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Mulheres negam acordo para fim da greve no ES: 'Não participamos dessa negociação'

Mulheres de policiais ocuparam as entradas de batalhões - Gilson Borba - 7.fev.2017/UOL
Mulheres de policiais ocuparam as entradas de batalhões Imagem: Gilson Borba - 7.fev.2017/UOL

10/02/2017 23h47

As mulheres dos policiais militares amotinados no Espírito Santo dizem que o movimento continua, apesar de o governo ter anunciado um acordo com a categoria nesta sexta-feira (10).

"Esse encontro foi entre as associações de policiais. Mas a paralisação é das mulheres. Nós não participamos dessa negociação. Continuaremos aqui", afirmou uma das lideranças do movimento, que se identifica apenas como Gilmara.

Ela participou da reunião de 10 horas com representantes do governo, na quinta-feira (9), e foi a primeira a deixar o encontro. Revoltada, afirmou que o governo se manteve irredutível ao não se comprometer a reajustar os salários dos policiais.

As mulheres de PMs permanecem na porta do Quartel Central, no bairro Maruípe, e impedem com tendas a entrada e saída de carros.

Governo do ES pede que policiais 'conversem com suas mulheres'

UOL Notícias

Mais cedo nesta sexta, o governo do Espírito Santo informou que chegou a um acordo para encerrar, a partir das 7h da manhã deste sábado (11), o movimento de parentes de policiais que impedem o trabalho dos oficiais há uma semana.

No entanto, o acordo foi firmado com associações de policiais, e não com as famílias. Segundo o governo, assinaram o compromisso a Assomes (Associação dos Oficiais Militares do Estado do Espírito Santo), a ACS (Associação de Cabos e Soldados), a ABMES (Associação dos Bombeiros Militares do Espírito Santo) e a Asses (Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia e Bombeiro Militar do Espírito Santo).

O secretário estadual de Direitos Humanos, Júlio César Pompeu, pediu que os policiais "conversem com suas esposas" e voltem ao trabalho. Ao longo da semana, o governo chegou a chamar o movimento de "greve branca", já que a Constituição não permite que militares façam este tipo de movimento.

"Quem fez juramento de honra, de defesa da sociedade, são os policiais militares. Não são suas esposas", disse o secretário.

Governo não garante reajuste

Depois de mais uma rodada de negociação, o governo não se comprometeu com o reajuste salarial, uma das principais reivindicações do movimento. "Sem aumento da arrecadação, não há como [aumentar

O acordo firmado também prevê que o governo suspenda a punição a PMs amotinados, desde que voltem ao trabalho até as 7h de sábado. Mesmo assim, o indiciamento de 703 PMs pelo crime de revolta, anunciado mais cedo pela cúpula de segurança do Estado, não será extinto, afirmou o secretário.

O governo também se comprometeu a apresentar um cronograma para cumprir promoções previstas em lei e ainda não cumpridas, assim como a formação de uma comissão para avaliar a carga horária de policiais e bombeiros.

Mais de 100 mortos em uma semana

Desde o início da paralisação, ao menos 112 pessoas foram assassinadas no Estado, segundo a Polícia Civil. Além dos assassinatos, saques e assaltos foram registrados com frequência em várias cidades. Militares das Forças Armadas e da Força Nacional foram convocados para tentar garantir a segurança no Estado. O poder de polícia chegou a ser transferido ao Exército.

Ao longo da semana, a rotina dos capixabas mudou drasticamente, já que ficaram sem trabalhar nem estudar. Ônibus, escolas, unidades de saúde, agências bancárias, repartições públicas e a maior parte do comércio praticamente não funcionaram desde que os protestos começaram.

"Eu não sei se elas estão conscientes do que está acontecendo. E do que pesa sobre os ombros delas", disse o secretário Pompeu sobre as mulheres que participaram do movimento.

O presidente Michel Temer disse em nota que condena "a paralisação ilegal da polícia militar que atemoriza o povo capixaba", e afirmou que "o direito à reivindicação não pode tornar o povo brasileiro refém".

Entenda a crise no Espírito Santo

No sábado (4), parentes de policiais militares do Espírito Santo montaram acampamento em frente a batalhões da corporação em todo o Estado. Eles reivindicavam melhores salários e condições de trabalho para os profissionais.

Na segunda-feira (6), o movimento foi considerado ilegal pela Justiça do Espírito Santo porque ele caracteriza uma tentativa de greve, o que é proibido pela Constituição para militares. As associações que representam os policiais deverão pagar multa de R$ 100 mil por dia pelo descumprimento da lei.

Ao longo de todo o movimento, a ACS-ES (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo) afirmou não ter relação com o movimento. Segundo a associação, os policiais capixabas estão há sete anos sem aumento real, e há três anos não se repõe no salário a perda pela inflação.

A Sesp-ES (Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social do Espírito Santo) contesta as informações passadas pela associação. Segundo a pasta, o governo do Espírito Santo concedeu um reajuste de 38,85% nos últimos 7 anos a todos os militares e a folha de pagamento da corporação teve um acréscimo de 46% nos últimos 5 anos.