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Crise afeta USP e curso precisa de docente emprestado

24/05/2015 09h02Atualizada em 25/05/2015 08h37

São Paulo - Escolas que sobrevivem com professores "emprestados" de outros campi, materiais de escritório comprados com verba de pesquisa, restrições para ir a congressos acadêmicos e até cursos sem docentes contratados. Esses são reflexos da crise financeira enfrentada pela Universidade de São Paulo (USP) e que afeta atividades acadêmicas na graduação e na pós.

As soluções improvisadas são motivo de queixas dos alunos e de tensão entre reitoria e faculdades.

Desde o início de 2014, as contratações e a maior parte das obras da USP foram congeladas como medida para conter o aumento de gastos. Depois disso, a universidade contratou somente professores temporários - e se acumulam ofícios de departamentos pedindo novos concursos.

O reitor Marco Antonio Zago defende que não há prejuízos significativos a ensino, pesquisa e extensão.

USP Lorena empresta professores 

Mas Caio Henrique Oliveira não encontrou na USP aquilo que imaginava quando fez o vestibular. "Acreditei que teria uma estrutura melhor", diz ele, de 21 anos, aluno do 3º ano da Engenharia Ambiental da USP Lorena.

Na unidade, faltam professores para o curso de Oliveira, e também para as Engenharias Física e de Produção. As três foram criadas em 2011.

Agora que as primeiras turmas chegam à parte profissionalizante desses cursos, o problema se agrava. A USP Lorena "pega emprestado" docentes de outras faculdades, como a Escola Politécnica, e até de outras instituições, em cidades próximas.

A diretoria diz que faz o possível e estima que são necessários ao menos mais 15 professores.

Falta espaço e equipamentos

A falta de espaços e de equipamentos para cada uma das áreas é outra dor de cabeça. "Acho que haveria mais aulas práticas se tivéssemos mais laboratórios", afirma Oliveira. Para ajudar, a escola receberá kits didáticos de outra unidade.

Já na habilitação de Coreano da graduação em Letras, em São Paulo, o quadro de docentes ainda não saiu do zero. O curso existe desde 2013, mas até hoje não há professor concursado, e a saída é improvisada.

"Tivemos aulas com uma professora visitante", conta a aluna Laura Torelli, 22.

Essa docente não é paga pela USP, mas cedida por uma fundação da Coreia do Sul, que tem convênio com a faculdade. A previsão era contratar dois professores da área em 2014, mas a crise fez com que o edital fosse suspenso.

"Quero fazer iniciação científica, mas dificulta não ter professor concursado na área para me orientar no projeto", lamenta Laura, no 2º ano.

Segundo Antônio Bezerra, que coordena a habilitação, "há sério risco de não abrir nova turma no próximo ano". Estudantes que já estão na habilitação temem não conseguir terminar o curso.

Lacunas

Mesmo graduações antigas sofrem com os cofres vazios. O centro acadêmico (CA) da Terapia Ocupacional publicou neste mês um protesto nas redes sociais. A principal queixa é sobre a perda de docentes. Dos 15 do curso, uma já se aposentou e outra sai até setembro.

Segundo Mariana Lima, uma das diretoras do CA, o prejuízo com as aposentadorias será a não oferta de três matérias obrigatórias neste ano.

"Quem está no 2º ou no 1º ano não se forma sem essas disciplinas", aponta ela, de 21 anos. Para veteranos, o problema é na supervisão de estágios nos campos das docentes que estão de saída.

O centro acadêmico pretende circular um abaixo-assinado entre os colegas sobre essa questão. O departamento da área informou que a reitoria ofereceu docentes temporários em resposta ao pedido de reposição.

Falta de verba para congressos

Em algumas graduações, há também queixas de queda nas verbas repassadas pela reitoria para que estudantes participem de congressos e seminários acadêmicos no país. Viagens de campo também se adaptam ao novo cenário - alguns cursos cortaram a fase preparatória.

A reitoria não informou se reduziu os recursos para esse tipo de atividade. Desde 2014, foi cancelado o programa que dava verba para participar de eventos acadêmicos no exterior.

Pós

Mestrados e doutorados também não escapam da crise. A Faculdade de Zootecnia e de Engenharia de Alimentos de Pirassununga, por exemplo, restringiu a participação em eventos fora do Estado. E, nas bancas para avaliar pós-graduandos, são chamados só docentes de instituições paulistas, para baratear os custos do convite.

O aperto nas contas afeta até as atividades corriqueiras. "Falta material básico de papelaria. Às vezes, pegamos dinheiro da pesquisa para comprar cola ou tinta de impressora e não parar o trabalho", conta Walter Neves, que coordena o Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos do Instituto de Biociências (IB). "Isso é imoral."

A verba da pesquisa costuma não vir da USP, mas de agências de fomento. "E, além da restrição orçamentária, há uma burocracia que não funciona", critica. A diretoria do IB não falou sobre a falta de materiais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.