho mais o que foi a vida e a perda da vida deles", finalizou Ramos. O Massacre No dia 2 de outubro de 1992, a Polícia Militar de São Paulo matou 111 presos em operação para controlar uma rebelião na Casa de Detenção de São Paulo. Conhecido como Carandiru, o presídio inaugurado em 1920 funcionava na zona norte da capital. O local chegou a abrigar 8 mil detentos no período de maior lotação. A unidade foi desativada e parcialmente demolida em 2002. Por envolver grande número de réus e de vítimas, o julgamento foi dividido, inicialmente, em quatro etapas, de acordo com o que ocorreu em cada um dos pavimentos da casa de detenção. Os 73 réus foram condenados a penas que variam de 48 a 624 anos. Um dos acusados foi julgado em separado, sendo igualmente condenado. Anulação O Tribunal de Justiça de São Paulo anulou os cinco julgamentos que condenaram 74 policiais militares pelo Massacre do Carandiru. Os três desembargadores da 4ª Câmara Criminal do Tribunal do Júri responsáveis pelo recurso da defesa dos réus entenderam que não há elementos para mostrar quais foram os crimes cometidos por cada um dos agentes. Durante a sessão, a procuradora Sandra Jardim destacou os elementos que apontam abusos da ação policial. Segundo ela, muitos foram mortos sem roupas no interior das celas. Ela também acusou os policiais de tentar eliminar as provas dos crimes. "Nenhum projétil ou estojo vazio foi encontrado no local", afirmou. Os projéteis retirados dos corpos das vítimas desapareceram de dentro Fórum Criminal da Barra Funda antes que fosse feito o confronto balístico para identificar de quais armas foram feitos os disparos.