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Dilma diz que 'infelizmente' Temer e Cunha são cúmplices de um processo grave

06/05/2016 11h45

Brasília - No mesmo dia em que a comissão do impeachment do Senado votará o relatório sobre seu possível impedimento, a presidente Dilma Rousseff usou mais uma cerimônia no Palácio do Planalto para defender seu mandato e atacar o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP). "Não vamos nos iludir. Todos aqueles que são beneficiários desse processo, como, por exemplo, aqueles que estão usurpando o poder, infelizmente o vice-presidente da República, são cúmplices de um processo extremamente grave", disse.

Em seu discurso, Dilma comentou o afastamento de Cunha na quinta-feira, 5, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e afirmou que, com isso, o Poder Judiciário confirmou que o presidente da Câmara afastado "usava de práticas condenáveis". "Uma das práticas mais condenáveis foi a chantagem explícita contra o meu governo", disse, ressaltando que a situação é "descarada".

Sem comentar que o governo pretende questionar no Supremo o fato de Cunha ter conduzido o processo de impeachment na Câmara, Dilma disse que "o pecado original deste processo não pode escondido". "Não foi só chantagem explícita, é um golpe explícito e o desvio de poder", afirmou.

Na quinta-feira, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, disse que pedirá ao STF a anulação do processo com base no "desvio de finalidade" do presidente da Câmara. No Planalto, entretanto, interlocutores de Dilma dizem que Cardozo "está apenas cumprindo o seu papel" e que é difícil reverter o processo.

A presidente, que participou nesta sexta-feira, 6, de cerimônia relativa ao Programa Minha Casa Minha Vida, afirmou ainda que sabe que é "muito incômoda" para alguns e reafirmou que não irá renunciar. "Eu tenho a disposição de resistir. Resistirei até o último dia", pontuou. "Vivemos um impeachment golpista; é ridícula essa questão de pedaladas fiscais."

Pouco antes de começar a cerimônia, o ministro do desenvolvimento agrário, Miguel Rossetto, chamou o vice-presidente Michel de "impostor" e ameaçou avisando que seu "governo ilegítimo não terá um minuto de sossego". "Ele (Temer) é um golpista e seu governo não terá legalidade", comentou o ministro. E acrescentou: "Será uma crise prolongada e não haverá estabilidade política no País com um presidente impostor".

Retrocesso

Ao defender o programa Minha Casa Minha Vida, Dilma afirmou ter "consciência" de que o "golpe" não é exclusivamente contra o seu mandato. "Fui eleita com 54 milhões de votos e com um programa", afirmou. "O que está acontecendo é uma eleição indireta, que é travestida de impeachment. Vão querer, na maior cara de pau, referendar um programa que não foi eleito nas urnas", completou.

Sem citar diretamente Temer, Dilma disse que vão querer reduzir o Bolsa Família "a pó". Segundo ela, a proposta sugerida pelo PMDB de limitar o benefício a 5% da população deixará "mais de 36 milhões de pessoas à margem". "O bolsa família hoje contempla 47 milhões de pessoas. A proposta reduziria para 10 milhões", disse.

Mesmo com o impeachment em estágio avançado, Dilma seguiu falando de metas e prometeu a contratação de mais 2 milhões de casas no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida Segundo ela, ao final de 2018, o governo terá construído mais de 5 milhões de unidades habitacionais. "A cada oito brasileiros, um terá uma casa do Minha Casa Minha Vida", afirmou. Na cerimônia desta sexta-feira, o governo anunciou a contratação de 25 mil unidades habitacionais no âmbito do programa.

Apoio social

Como aconteceu nos últimos eventos no Palácio do Planalto, a cerimônia teve uma plateia - desta vez bastante reduzida - formada por claque de apoiadores de Dilma, como os movimentos sociais. Das cerca de 400 cadeiras separadas para o evento, mais de 100 estavam vazias.

O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, que discursou no evento, fez duras críticas ao processo de impeachment e disse que "é importante que se reafirme que há um golpe, conduzido pelo maior bandido da história, que é o senhor Eduardo Cunha".

Boulos questionou o fato de o Superior Tribunal Federal (STF) julgar pelo afastamento de Cunha. "Por que demoraram quatro meses para afastar Cunha? Dizem que tentaram higienizar o golpe, mas nem com muito desinfetante vão higienizar o golpe neste País", afirmou.

Boulos afirmou ainda que há um risco "real e iminente" de retrocessos no Brasil e garantiu que os movimentos sociais vão tomar as ruas após o afastamento de Dilma. "Não daremos nenhum passo atrás, presidente, e barraremos nas ruas esse golpe e qualquer retrocesso", disse o coordenador do MTST a Dilma. "O jogo ainda não está jogado. Nas ruas o povo está pronto para defender o golpe." "Para aqueles que querem ameaçar a democracia: não mexam com as conquistas históricas do povo brasileiro. A luta está na rua".