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Juiz destaca comportamento 'reprovável e suspeito' do presidente da Eletronuclear

Policiais Federais fazem buscas na sede da Eletronuclear, no centro do Rio. A ação faz parte da Operação Pripyat - Gabriel de Paiva - 6.jul.2016/ Agência O Globo
Policiais Federais fazem buscas na sede da Eletronuclear, no centro do Rio. A ação faz parte da Operação Pripyat Imagem: Gabriel de Paiva - 6.jul.2016/ Agência O Globo

De São Paulo

07/07/2016 10h21

O juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, do Rio, afirmou na decisão que deflagrou a Operação Pripyat, nesta quarta-feira (6) que a conduta do presidente da Eletronuclear Pedro José Diniz Figueiredo frente às investigações na subsidiária da Eletrobras é "extremamente reprovável" e "suspeita".

Segundo Marcelo Bretas, os autos indicam que Figueiredo permitiu que diretores investigados da Eletronuclear "retirassem documentos e objetos de suas salas lacradas, como também interferiu nos trabalhos internos de investigações do escritório Hogan Lovells".

Figueiredo foi afastado da presidência da Eletronuclear por ordem judicial na Pripyat - desdobramento da Operação Lava Jato que aponta propinas milionárias para ex-dirigentes do alto escalão da estatal do setor elétrico nas obras de Angra 3.

A força-tarefa da Operação Pripyat não atribui ao presidente da Eletronuclear recebimento de valores ilícitos. O que pesa contra ele é a suposta intromissão na apuração interna. A Operação Pripyat é uma missão conjunta da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

"É de rigor a suspensão do exercício de função pública pelo investigado Pedro José Diniz de Figueiredo, tendo em vista tudo que até aqui foi apurado. De fato, a postura do atual presidente da Eletronuclear afigura-se extremamente reprovável, além de suspeita", afirmou Bretas.

Pedro Figueiredo foi incluído no monitoramento da Pripyat depois de ter "franqueado acesso aos investigados às suas respectivas salas, mesmo após a lacração determinada pela Eletrobras".

A Pripyat avançou sobre ex-dirigentes do alto escalão da Eletronuclear: o ex-diretor técnico Luiz Antonio de Amorim Soares, o ex-diretor de Administração e Finanças Edno Negrini, o ex-diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente Persio José Gomes Jordani, o ex-superintendente de Gerenciamento de Empreendimentos Luiz Manuel Amaral Messias e o ex-superintendente de Construção José Eduardo Brayner Costa Mattos.

Todos ocuparam cargos importantes na hierarquia da estatal, segundo a Procuradoria da República. Eles teriam recebido da empreiteira Andrade Gutierrez vantagens ilícitas em dinheiro vivo ou por contratos fictícios com empresas laranjas.

Luiz Antonio de Amorim Soares, Luiz Manuel Amaral Messias e José Eduardo Brayner Costa Mattos foram afastados da Eletronuclear, segundo a Polícia Federal, em 14 de abril de 2016, por decisão do Conselho de Administração de sua controladora Eletrobras, e tiveram suas salas lacradas.

O motivo do afastamento seria a tentativa dos gestores de apagar dados de seus computadores e dispositivos de armazenamento digital antes de entregá-los à empresa de investigação Hogan Lovells, contratada pela Eletrobras para realizar apurações internas na Eletronuclear após o descobrimento de irregularidades nas licitações para as obras de construção e montagem da usina nuclear Angra 3.

Vantagens ilícitas

A Operação Pripyat revelou que o ex-presidente da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, preso nesta quarta-feira, no Rio, recebeu R$ 12 milhões em propinas das obras de Angra 3. O valor corresponde a 1% do montante da construção, orçada em R$ 1,2 bilhão.

Outra parte da propina, segundo a Procuradoria da República, foi dividida entre cinco ex-dirigentes do alto escalão da estatal.

A Operação Pripyat indica ainda que houve propina para "núcleo político da organização criminosa, investigado no âmbito do Supremo Tribunal Federal". A investigação mostra que a empreiteira Andrade Gutierrez pagou as propinas.

Defesas

A reportagem procurou a Engevix. Os advogados de Pedro Figueiredo, Luiz Antonio de Amorim Soares, Luiz Manuel Amaral Messias e José Eduardo Brayner Costa Mattos não foram localizados. O espaço está aberto para manifestação. A Eletronuclear não quis se manifestando sobre a operação.

Em comunicado ao mercado, a Eletrobras informou aos seus acionistas e ao mercado em geral "que tomou conhecimento pela imprensa de suposta operação da Polícia Federal, iniciada na manhã de hoje (ontem), envolvendo o ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva e outros. A Companhia está verificando o episódio noticiado pela imprensa e manterá o mercado informado".

A defesa de Adir Assad disse que "adotará todas as medidas cabíveis para revogação da prisão decretada. Os fatos datam de 2007 a 2012 e nenhum fato concreto novo ocorreu até hoje, inexistindo motivos para a preventiva. O Supremo Tribunal Federal, em habeas corpus concedido ao acusado Adir Assad no final do ano, entendeu substituir o regime fechado por domiciliar e outras restrições, sendo excessiva, desnecessária e inútil ao andamento do processo essa nova medida extrema."