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Tesoureiro da campanha de Dilma diz que taxista foi à UTC "buscar brindes"

José de Filippi Junior na sede da Polícia Federal, dia 4 de março de 2016 - Reinaldo Canato-4.mar.2016/Folhapress
José de Filippi Junior na sede da Polícia Federal, dia 4 de março de 2016 Imagem: Reinaldo Canato-4.mar.2016/Folhapress

De São Paulo

21/03/2016 12h19

O ex-tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff (2010) José de Filippi Junior afirmou à Polícia Federal que João Henrique Worn, seu "taxista de confiança", foi à sede da UTC Engenharia "buscar brindes".

A Operação Lava Jato investiga se o ex-tesoureiro recebeu propina da UTC, em decorrência de contratos celebrados com a Petrobras. Filippi prestou depoimento no dia 4 de março, quando foi conduzido coercitivamente na Operação Aletheia, desdobramento da Lava Jato que pegou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

José de Filippi afirmou, em depoimento, que mantém relação com a UTC desde 2006 e que a empreiteira fez doações para a campanha presidencial de 2006 a 2010 de Lula e Dilma, respectivamente. O ex-tesoureiro disse que todas as doações eleitorais estão registradas e foram realizadas por meio de transferências eletrônica. "Nunca realizaram nenhuma transação envolvendo dinheiro em espécie."

A UTC é uma das empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção e pagamento de propinas instalado na Petrobras entre 2004 e 2014. Segundo os investigadores, João Henrique Worn foi o responsável por receber, em nome de José de Filippi, entre 2010 e 2014, cerca de R$ 750 mil em diversas oportunidades na sede da UTC, conforme tabela apresentada pelo dono da empresa, Ricardo Pessoa, e o executivo ligado à empreiteira Walmir Pinheiro, ambos delatores da Lava Jato.

No depoimento, José de Filippi disse que João Henrique é uma pessoa de confiança. "Algumas vezes João Henrique foi até a empresa UTC buscar brindes para o declarante, em razão de datas comemorativas (Natal, aniversário, etc)". Filippi disse, ainda, que "João Henrique nunca esteve na UTC com o propósito de arrecadar doações ou qualquer outra espécie de recurso financeiro".

À Polícia Federal, José de Filippi confirmou que João Henrique conhece Walmir Pinheiro, da UTC. "Desde 2009, João Henrique passou a ser motorista autônomo e o declarante como deputado federal, contratava seus serviços; que boa parte das vezes em que o declarante foi até a empresa UTC, João Henrique o levou; que a João Henrique inclusive conhece Walmir Pinheiro", diz o depoimento.

Entre julho de 2011 e dezembro de 2012, durante seu mandato, José de Filippi gastou R$ 37.360 mil de sua cota parlamentar com o taxista. Os dados constam do site da Câmara. Os recibos de João Henrique contabilizaram valores entre R$ 80 e R$ 600.

Filippi detalhou, no depoimento, que "no ano de 2010 a UTC contribuiu com R$ 150 mil para a campanha de deputado federal do declarante" e "que nunca desenvolveu nenhuma atividade remunerada na Empresa UTC", Disse, ainda, que conhece Ricardo Pessoa desde o ano de 2006 "em razão da campanha presidencial". "As contribuições realizadas para a campanha presidencial de Lula e de Dilma Roussef eram operacionalizadas por Walmir Pinheiro", afirmou

O ex-tesoureiro informou à PF que visitou "várias vezes a sede da empresa UTC", não sabendo precisar o número, mas acreditando que tenha sido "mais de dez visitas".

Segundo ele, as visitas eram para tratar das doações para as campanhas eleitorais e para tratar de um projeto sobre mobilidade urbana envolvendo a empresa Constran.

"Em algumas dessas visitas faziam-se presentes o Deputado Federal Arnaldo Jardim, e secretário de Energia José Aníbal, dentre outros. O depoimento aponta que, em 2010, a UTC doou R$ 5,5 milhões para as campanhas presidenciais e R$ 150 mil para a campanha de Filippi. Em 2014, o tesoureiro disse ter feito "uma solicitação a Ricardo Pessoa para que a UTC fizesse contribuições partidárias".