Prefeitura de SP passa tinta cinza sobre grafites no Minhocão
Conforme publicou a Folha de S.Paulo na edição desta quarta, 2, a Prefeitura passou tinta cinza nos pilares do Minhocão, na altura da Rua Amaral Gurgel. A Subprefeitura da Sé se explicou, alegando que "as obras estavam danificadas tanto por pichações quanto por propagandas irregulares como lambe-lambes colados por cima." A situação, segundo a pasta, foi verificada após levantamento fotográfico realizado na região.
"Vale destacar que a Subprefeitura Sé não só coíbe a destruição e degradação de grafites, como promove eventos e ações de incentivo à arte de rua, é caso dos murais no corredor Leste - Oeste, na região da Liberdade e do projeto "O.bra Festival", uma parceria entre artistas brasileiros e estrangeiros realizada em outubro do ano passado que resultou em uma semana de oficinas de grafite e a execução de diversos painéis no entorno do largo do Arouche", informou ainda a Subprefeitura, em nota.
Transformadas em galeria a céu aberto, as pilastras do Minhocão já receberam a série Giganto, com fotografias hiperdimensionadas de habitantes da região - obra de Raquel Brust -, grafites de Cranio, Samuca Santos, Rosane Andrade, Tarcio Vasconcelos e muitos outros.
Como é do feitio desse tipo de arte contemporânea, sazonal e mutante, as pilastras apagadas recentemente já começaram a receber novas intervenções. Em uma delas, a cobrança é ao prefeito Fernando Haddad (PT): "Mais cor na cidade! Haddad não apague nossa arte!", pede a obra.
Repercussões
Moradores do entorno lamentam o cinza em cima das cores. "Gostava muito. Espero que as pilastras sejam pintadas de novo. Conferiam uma cara melhor à área", diz o comerciante Antonio Marques Correia. "Antigamente dava para parar e divagar um pouco nas imagens, enquanto esperava para atravessar. Mas o número de moradores de rua de má fé aumentou, então prefiro não brincar com a sorte", afirma a avaliadora olfativa Gabrielli Tonon.
Para o arquiteto e urbanista Lourenço Gimenes, do escritório FGMF Arquitetos, a prefeitura deveria adotar uma outra postura. "Em vez da atitude de apagar o que quer que seja, muitas vezes eliminando intervenções interessantes, ela deveria incentivar esse tipo de arte de maneira mais estruturada. Ao reconhecer na cidade o potencial da arte urbana, pela qual São Paulo já é mundialmente reconhecida, poderia haver um plano de estímulo à ocupação por grafite", sugere.
"Gasta-se com essa pintura 'higienista' um dinheiro que poderia custear artistas, transformando a cidade num grande museu a céu aberto no longo prazo. A curadoria dessas intervenções, a seleção de artistas e a criação de um roteiro de arte urbana seriam uma solução interessante, com consistência para formalizar uma vocação da própria cidade. De quebra, ocupam-se com arte os espaços que hoje são tomados de pichações, o que me parece mais eficaz do que 'limpar a tela' para novas."
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