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'Parabéns a esse time campeão', comemora ex-presidente da Andrade Gutierrez

O ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez, Otávio Marques Azevedo, ao ser preso em Curitiba (PR) - Rodolfo Buhrer - 26.jun.2015/Reuters
O ex-presidente da construtora Andrade Gutierrez, Otávio Marques Azevedo, ao ser preso em Curitiba (PR) Imagem: Rodolfo Buhrer - 26.jun.2015/Reuters

De São Paulo

12/07/2016 10h15

"Parabéns a esse time campeão." A mensagem é o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo, delator da Operação Lava Jato, e foi enviada no dia 19 de dezembro de 2013 para Ricardo Mello Castanheira, executivo do Grupo CCR, braço da empreiteira que atua no setor de transportes, como rodovias e aeroportos.

A congratulação feita ao executivo encerra uma série de mensagens entre os dois, entre os dias 12 de novembro e 19 de dezembro de 2013, nas quais tratam sobre concessões de rodovias realizadas pelo governo da presidente afastada Dilma Rousseff. A CCR foi vencedora do trecho da BR-163 em Mato Grosso do Sul.

Nas conversas reunidas pela força-tarefa da Operação Lava Jato, os investigados citam tratativas com o então ministro de Transportes, Cesar Borges, e da Casa Civil, a atual senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Gleisi, em nota, diz que sempre parabenizou os vencedores. A CCR também argumentou que houve comemoração pelo resultado. 

"Você já deve saber. Ganhamos a 163 MS, Gleisi mandou um abraço e agradeceu. César Borges muito feliz. Abs", escreveu Castanheira para o então presidente da Andrade Gutierrez, na mensagem anterior à congratulação de resposta.

Gleisi Hoffmann é investigada pela Lava Jato nos inquéritos que correm no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo alvos com foro privilegiado. Seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento e Comunicações), foi preso no dia 23 de junho, alvo da Operação Custo Brasil - desmembramento da Lava Jato.

Os dois são suspeitos de receberam propinas desviadas via Ministério do Planejamento de contratos de empréstimos consignados em folha dos servidores federais - um rombo de mais de R$ 100 milhões, entre 2010 e 2015.

No dia 22 de novembro de 2013, Otávio Azevedo havia enviado mensagem de celular para Castanheira informando que "a Gleisi acabou de ligar e disse que falou com você".

Ao analisar a mensagem, a Polícia Federal ressalta que "quanto à 163 MS observa-se que a CCR foi vencedora do leilão referente ao trecho da BR 163 no Mato Grosso do Sul com deságio de 52,74%, sendo que cerca de 20 dias antes a Odebrecht foi vencedora da licitação da BR 163 no trecho do Mato Grosso com deságio de 52%".

Outro lado

Em nota, a senadora disse que comum parabenizar os vencedores. "Enquanto ministra-chefe da Casa Civil, coordenei e acompanhei o processo de concessões de rodovias, aeroportos e portos através do Programa de Investimentos em Logística (PIL) do Governo Federal. Acompanhei todos os leilões. Ao final de cada leilão, liguei para todos os vencedores, agradecendo e parabenizando pelo vencimento da concessão."

A CCR também se manifestou em nota em que afirma que "o sucesso da 3ª Etapa de concessões de rodovias federais, da qual faz parte o trecho sul-mato-grossense da BR-163, foi comemorado pelo governo federal e pelo setor como indicação de retomada dos investimentos em infraestrutura rodoviária, sobretudo com disputas que resultaram em grande deságio".    
 
A empresa acrescenta ainda que "fartas análises e declarações de membros do governo federal, publicadas por todos os veículos de comunicação, demonstram a avaliação positiva do leilão sob a perspectiva de reinício do ciclo de investimentos em infraestrutura. Declarações positivas de ministros de Estado na ocasião não devem se configurar, portanto, em elemento para suposições infundadas".
 
"Resultados positivos para uma companhia que tem como propósito estratégico prestação de serviço em infraestrutura são razões para comemorações, e isso é o que revela a troca de diálogo entre o diretor do Grupo CCR e o ex-presidente do Grupo Andrade Gutierrez", acrescenta a nota ainda. 
 
E a defesa de Otávio Marques de Azevedo informa que "todas as mensagens de seu celular são de conhecimento das autoridades e já foram objeto de questionamentos em depoimento prestado na Procuradoria Geral da República, no âmbito do acordo de colaboração que vem sendo rigorosamente cumprido".
 
Em nota, o advogado Juliano Breda esclarece ainda que "Otávio Azevedo já prestou esclarecimentos sobre as circunstâncias das mensagens e reafirma o compromisso com o seu dever legal de dizer a verdade. Sempre que necessário, voltará a colaborar plenamente com as investigações no interesse da Justiça".

Rodovias

A Lava Jato investiga se o esquema de cartel e corrupção descoberto na Petrobras foi espelhado em outros negócios do governo federal, como no setor elétrico e nos transportes, em especial nas concessões de rodovias, aeroportos e ferrovias.

As suspeitas envolvendo corrupção nestes contratos surgiram já no início das investigações da operação. "O que acontece na Petrobras acontece no Brasil inteiro, nas rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrelétricas", afirmou em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro o primeiro delator da operação, o ex-diretor de Abastecimento da estatal petrolífera Paulo Roberto Costa, em outubro de 2014.

O Relatório de Análise de Mídia Apreendida Nº 882/2015, da PF, foi anexado nesta segunda-feira, 11, ao inquérito da Andrade Gutierrez, que corre em Curitiba. Azevedo e outros executivos da empreiteira fecharam acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, no qual confessam ter pago propinas em contratos como as obras das usinas de Belo Monte, no Pará, de Angra 3, no Rio, no Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), da Petrobras, em estádios da Copa.