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Crime organizado muda estratégia para abastecer os usuários de crack em SP

Usuários de droga ocupam a Praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, depois da desocupação da Cracolândia - Bruno Santos/ Folhapress
Usuários de droga ocupam a Praça Princesa Isabel, no centro de São Paulo, depois da desocupação da Cracolândia Imagem: Bruno Santos/ Folhapress

Felipe Resk e Luiz Fernando Toledo

São Paulo

26/05/2017 08h47

A estratégia do crime organizado para abastecer os usuários de crack na região central de São Paulo mudou. Se antes havia uma "feira livre" na Cracolândia - com barracas equipadas até com máquinas de cartão de crédito -, os traficantes agora usam motocicletas para fazer entrega de entorpecentes. É o que afirma o secretário da Segurança Pública, Mágino Alves.

Até a ação policial de domingo, o comércio de crack na região, um reduto da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), movimentava cerca de R$ 500 mil por dia, ou R$ 180 milhões por ano, de acordo com o Estado. Nas barraquinhas, os usuários compravam 19 quilos da droga por dia.

Depois da megaoperação que lacrou pontos de refino e de distribuição de drogas e prendeu 53 pessoas, no domingo, os usuários da Cracolândia se espalharam pela cidade. Com a ação, a maior parte dos usuários de droga passou a se concentrar na Praça Princesa Isabel, a menos de 600 metros do fluxo antigo. O local está entre os mapeados pela Prefeitura.

Apesar de haver uma base da Polícia Militar na Princesa Isabel, a droga continua chegando ao novo "fluxo". Segundo Mágino, no entanto, o volume é em menor escala. "Está entrando droga? Está, porque eles (os traficantes) passam por lá com moto e jogam a droga", afirmou.

Operação ajuda polícia a identificar traficantes

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Comerciantes da região estão fechando as lojas mais cedo e já cogitam abandonar o local por causa da migração dos dependentes. Dona de um restaurante na frente da praça, Sirlene Saad diz que tem fechado o comércio antes das 17 horas para evitar o fluxo. "As pessoas estão com medo, o público está diminuindo. Lá (Rua Helvetia), eles tinham um espaço deles, mas aqui é nosso, nós pagamos impostos", reclama.

Ela conta que precisa passar entre os usuários na praça para entrar no prédio onde mora. "Eles tomaram a calçada. Em casa, eu estou tendo de dormir em outro cômodo, porque a janela do meu quarto fica de frente para a rua e entra um cheiro insuportável de droga", conta.

Futuro

O secretário afirmou não haver operação prevista no local, mas reforçou que a prioridade da pasta é de combater o tráfico de entorpecentes - e não abordar os usuários. "A gente vai continuar fazendo isso, para que a droga não chegue para aquele grupo de pessoas." Nesta semana, um suspeito foi preso em flagrante por tráfico.

Há duas semanas, o Estado revelou que o PCC havia implementado um modelo semelhante ao da concessão de franquias para comandar o tráfico de drogas na Cracolândia.

"O crime organizado levava o entorpecente para um lugar e distribuía para todos os franqueados dele", disse Mágino. "Nós acabamos com esse tipo de coisa. A logística deles, hoje, está completamente afetada."

O titular da Segurança Pública afirmou ainda que o reforço de policiamento continua a ser a principal estratégia para evitar a formação de uma nova Cracolândia nos moldes da anterior. "Isso vai permitir que a gente diminua cada vez mais o ingresso de drogas na região central", disse. "Nós vamos continuar lá até que a região esteja totalmente estabilizada." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.