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Justiça quebra sigilo de e-mail de operador de propina do PMDB

26/03/2015 18h45

São Paulo - A Justiça Federal quebrou os sigilos telemático do e-mail do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano, e bancário da concessionária AutoStar São Paulo Comercial e Importadora, que vendeu a Range Rover Evoque de R$ 220 mil, registrado em nome da mulher do ex-diretor de Internacioonal da Petrobras Nestor Cerveró. A força-tarefa da Operação Lava Jato acredita que o carro de luxo foi um "presente" dado ao ex-diretor como forma de ocultar propina.

Para o juiz federal Sérgio Moro - que conduz todas as ações da Lava Jato - "há provas de que a aquisição do veículo teria sido intermediada por Fernando Soares em benefício de Nestor Cerveró, com a participação da esposa deste, Patricia Anne Cunat Cerveró".

Os investigadores passaram a focar o negócio de compra do Range Rover de Cerveró depois de descobrirem na quebra do sigilo fiscal do ex-diretor que ele era dono de um carro da mesma marca e modelo do que havia sido comprado pelo doleiro Alberto Youssef - peça chave da Lava Jato - para o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa em 2013.

Dois pontos comuns que levantaram suspeita foi que os dois Evoques foram adquiridos na mesma loja e os dois foram blindados e pagos em dinheiro. Os carros de luxo acabaram confiscados por determinação da Justiça Federal.

Ao aprofundar as apurações, a Polícia Federal descobriu que o carro registrado em nome da mulher de Cerveró foi negociado e pago em dinheiro vivo por Fernando Baiano, pelo que indicam as provas levantadas até agora.

"A nota fiscal encontra-se em nome da esposa de Nestor Cerveró, Patrícia Anne Cunat Cerveró. Entretanto, na proposta de compra é apontado o endereço eletrônico fsoares@hawkeyespar.com.br como contato para Patrícia."

O endereço eletrônico registrado no documento em nome da mulher de Cerveró é na verdade "de titularidade de Fernando Soares e da empresa dele, Hawk Eyes Administração de Bens Ltda", assinala a Procuradoria.

É essa conta de e-mail que os investigadores vão analisar, à partir da ordem de quebra do juiz federal Sérgio Moro. Além de dar elementos sobre os negócios da compra do Evoque, o material pode levar a Lava Jato a se deparar com provas sobre outros crimes que pairam como suspeita sobre o operador de propina do PMDB.

Fernando Baiano e Cerveró são acusados na Operação Lava Jato de serem braços do PMDB no esquema de corrupção e propina na estatal. Os dois estão presos em Curitiba, base da operação. Além de réus em processo sobre a compra de duas sondas de perfuração marítimas pela Petrobras, os alvos são investigados em inquéritos em andamento sobre outros crimes.

Cliente

Fernando Baiano era um cliente da Autostar. Antes da compra da Evoque registrada em nome da mulher de Cerveró, ele adquiriu outros dois modelos diferentes da marca, em 2011 e 2012, e um terceiro em 2014 - todos registrados em nome da Technis Tecnologia, outra empresa em seu nome.

Em diligência na loja que vendeu os carros dos ex-diretores, a PF chegou até a vendedora que atendeu o operador de propina do PMDB na compra dos carros. "Ouvida, a vendedora da AutoStar declarou que Fernando Soares é quem fez todo o contato com a AutoStar para a compra do veículo."

"A vendedora não teve qualquer contato com Patrícia Cerveró, o que demonstra que o veículo realmente foi adquirido por Fernando Soares em benefício de Patrícia e Nestor Cerveró", escreveu a Procuradoria.

Banco

A Autostar também forneceu à Lava Jato extrato bancário que revela que o veículo foi pago por depósito em dinheiro de R$ 220 mil, em nome de Patrícia Cerveró. Para o juiz Sérgio Moro, "a realização do pagamento do preço do veículo em espécie não é, por si só crime, mas transação de R$ 220 mil em espécie não é nada usual".

"A realização de elevada transação em espécie, sem aparente justificativa econômica, gera fundada suspeita de que o objetivo dela seria dificultar o rastreamento da origem do dinheiro, a real titularidade dos recursos, e acobertar pagamento de propina ou lavagem de dinheiro, suspeita essa reforçada pela participação de Fernando Soares na aquisição do veículo em questão, ele que é acusado pelo MPF exatamente como intermediador de propinas para Nestor Cerveró", registra o juiz.

A força-tarefa não está convencida de que foi a mulher do ex-diretor que fez o depósito. Apesar do registro estar em seu nome, o banco informou que houve estorno no primeiro depósito, por divergência de informações, e que a agência usada tradicionalmente faz atendimento à empresas.

Por conta dessas divergências, foi exigido do banco que sejam apresentados mais detalhes que possam levar à identificação de quem efetivamente compareceu ao banco, em 2012, para pagar o carro de Cerveró.