Topo

Ao convencer famílias a não pagar resgates, sequestro virou mau negócio

Victor Oliveira Amorim, detido acusado de sequestrar Aparecida Schunk, sogra de Bernie Ecclestone - Nelson Antoine/Folhapress
Victor Oliveira Amorim, detido acusado de sequestrar Aparecida Schunk, sogra de Bernie Ecclestone Imagem: Nelson Antoine/Folhapress

Em São Paulo

02/08/2016 08h48

O jornal "O Estado de S. Paulo" conversou com Wagner Giudice, ex-diretor da Divisão Antissequestro, para comentar sobre como agiu a polícia para libertar Aparecida Schunck Flosi Palmeira, de 67 anos, sogra de Bernie Ecclestone, presidente da empresa que administra a Fórmula 1. Ela ficou em cativeiro por nove dias. 

Os sequestradores mantinham contato com família apenas por e-mail e pediram inicialmente 168 milhões de euros. Desse total, parte teria de ser paga em reais (R$ 5 milhões) e outra em dólares (US$ 5 milhões). Confira a entrevista a seguir:

Pergunta - O senhor assumiu a Divisão Antissequestro em 2001. Havia 300 sequestros por ano em São Paulo. Como combateu essa crise?

Wagner Giudice - Quando chegamos à divisão, havia três, quatro casos por dia. Tomamos uma decisão: convencer as famílias a não pagar o resgate. Fazê-las acreditar que a polícia ia encontrar a vítima e prender os bandidos. Tínhamos de mostrar aos criminosos que o sequestro era um crime de alto risco. Além disso, o efetivo policial cresceu e chegamos a ter 150 homens na divisão.

Pergunta - Mas isso demorou para mudar. Em 2002, a polícia registrou recorde de sequestros. Havia o problema de convencer as famílias a prestar queixa do crime. Muitas pagavam o resgate e não avisavam a polícia. Quando isso mudou?

A primeira comemoração nossa foi quando passamos um dia sem sequestro. Aos poucos, as famílias perceberam que só com a prisão das quadrilhas elas não continuariam reféns dos bandidos. No primeiro ano, prendemos 1.355 sequestradores. Em 2008, apenas 2% do valor dos resgates pedidos foi efetivamente pago.

Três em cada quatro sequestros terminavam sem pagamento e com a prisão dos criminosos. Os bandidos gastavam dinheiro com a manutenção de um cativeiro, não recebiam nada e iam para a cadeia. O crime se tornou um mau negócio. Só aventureiros se arriscavam. Deixei a divisão em 2010, mas esse trabalho permanece assim até hoje.

As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".