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"Não vou deixar que um maluco impeça meu trabalho", diz juíza feita refém

Em São Paulo

01/04/2016 08h28

A juíza Tatiane Moreira Lima, feita refém na tarde de quarta-feira (30) no Fórum do Butantã, zona oeste de São Paulo, divulgou mensagem de agradecimento a um grupo de magistrados no WhatsApp. No áudio, diz que está bem e não vai deixar que "um maluco" impeça seu trabalho. O motorista Alfredo José dos Santos, 36, foi detido após ameaçar incendiá-la.

Atualmente, mais de 200 juízes recebem proteção policial no país, conforme levantamento deste ano da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros). Segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), 83% dos casos de ameaça a juízes envolvem profissionais de primeira instância, como Tatiane.

O Fórum do Butantã ficou fechado, e o expediente só deve ser retomado nesta sexta-feira (1º). Para o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, o crime contra a juíza "expõe de maneira explícita e cruel a intolerância e brutalidade e é motivo de preocupação para o país". O TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) informou, sem detalhar, que serão tomadas medidas para garantir a segurança dos funcionários do fórum. Na quinta (31), 40 juízes se reuniram com o presidente do TJ, Paulo Dimas Mascaretti, para prestar solidariedade à juíza e discutir segurança.

No áudio divulgado na quinta-feira, Tatiane conta que os danos físicos e psicológicos foram mínimos. "Que essa situação difícil que eu vivi possa se tornar algo bom e beneficiar toda a nossa carreira, porque expõe realmente um risco a que todos estamos sujeitos", disse. A magistrada ainda destacou sua atuação em relação à violência doméstica e disse que "uma pessoa só não pode apagar um trabalho que beneficia uma série de pessoas".

O ataque

O motorista Alfredo José dos Santos, de 36 anos, responde a processo criminal por agressão contra a ex-mulher na Vara de Violência Doméstica presidida pela magistrada, no Fórum do Butantã, na zona oeste. O caso em análise aconteceu em 21 de agosto de 2013.

A auxiliar de serviços gerais Andréa Conceição, de 42 anos, voltava para casa a pé quando foi atacada por Santos, na Rua Frederico Lecor. Ela foi agredida com socos, chutes e só conseguiu escapar porque gritou por socorro. Uma amiga dela ouviu os gritos e a socorreu. Santos fugiu. O caso foi registrado no 33.º DP (Pirituba) como violência doméstica e lesão corporal.

Um mês depois, o motorista registrou dois boletins de ocorrência na mesma delegacia, acusando Andréa de maus-tratos contra o filho de 4 anos. As acusações não foram confirmadas pela polícia.

Santos não se conformava com a postura rigorosa da magistrada nas audiências. Segundo a polícia, ele prestaria depoimento às 14h15 de quarta-feira. Chegou antes, no entanto, e entrou correndo pela saída.

Ele carregava material explosivo e incendiou um dos corredores. Em seguida, correu para a sala de audiência onde estava a juíza e a dominou dando numa "gravata". Tatiane foi agredida e jogada no chão.

O agressor jogou gasolina e um produto inflamável na magistrada e ameaçou queimá-la com um isqueiro. Policiais militares e civis passaram a negociar a libertação. A ação foi gravada a pedido do criminoso.

Em uma das cenas, o homem obriga a juíza a dizer que ele é inocente das acusações de agressão. Santos acaba detido pelos policiais ao se distrair. Ele foi preso por tentativa de homicídio e resistência. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".

Magistrados pedem mais segurança

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