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Pastelarias têm trabalho escravo e carne de cachorro

Do Estadão Conteúdo

No Rio de Janeiro

14/04/2015 21h34

Investigação sobre trabalho escravo de chineses em pastelarias do Rio levou o Ministério Público do Trabalho (MPT) a descobrir que há uma espécie de entreposto onde donos das lanchonetes escolhem futuros empregados. Os encontros ocorrem em restaurante ainda não identificado.

Cinco chineses foram encontrados em situação análoga à escravidão em três pastelarias. Em uma delas, os procuradores recolheram até mesmo carne de cachorro congelada no freezer.

Os chineses que trabalham ilegalmente nas pastelarias não ficam atrás do balcão, mas dentro dos estabelecimentos. Cumprem jornadas diárias exaustivas, das 5h às 22h. Não folgam. O salário prometido (de R$ 1.500 a R$ 2 mil) fica retido, para quitar despesas da viagem. Os chineses são da região de Guangzhou, na província de Guagdong.

"A impressão que temos é que se trata da mesma quadrilha. Eles viajam em grupos, entre 6 e 10, e são retirados já no setor de imigração no Aeroporto Tom Jobim, onde têm passaportes retidos. São levados para um restaurante, onde uma pessoa responsável negocia os trabalhadores com os donos de pastelarias. Ali é feita a distribuição dos funcionários", disse o procurador Marcelo José Fernandes da Silva.

O primeiro caso ocorreu em 2013 em uma pastelaria em Parada de Lucas, na zona norte. Um jovem chinês era vítima de espancamentos e castigos físicos promovidos pelo patrão, o chinês Van Ruilonc, de 32 anos, condenado por tortura. A vítima, incluída no Programa de Proteção à Testemunha, vivia em cela fechada com cadeado e dormia perto de onde os cães eram mortos a pauladas. A carne dos animais era usada como recheio dos salgados vendidos na lanchonete.

Em 2014, um adolescente de 17 anos foi resgatado em Mangaratiba, na Costa Verde. Ele trabalhava exaustivamente e não recebia refeições - era alimentado com pastéis. O jovem recebeu R$ 90 mil de indenizações trabalhistas. Em março, três chineses foram localizados em pastelaria em Copacabana, zona sul. "Não falam sequer o mandarim, mas um dialeto. A comunicação é muito difícil", disse a procuradora Juliane Mombelli.

Fernandes afirma que não há como fazer ofensiva nas pastelarias. "São muitos estabelecimentos, espalhados por todo o Estado. Agimos em cima de denúncias." Segundo ele, o MPT prepara cartilha em mandarim para distribuir em pastelarias, como forma de informar os chineses sobre seus direitos.