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PT cobrou por obra na Venezuela, diz delator

O ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez Otávio Marques Azevedo  - Rodolfo Buhrer/Reuters
O ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez Otávio Marques Azevedo Imagem: Rodolfo Buhrer/Reuters

De São Paulo

17/04/2016 10h00

Delator em processo que investiga corrupção na Eletronuclear, em que é réu, o executivo Otávio Azevedo, ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez, acusou o PT de ter exigido propina pela construção de uma siderúrgica na Venezuela, em depoimento à Justiça Federal.

A obra, segundo a denúncia, teria sido intermediada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o então presidente venezuelano Hugo Chávez. Inicialmente, afirmou o depoente, não houve vinculação entre o contrato obtido com suposta ajuda de Lula e o pedido. A exigência de 1% sobre o valor só teria sido feita um ano depois, pelo então tesoureiro do PT, João Vaccari.

O PT, o ex-presidente e o advogado de Vaccari, preso pela Operação Lava Jato, negaram a acusação ao Jornal Nacional, da TV Globo, que obteve uma gravação da audiência.

A cobrança de propinas pelo PT, de acordo com Azevedo e Flávio Barra, ex-presidente da Andrade Gutierrez Energia e também réu no processo por corrupção, remonta a 2008. Foi quando, segundo os executivos, o então presidente do PT, Ricardo Berzoini, hoje ministro-chefe da Secretaria de Governo, avisou que a partir de então a empreiteira deveria pagar 1% sobre todos os contratos que mantivesse com o governo federal, não só com a Petrobras.

A exigência, disse Azevedo ao juiz Marcelo Bretas, incluía os negócios passados, o que "foi de pronto recusado", afirmou o executivo. O processo investiga corrupção na Eletronuclear e na construção de Angra 3. Os executivos cumprem prisão domiciliar e tiveram suas delações homologadas pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF).

No áudio do depoimento, obtido pela emissora, Azevedo conta que depois que a Andrade Gutierrez "conversou com o presidente Lula", ele pediu diretamente ao presidente Chávez que, na hora que ele fosse decidir, olhasse também para o Brasil". Declara ainda que "não houve um pedido (de dinheiro) nem do presidente Lula nem posterior de nada (...)." Um ano depois, "apareceu o Vaccari fazendo então a pedida: ‘Olha, vocês têm o acordo daquele 1%, então vocês devem pagar 1% sobre a parte brasileira’".

Defesas

Em nota ao JN, o Instituto Lula negou favorecimento de Lula a empresas e também afirmou que o ex-presidente não intermediou nenhum negócio, tendo levado, quando presidente, 84 missões empresariais brasileiras ao exterior. O objetivo seria promover o Brasil e suas empresas, o que seria dever do presidente. Berzoini disse ter pedido contribuição formal e legal à Andrade, sem nenhuma vinculação com obras ou contratos. A defesa de Vaccari também declarou que o então tesoureiro solicitava à empreiteira doação legais, que eram depositadas em contas declaradas às autoridades. O PT também informou que recebeu dinheiro dentro da lei.

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".