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Morte de bando desencadeia onda de ataques em SC

De Florianópolis

12/10/2014 10h41

De dentro de presídios partiu o "salve" para dar início à onda de ataques que assusta Santa Catarina há mais de duas semanas. Entre as causas do levante está uma operação da Polícia Civil contra uma tentativa de assalto a um banco que terminou com cinco bandidos mortos, há mais de um mês. O Estado apurou que a polícia e o Ministério Público Estadual (MPE) investigam os ataques como uma retaliação ao crescimento do número de bandidos abatidos em confrontos.

O caso registrado no dia 30 de agosto na cidade de Governador Celso Ramos seria um dos estopins para os atentados ordenados pelo Primeiro Grupo Catarinense (PGC). Na noite de 29 de agosto, por volta das 23 horas, policiais civis estavam a postos para enfrentar o bando, após rastrear por intercepções telefônicas e troca de mensagens por aplicativo de smartphone, que eles planejavam estourar caixas eletrônicos. Os policiais conseguiram abortar o crime às 3 horas, quando os criminosos foram acuados e mortos.

A cidade de 20 mil habitantes - 80% da população vive da pesca -, distante cerca de uma hora de Florianópolis, amanheceu com os corpos espalhados pela praça central, entre a prefeitura, o banco e uma agência dos Correios.

"Dispararam mais de cem tiros. Os móveis de casa ‘pulavam’ por causa das balas. Esses homens já tinham tentado estourar o caixa um mês antes, mas não conseguiram. Quando eles tentaram de novo, a polícia estava esperando", contou o padre José Osni Kuhnen, que vive na casa paroquial, no andar de cima do imóvel que abriga a agência bancária atacada.

"O bando tinha vindo de barco, da cidade vizinha. Pararam um bote na frente da agência e foram a pé, mas havia policiais escondidos em três pontos, perto do banco, esperando. Quando eles explodiram a agência, o tiroteio começou. Os policiais podiam ter me avisado, não é? Podiam ter falado que estavam lá e pedido para eu ir dormir em outro lugar", lembrou o padre.

A polícia não sabe quantos criminosos participaram da ação, mas um dos bandidos conseguiu fugir do cerco. O grupo era investigado havia mais de três meses. Com armamento pesado, eles reagiram à investida da Polícia Civil, que relacionou o grupo ao mesmo responsável por roubar fuzis de uma delegacia da capital meses antes.

Uma outra ocorrência, em Navegantes, registrada ainda em agosto, em que três suspeitos foram mortos, também é apontada como um dos motivos dos ataques. Até sexta-feira, a quarta onda de ataques no Estado desde 2012 já havia registrado 101 atentados em 34 municípios - 57 suspeitos foram presos, dois morreram e um ex-agente penitenciário foi assassinado. Os bandidos incendiaram ônibus, atacaram casas de policiais e até residências de civis.

Investigação

Apesar das linhas de investigação seguidas pela Polícia Civil, o delegado Adriano Bini, subdiretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais, não dá detalhes sobre as causas dos ataques. A porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Claudete Lehmkuhl, no entanto, reforça a tese de que a atuação das polícias causou a resposta dos bandidos. "Não existe mais isso de a polícia chegar e os criminosos se renderem. Eles atiram. Nós reagimos. Não há mais apreensão de revólver calibre 38. São sempre armas mais pesadas."

As más condições dos presídios é um ponto avaliado como menos impactante. "Pode ser uma das causas, que ainda são investigadas, mas há o aumento das mortes em confrontos", admitiu a tenente-coronel. Sem dar números absolutos, ela disse que, neste ano, houve aumento de 70% nas ocorrências policiais com suspeitos mortos.

O defensor público Ralf Zimmer Júnior, que atua no Setor de Execuções Penais, afirmou que o órgão não recebeu, até agora, nenhuma queixa referente a torturas ou outros abusos. "O que recebemos se refere a revistas vexatórias de parentes de presos. Estudamos a abertura de uma ação", disse Zimmer, que atua no Presídio São Pedro de Alcântara, coração do PGC.

Operações

O Estado recorreu à ajuda federal no dia 3, quando governo e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, acertaram o envio da Força Nacional de Segurança e a transferência de 19 detentos para penitenciárias federais. "Houve uma resposta dentro da atividade legal e formal", afirmou o promotor de Justiça Alexandre Grazotin, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Segundo ele, 60% da população carcerária pertence ao PGC. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.