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PM do caso Amarildo se passou por criminoso, diz perícia

No Rio de Janeiro

02/09/2014 09h32Atualizada em 02/09/2014 13h04

Após a morte do pedreiro Amarildo de Souza, torturado por policiais militares na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, zona sul do Rio, em 2013, um PM ligou para um colega e, imaginando ter a conversa interceptada pela Polícia Civil, passou-se por um traficante. Na conversa, ele assumiu ter matado Amarildo. Após análise, peritos do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) concluíram que a voz é do soldado Marlon Campos Reis. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

De acordo com a denúncia do Ministério Público, o objetivo de Reis era atribuir os crimes a traficantes de drogas, o que poderia afastar a suspeita em relação aos PMs da UPP. Na ocasião, ele fingiu ser um traficante conhecido como Catatau. Para o MP, os militares sabiam da existência de um telefone que estava sendo monitorado pela Polícia Civil em função de outra investigação. Com isso, a ligação forjada acabou sendo a última tentativa de criar um álibi.

Uma primeira análise feita pelo próprio MP já indicava que a voz era do policial e não de um traficante --o laudo do ICCE apenas confirmou a versão. Em uma audiência de instrução e julgamento realizada no dia 9 de abril desse ano, Reis negou ter forjado a ligação. "Aquela voz não é minha. Faço outras perícias quantas vezes você quiser. Essa perícia [feita a pedido do MP] está muito equivocada", disse o soldado ao Juízo da 35ª Vara Criminal.

O inquérito do caso Amarildo mostra também que Reis ligou para a namorada, quando a investigação estava em curso, e disse que "eles [em referência à Divisão de Homicídios, responsável pela apuração] já sabem tudo o que aconteceu, só não têm provas". O diálogo foi interceptado em outubro de 2013. Essa seria uma das confirmações, segundo a polícia, de que os PMs usaram todos os meios necessários para não deixar provas concretas do homicídio do morador da Rocinha.