Comércio usa água despejada por prédio em SP
O edifício de fachada moderna e com pé-direito alto tem 16 andares, 160 apartamentos e um enorme subsolo usado como garagem. A água límpida e gelada é jogada na rua por meio de um cano branco que passa por baixo dessa garagem. O líquido é parecido com o de uma mina e corre como uma nascente por mais de 300 metros ao longo da Augusta, até entrar em um bueiro, na esquina com a Praça Roosevelt.
Pela manhã, alguns comerciantes usam baldes para pegar a água e lavar seus bares. Outros enchem suas caixas dágua esvaziadas à noite. "A água é limpinha, dá para lavar minha calçada e alguns carros", afirma o manobrista Leandro Cardoso, de 29 anos, que trabalha em um estacionamento na esquina das Ruas Augusta e Caio Prado.
Vontade de chorar. Moradores indignados com o desperdício procuraram a reportagem, após serem informados pelo governo estadual de que não havia ilegalidade no procedimento adotado pelo prédio. "Não dá nem para acreditar nisso. É dia e noite essa água jogada fora, dá vontade de chorar até", lamenta a aposentada Cleunice de Souza Antunes, de 69 anos, moradora da Rua Caio Prado.
O problema no edifício da Rua Augusta ocorre em outros da capital construídos sobre cursos dágua ou lençóis freáticos. Ao erguer a garagem subterrânea, a construção do Condomínio Capital Augusta atingiu o lençol. Para evitar o alagamento da garagem, o prédios joga a água em excesso na rua, causando um desperdício não calculado de água.
"A água é contaminada, o pessoal da construtora (Esser) falou que não dá para usar nem para regar as plantas", acrescentou o gestor do condomínio. Já o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) informou que o prédio, se quisesse fazer o reúso da água para lavar suas dependências, por exemplo, teria de pedir autorização ao órgão.
O DAEE diz ainda que não existe desperdício, uma vez que a água drenada para as sarjetas "por vários prédios na cidade de São Paulo" acaba sendo lançada em bueiros. Aí essa água é lançada em uma rede de microdrenagem e chega a um córrego, completando seu "ciclo hidrológico", segundo o governo.
Mas essa mesma água que sai limpa do prédio entra em um córrego poluído, ou seja, ela precisa ser tratada várias vezes, o que resulta em um custo aos cofres da Sabesp, responsável pelo tratamento de efluentes na capital paulista.
Responsável pelo Capital Augusta, a Esser informou que "a água proveniente do sistema de drenagem é imprópria para o consumo e o contato humano e poderá ser reutilizada apenas caso haja interesse do condomínio e seus condôminos, que são responsáveis pelas obras necessárias para sua reutilização e tratamento". A empresa diz que o descarte de água é feito "conforme determinação da legislação".
"É um absurdo esse desperdício. Nunca vi coisa igual", afirma o jornalista Carlos Alfredo Paiva, de 26 anos, morador ao lado. Outros vizinhos já foram cobrar do gestor do prédio uma providência contra o desperdício.
Outro exemplo
Alvo de protestos de vizinhos por adotar a mesma drenagem de água na sarjeta da Rua Frei Caneca, o Condomínio Paulista Home Resort obteve autorização para fazer o reúso da água do lençol freático na lavagem semanal das dependências do prédio.
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