Cias de educação podem testar modelos de crédito privado em 2016
A Kroton pode colocar em prática, a partir do segundo semestre deste ano, um piloto de seu programa de financiamento de longo prazo, de acordo com o vice-presidente de Finanças, Frederico Abreu. A empresa tem conversado com bancos sobre a hipótese de criação de uma joint venture para crédito estudantil e pode ainda optar por usar um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FDIC).
A expectativa da empresa, segundo Abreu, é diversificar o funding depois que a companhia decidiu comprometer recursos próprios com um empréstimo de curto prazo para alunos que não tinham conseguido o Fies, no auge das mudanças do primeiro semestre do ano passado. Ao final de setembro, eram 17,9 mil alunos financiados pela Kroton nesse sistema, com recursos de seu próprio balanço. Mas a maior parte deles entrou no começo do ano e, no segundo semestre, a oferta foi reduzida. O objetivo, diz Abreu, é manter uma oferta mais controlada desse produto de maior risco para a empresa daqui para frente.
A Ser Educacional, que também implementou um financiamento com recursos próprios, o Educred, acredita na possibilidade de que outros programas avancem ainda este ano. De acordo com o presidente da companhia, Jânyo Diniz, a empresa estuda formas de associação com instituições financeiras que envolvem a instituição de ensino subsidiar parte dos juros ou assumir o risco de crédito. Ainda que esse modelo também possa impactar os resultados no caso de alta inadimplência, Diniz considera que a alternativa é menos arriscada do que o financiamento com recursos próprios.
Já a Estácio não usou recursos próprios com financiamento no ano passado. Mas a empresa espera ampliar o crédito oferecendo produtos já existentes no mercado para os estudantes de ensino a distância, uma vez que hoje os modelos são mais voltados para a graduação presencial. Outra alternativa seria a empresa utilizar captação de recursos por meio de FDIC e assumir algum risco de crédito, embora o diretor Financeiro, Virgílio Gibbon, faça ressalvas. "Se a gente vai assumir risco no nosso balanço ou não e quanto é algo que ainda não está definido", comenta.
O setor vive o desafio de entrar em terreno desconhecido, mas os executivos descartam que o crescimento das matrículas daqui para frente dependa de uma oferta de crédito excessivamente agressiva, com muita tomada de risco. "O financiamento é importante, mas, por outro lado, os preços das mensalidades hoje chegaram a um patamar capaz de enquadrar estudantes de diferentes classes de renda", afirma Gibbon.
Para Abreu, a demanda de alunos pagantes, sem financiamento, por ensino, não está ameaçada no longo prazo. O financiamento, diz, pode ajudar a incluir mais alunos por sala de aula e a diluir custos. Como a operação de uma sala de aula tem um custo fixo, para não comprometer a rentabilidade, as salas serão preenchidas primeiramente com alunos pagantes, depois com os financiados com recursos terceiros. Por fim, a companhia decide se pode ser interessante adicionar ainda mais alunos por turma com o financiamento próprio, explica.
Risco de inadimplência
A possibilidade de ampliar a oferta de crédito para suprir o buraco deixado pelo Fies acaba esbarrando numa das preocupações entre analistas do setor: a inadimplência. No Fies, os pagamentos atrasados há mais de 360 dias atingiram 23,66% dos contratos em fase de amortização do programa em 2014, segundo relatório da Controladoria-Geral da União (CGU).
Para evitar índices como esse, o setor corre para desenvolver métodos para análise e definições de política de crédito e estão criando ainda áreas de cobrança. "Se houver um processo de avaliação adequado, se houver um processo de cobrança adequado, o risco de inadimplência, eu acredito, será muito menor", diz Diniz, da Ser Educacional.
Gibbon considera que as companhias já têm bastante conhecimento sobre o comportamento financeiro dos alunos quando eles já estão estudando, mas o desafio é conseguir mensurar o risco para aqueles que estão se matriculando pela primeira vez. "As empresas estão correndo atrás desse know-how de cobrança e risco", diz.
Na Kroton, a busca por esse tipo de conhecimento envolveu a compilação de uma base estatística de todos os alunos da empresa. De acordo com Abreu, hoje a companhia consegue saber, por exemplo a taxa de evasão para cada perfil de aluno em cada curso e região. Esse é um critério importante porque, entre os alunos que evadem, os calotes são muito mais frequentes.
Por outro lado, o financiamento pode até ajudar a impedir que alunos com problemas financeiros evadam. Para Diniz, da Ser Educacional, a disposição das companhias a assumir algum risco de crédito se justifica em razão de outros benefícios que o financiamento pode trazer. "As empresas estão tendo que avaliar até que ponto o financiamento vai contribuir para reduzir a inadimplência e a evasão. Aí teremos uma medida do nível de risco que podemos incorrer", resume.
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