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Novo rito de impeachment definido pelo STF é comemorado no Planalto

A presidente Dilma Rousseff, em agenda no Rio, na quinta (17) -  Roberto Stuckert Filho/Presidência da República
A presidente Dilma Rousseff, em agenda no Rio, na quinta (17) Imagem: Roberto Stuckert Filho/Presidência da República

Em Brasília

17/12/2015 23h03

O novo rito de impeachment definido nesta quinta-feira (17) pelo Supremo Tribunal Federal foi comemorado no Palácio do Planalto e recebido como uma derrota do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Na avaliação de ministros que compõem a coordenação política, a presidente Dilma Rousseff tem agora mais chances de se salvar, mesmo se a abertura do processo for autorizada pela Câmara.

O governo tem maioria no Senado, presidido por Renan Calheiros (PMDB-AL), e está em guerra com Cunha. A esperança do Planalto, agora, é que o Supremo aceite o pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para afastar Cunha, acusado de manter contas secretas na Suíça com dinheiro desviado da Petrobras.

Logo após o veredicto do Supremo, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, telefonou para Dilma, que estava voltando da viagem do Rio para Brasília.

"Ela está segura de que vai vencer essa batalha", disse o ministro. "Considero que o Supremo cumpriu a nobre função de moderador da República. Creio que a Côrte deu a grandeza necessária a um rito processual da relevância do impedimento no regime presidencialista."

A decisão do Supremo de ordenar o voto aberto na Comissão Especial da Câmara, encarregada de analisar o impeachment, também foi considerada uma reviravolta muito importante pelo Planalto. A comissão montada com a benção de Cunha, no último dia 8, era majoritariamente contra Dilma.

"O trem entrou nos trilhos", afirmou o ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU), Luís Inácio Adams. "E os trilhos são retos, não tortos."

Depois do revés sofrido na quarta-feira, quando o ministro Luiz Édson Fachin, relator da ação, rejeitara pontos centrais do processo questionados por Dilma, o governo já esperava nova derrota e havia desânimo no Planalto. A opinião de Fachin, no entanto, não foi acatada pela maioria de seus colegas.

"Tivemos uma vitória por duas razões: uma porque invalida as arbitrariedades do Eduardo Cunha. O Supremo está dizendo que o que ele fez não vale", afirmou o advogado Flávio Caetano, que defende Dilma, citando a ordem do Judiciário para o fim da votação secreta na Câmara e da chapa avulsa na formação da Comissão que analisa o processo.

"Além disso, foi definida a regra do jogo porque, do jeito que a coisa estava, a lei era tirada da cabeça do presidente da Câmara. É claro que o Senado não poderia ser apenas um homologador, um carimbador da Câmara."

Chamou a atenção do Planalto o voto do ministro José Antônio Dias Toffolli, que já foi advogado do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Toffoli acompanhou o parecer de Fachin na ação do impeachment e foi contra Dilma. "Se a presidente não tem apoio de um terço dos deputados, fica difícil a governabilidade", disse ele.

As declarações de Toffoli, que se aliou até ao ministro Gilmar Mendes, ligado ao PSDB, deixaram o governo perplexo.

Em jantar na quarta-feira (16) com Dilma e ministros, no Palácio da Alvorada, Lula disse a ela que o governo precisa retomar a ligação com os movimentos sociais, se quiser evitar o impeachment.

Ainda na quarta, a presidente se reuniu, no Palácio do Planalto, com representantes de 67 entidades da Frente Brasil Popular, que reúne partidos, parlamentares, centrais sindicais, artistas, intelectuais, estudantes e trabalhadores sem teto.