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Garotinho priorizava Odebrecht em obras em Campos, afirma delator

Planilhas apontam pagamentos de caixa dois; Garotinho e Rosinha negam - Inácio Teixeira/Coperphoto
Planilhas apontam pagamentos de caixa dois; Garotinho e Rosinha negam Imagem: Inácio Teixeira/Coperphoto

Luiz Vassallo

São Paulo

18/04/2017 12h29

O executivo da Odebrecht Leandro Andrade Azevedo, responsável por contratos da construtora com a Prefeitura de Campos dos Goytacazes durante a gestão Rosinha Garotinho (PR-RJ), afirmou, em delação premiada, ter se reunido com o ex-governador do Rio Anthony Garotinho para tratar de atrasos em obras do município, sempre que os pagamentos atrasavam.

De acordo com o delator, como reação às cobranças, Garotinho, marido da prefeita, "determinava prioridade" aos pagamentos à construtora aos secretários municipais. A Odebrecht obteve dois contratos cujos valores somados chegam a R$ 800 milhões para a construção de casas populares em Campos.

De acordo com o executivo Benedicto Júnior, o "BJ", a cidade no Norte Fluminense representava "potencial de desenvolvimento" por receber royalties do petróleo. "Por essa razão, considerando a influência de Anthony Garotinho, era de interesse da companhia tratamento privilegiado no referido município. Além disso, havia forte expectativa de que Anthony Garotinho poderia voltar ao governo do estado do Rio ou alcançar cargos políticos mais altos. Tais circunstâncias justificaram os pagamentos ilegais em seu benefício e dos candidatos por ele indicados", disse.

O conjunto de planilhas de depoimentos entregue pela empreiteira no inquérito que investiga Garotinho dá conta de que R$ 12 milhões foram pagos, por meio de caixa dois, ao ex-governador do Rio, para financiar campanhas eleitorais dele e da mulher, Rosinha, no período entre 2008 e 2014.

Somente para as campanhas de Rosinha Garotinho à Prefeitura de Campos, em 2008 e 2012, os executivos dizem ter repassado R$ 3,3 milhões por meio de caixa dois. Os valores eram operacionalizados pelo departamento de propinas e repassados, via doleiros, em dinheiro vivo, ao escritório pessoal de Garotinho. De acordo com os relatos, o local, no centro do Rio de Janeiro, é a sede da produtora Palavra de Paz, pertencente ao ex-governador.

Uma das bandeiras de campanha e promessa política de Rosinha para Campos de Goytacazes era a construção de moradias populares. Em 2009, quando assumiu o cargo, a então prefeita anunciou o "Programa Morar Feliz I", para erguer mais de 5.000 casas, no valor de R$ 357 milhões.

Os depoimentos de executivos dão conta de que a Odebrecht tinha "expertise" nessa modalidade de obra e, estudos feitos pela construtora apontavam que somente ela poderia executar as obras nos padrões do edital lançado pela prefeitura, à época. "Pelas condições nele [no edital] previstas, acredito que foi levado em consideração o interesse e capacitação da Odebrecht nesta obra", afirmou o delator Leandro Azevedo.

"Para que não participássemos sozinhos da licitação, pedimos para que a Carioca Engenharia e a Queiroz Galvão darem um preço acima do nosso", relata o ex-diretor de contratos no interior do Rio.

O programa Morar Feliz teve ainda continuidade no segundo mandato de Rosinha Garotinho. No edital divulgado em 2012, a construção de 4.500 casas estava prevista, com o custo de R$ 476 milhões aos cofres públicos. Dessa vez, a Odebrecht participou sozinha da concorrência e, mais uma vez, venceu o edital.

O executivo Leandro Azevedo disse ter comparecido a diversas reuniões em que houve cobranças referentes a atrasos nos pagamentos da prefeitura à empreiteira, quando era diretor de contratos no interior do Rio.

"Essas reuniões geralmente se davam para reportar algum atraso de pagamento em decorrência de contratos que tínhamos em Campos de Goytacazes, o que resultava na determinação por ele para que fosse dada prioridade aos pagamentos. Presenciei algumas vezes, Garotinho telefonando para os secretários da Fazenda durante a gestão de Rosinha [Suledil Bernardino da Silva e Francisco Arsenio de Mello Esquef] e pedindo que tivéssemos preferência na regularização de pagamentos em atraso, o que de fato aconteceu".

Outro lado

Por meio de nota, Garotinho e Rosinha rechaçaram as acusações dos delatores. "Os ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho negam que tenham recebido qualquer contribuição irregular da Odebrecht. Como os próprios delatores afirmaram, não houve benefício pessoal para eles ou favorecimento à empresa em nenhuma obra. Afirmam ainda que, se a petição virar inquérito, ficará claro que os delatores estão mentindo, já que não apresentaram nenhuma prova do que falaram".