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Secretário-geral da ONU: crise política no Brasil entra no radar e preocupa

Dilma e Ban Ki-moon durante encontro em setembro de 2015 - ANDREW KELLY-28.set.2015/Reuters - ANDREW KELLY-28.set.2015/Reuters
Dilma e Ban Ki-moon durante encontro em setembro de 2015
Imagem: ANDREW KELLY-28.set.2015/Reuters

De Genebra (Suíça)

30/03/2016 09h53

A cúpula da ONU alerta que a crise política no Brasil pode ter um impacto internacional e, pela primeira vez, apela para que os líderes nacionais atuem para solucionar o impasse que vive o país. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, indicou que a instabilidade no país entrou no radar da entidade e pediu uma reação "harmoniosa" diante da crise.

"Por enquanto, esse é um problema político doméstico. Mas o Brasil é um país muito importante e qualquer instabilidade política no Brasil é uma preocupação social para nós", disse Ki-moon, em Genebra.

O coreano fez um apelo, o primeiro em relação ao Brasil em quase dez anos de seu comando da ONU e uma atitude rara nos contatos das Nações Unidas com o país. "Peço que os líderes adotem soluções harmoniosas e tranquilas", declarou. "Sei que é um desafio que o país vive. Mas acho que vão conseguir superar ", disse.

Ki-moon, que por anos apostou no Brasil e em outros governos emergentes para fortalecer o sistema multilateral, agora rompe seu silêncio e alerta para a crise.

Na cúpula da entidade, a preocupação é de que o impasse político no Brasil possa contaminar outros governos da região onde processos democráticos ainda frágeis poderiam ser minados.

No início de março, o secretário de Direitos Humanos, Rogério Sottili, afirmou que, em encontros com a ONU em Genebra, chegou a falar sobre a crise vivida pelo país. Seu tom foi, acima de tudo, o de mostrar que a questão de direitos humanos está ligada com o clima que vive o país." Eu não poderia ignorar a situação que o Brasil vive hoje", disse.

Ao falar com jornalistas brasileiros na ocasião, Sottili ensaiou uma crítica à imprensa, dizendo que a ONU parece saber "mais do Brasil que muitos brasileiros". "Acho que aqui a informação chega de forma mais qualificada", ironizou.

Na entidade, porém, o recado é tanto para a oposição quanto para o governo. Há apenas uma semana, a ONU rompeu seu silêncio e alertou para a crise brasileira. Em um apelo tanto aos atuais ocupantes do governo federal como aos demais partidos políticos, a Organização das Nações Unidas disse esperar que os agentes públicos brasileiros "cooperem totalmente" com as autoridades judiciárias nas investigações sobre "suposta corrupção de alto nível, para evitar quaisquer ações que possam ser vistas como um meio de obstruir a Justiça". Mas também lembrou que o Judiciário deve atuar com "escrúpulos, dentro das regras do direito doméstico e internacional, evitando adotar posições político-partidárias."

"Estamos preocupados com a possibilidade de que um círculo vicioso possa estar sendo desenvolvido que acabe afetando a credibilidade tanto do Executivo como do Judiciário", disse Rupert Colville, porta-voz da ONU.

Nesse inédito posicionamento da organização sobre a crise política brasileira, a entidade faz cobranças a todos os agentes protagonistas da atual situação ao se dizer "preocupada com os debates cada vez mais politizados e acalorados" registrados nas últimas semanas no País.

Para o Alto Comissariado, essa situação ameaça causar "um sério dano de longo prazo para o Estado e para as conquistas democráticas feitas nos últimos 20 anos nos quais o Brasil tem sido governado sob uma Constituição que dá fortes garantias de direitos humanos".