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Santos dedica Nobel ao povo e diz que prêmio é estímulo para a paz na Colômbia

19.set.2016 - O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, entrega ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, uma cópia do acordo de paz assinado com as Farc, durante a Assembleia-Geral da ONU - Craig Ruttle/AP
19.set.2016 - O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, entrega ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, uma cópia do acordo de paz assinado com as Farc, durante a Assembleia-Geral da ONU Imagem: Craig Ruttle/AP

Em Oslo

07/10/2016 08h49

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou nesta sexta-feira (7) que estava profundamente honrado por ter recebido o Nobel da Paz. A autoridade dedicou o prêmio a seu país e disse que ele é um grande estímulo para a paz. "Eu recebo isso com grande emoção", disse Santos à Fundação Nobel em entrevista por telefone divulgada em sua conta no Facebook. "Este é um grande, grande reconhecimento para meu país. Estou eternamente grato."

Santos foi agraciado por seus esforços para acabar com uma guerra civil de mais de 50 anos na Colômbia. O governo de presidente conseguiu fechar um acordo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para que a guerrilha entregasse suas armas, porém os termos da iniciativa foram rejeitados em referendo no país no último domingo.

"Eu recebo o prêmio em nome dele: o povo colombiano que tem sofrido muito nesta guerra", disse Santos hoje. "Especialmente os milhões de vítimas que sofreram nesta guerra que está prestes a terminar."

Na quarta-feira, milhares de colombianos fizeram marchas pelas ruas do país para pressionar o governo, as Farc e a oposição a chegarem a um consenso para salvar a iniciativa. Um grupo de algumas dezenas de ativistas acampa na Plaza Bolívar pelo mesmo motivo.

Várias autoridades da Organização das Nações Unidas parabenizaram Santos, durante uma entrevista coletiva regular da entidade em Genebra. Porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU, Rupert Colville disse esperar que o prêmio possa dar um "impulso" à paz no país sul-americano. Em Berlim, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, parabenizou Santos, qualificando-o como um "homem com uma visão para seu país", disse o porta-voz Steffen Seibert a repórteres.

Muitos na Colômbia acreditavam que Santos ganharia o Nobel da Paz após a assinatura do acordo de paz com as Farc em 26 de setembro, diante de uma plateia com uma série de líderes internacionais e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Eles avaliavam, porém, que as chances haviam diminuído com a rejeição ao acordo em referendo em 2 de outubro.

O Comitê Norueguês do Nobel afirmou que a rejeição do acordo com as Farc não significa o fim do processo de paz na Colômbia. "O referendo não foi um voto a favor ou contra a paz", disse o comitê. "O que o lado do 'não' rejeitou não foi o desejo pela paz, mas um acordo de paz específico", afirmou a entidade. Segundo o comitê, mesmo com a derrota na votação popular, o presidente conseguiu levar "o sangrento conflito significativamente mais perto de uma solução pacífica".

Santos, de 65 anos, é um improvável pacificador. Com estudos em Harvard e integrante de uma das famílias mais ricas da Colômbia, ele foi ministro da Defesa há uma década e foi o responsável por algumas das maiores derrotas militares das Farc. Um dos episódios famosos do período foi uma operação militar colombiana que entrou em território do Equador para matar um importante líder rebelde e outra foi o resgate de três norte-americanos que eram reféns dos rebeldes havia mais de cinco anos.

No âmbito do acordo negociado, os rebeldes que entregassem suas armas e confessassem seus crimes de guerra não iriam para a prisão. Além disso, as Farc teriam direito a dez vagas no Congresso até 2026, para que o grupo fizesse uma transição para se tornar um movimento político.

A guerra civil já matou mais de 200 mil colombianos. O comitê do Nobel disse que o prêmio deve ser visto como "um tributo para o povo colombiano que, apesar das grandes dificuldades e dos abusos, não desistiu da esperança de uma paz justa, e para todas as partes que contribuíram para o processo de paz". O comitê não citou o líder das Farc, Rodrigo Londoño. Santos e Londoño firmaram o acordo de paz no mês passado. (Com a Associated Press)