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Procurador diz que intuito era usar Condepe para desestabilizar segurança em SP

Elaine Patricia Cruz - Repórter da Agência Brasil

22/11/2016 17h17

O subprocurador-geral de Justiça, Mário Sarrubbo, disse que o objetivo do Primeiro Comando da Capital (PCC) ao utilizar os serviços de um integrante do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) era desestabilizar as forças de segurança de São Paulo. Hoje, a Polícia Civil e o Ministério Público Estadual de São Paulo deflagraram a Operação Ethos, que prendeu 35 pessoas em todo o estado, entre elas 32 advogados e o vice-presidente do Condepe, Luiz Carlos dos Santos, por associação com o crime organizado. "Isso apenas demonstra que o crime organizado procurava manter seus tentáculos também na proteção dos direitos humanos procurando, com isso, desestabilizar as forças de segurança do estado de São Paulo. Há fortes indícios de que isso ocorreu", disse o subprocurador em entrevista concedida na tarde de hoje (22) na sede da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Segundo Sarrubbo, antes de cooptar o vice-presidente do Condepe, o PCC tentou, inicialmente, colocar duas pessoas de sua célula no órgão. "Em princípio, o que temos é que havia duas pessoas da célula do crime organizado que pretendiam participar do Condepe e alcançar a eleição. Não teriam conseguido e a estratégia então foi cooptar o Luiz Carlos", disse. "Se eles estivessem no Condepe, haveria uma possibilidade muito maior de avançar sobre as forças de segurança do estado e, até mais do que isso, eles poderiam fazer um trabalho no sistema penitenciário, com a pretensão de usar o rótulo do Condepe, que é uma instituição séria e importante para a sociedade brasileira", acrescentou. Prisões A investigação identificou 55 pessoas que atuavam a serviço da organização, entre elas, 14 integrantes do PCC que já estão presos. Foram autorizados o cumprimento de 41 mandados de prisão, mas até este momento, 35 pessoas foram presas, a maior parte delas advogados que, segundo o secretário de Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, não atuavam na defesa do PCC de forma técnica, mas de forma a permitir que os presos tivessem contato com o mundo exterior. "Esses advogados credenciados, constituídos por essas pessoas, serviam de pombo-correio levando e trazendo informações do mundo externo para os que estão no sistema prisional", explicou o secretário. De acordo com o secretário, o vice-presidente do Condepe foi preso hoje pela manhã em sua casa. Ele foi detido com base em uma carta encontrada em um presídio onde a participação dele no esquema criminosa era noticiada. "Esse senhor recebia uma mesada da organização criminosa em torno de R$ 5 mil. Se calcula que ele já recebeu R$ 130 mil da organização criminosa. Ele, dentro de sua atuação no Condepe, gerava alguma notícia que fazia com que as pessoas acreditassem que organismos policiais estavam agindo de uma forma violenta, em perseguição a determinados grupos", disse o secretário, sem citar um caso específico em que o membro do Condepe tenha divulgado notícias falsas sobre a atuação da polícia. Segundo ele, os policiais estiveram hoje na sede do Condepe e apreenderam uma CPU e um notebook de Luiz Carlos que poderá responder pelos crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e exploração de prestígio. Perguntado, o secretário garantiu que não foram apreendidos documentos ou computadores do Condepe, o que poderia expor documentos privados do órgão com denúncias sigilosas de testemunhas sobre violência policial, por exemplo. "Esse material que foi apreendido será tratado com o sigilo necessário. Ele foi apreendido pelo Ministério Público e pela Polícia Civil, com ordem judicial. Não houve arrombamento do Condepe", destacou. O secretário também negou que, entre os investigados, estivesse um desembargador. "Não há um desembargador sendo investigado. Os fatos, se eventualmente envolver pessoas com foro privilegiado, serão encaminhados para a competência originária do Ministério Público para a devida apuração." Sobre a existência de uma planilha que teria sido apreendida na operação e em que constaria o pagamento a policiais civis, o secretário disse não saber da existência desse documento. "Se existir, ela vai ser encaminhada para a Corregedoria e será apurada", disse. A presidenta do Condepe, Maria Nazareth Cupertino, concederá uma entrevista coletiva a respeito da prisão do vice-presidente do órgão nesta tarde.