Topo

Executivo relata "ameaças" de assessor de Capez por atraso de propina da merenda

De São Paulo

27/01/2016 15h02

O presidente da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), Cássio Chebabi, investigado na Operação Alba Branca por fraudes na merenda escolar, revelou "retaliações e ameaças" que teria sofrido quando o pagamento de propina no esquema atrasava. Ele afirmou que as cobranças eram feitas até por mensagem de WhatsApp de um assessor do deputado Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Em depoimento à Polícia Civil e ao Ministério Público do Estado, Cássio Chebabi citou o nome do assessor do tucano, Luiz Carlos Gutierrez, o Licá - cabo eleitoral de Capez na região da Mooca, zona Leste de São Paulo. O executivo também apontou Jeter Rodrigues, que foi assessor do presidente da Assembleia Legislativa.

Capez, Licá e Jeter já haviam sido citados no esquema de corrupção por outros quatro funcionários da Coaf, investigados da Alba Branca: César Augusto Bertholino, Adriano Gibertoni Mauro, Carlos Luciano Lopes e Carlos Alberto Santana da Silva.

Chebabi atribuiu as informações a César Bertholino, vendedor da Coaf. "Quando a Coaf atrasava, devido a dificuldades financeiras, o pagamento da 'comissão' ao Governo do Estado, eram feitas retaliações e ameaças, desde barrar a entrega dos produtos no Centro de Distribuição da Pasta Estadual da Educação na cidade de Cajamar até a transmissão de mensagens por "watszap" (sic) de um assessor do deputado Fernando Capez, identificado por César como Licá, o qual também seria cunhado daquela deputado", afirmou o presidente da Coaf.

Chebabi contou aos investigadores que para Jeter Rodrigues "ajudar" nos interesses da empresa, a Coaf cedeu um carro para a campanha eleitoral de 2014 de Fernando Capez. Ele disse não se lembrar da placa do veículo.

Segundo Chebabi, na mesma época da campanha para governos e Legislativos estadual e federal e para a futura contratação da Coaf pelo Governo do Estado, a Cooperativa emitiu um cheque do Banco Bradesco, no valor de R$ 50 mil pré-datado para 90 dias. Cássio Chebabi disse que o cheque foi levado por César para o lobista Marcel Ferreira Julio, que entregaria a Jeter.

Filho do ex-deputado Leonel Julio - cassado em 1976 pelo regime militar em um episódio que ficou conhecido como "escândalo das calcinhas" -, Marcel Ferreira Julio atuaria como operador de propinas e lobista.

"O cheque, todavia, foi devolvido por falta de fundos, já que dependia seu pagamento dos prévios pagamentos do Estado pela Coaf, o que, assessoria do deputado garantia que se daria no prazo do pré datamento, mas como o contrato e os pagamentos passaram se dar apenas em meados do ano seguinte, o cheque voltou", relatou.

Chebabi afirmou à polícia que quando os pagamentos do Estado se efetivaram, o cheque foi pago e resgatado, "mediante comunicação a Marcel".

Fernando Capez rechaça categoricamente as denúncias que o envolvem com fraudes da merenda escolar. Desde que seu nome foi citado por investigados da Operação Alba Branca, o tucano reitera que "nunca ouviu falar da Coaf", nem do presidente da cooperativa, Cássio Chebabi.

Capez disse que em dezembro demitiu Jeter Rodrigues da sua assessoria. "Ele usou o meu nome para indicar um delegado de polícia para um cargo em São Paulo", afirmou. O presidente da Assembleia Legislativa disse que acredita "na inocência e na honestidade" de Luiz Gutierrez, do Licá, seu assessor e cabo eleitoral.

Após assumir presidência, Capez criou talk show em TV pública

UOL Notícias